Dois textinhos sobre este tempo

Por Antônio Claret Fernandes, militante do MAB em Minas Gerais I. Jovem democracia És tão jovem! Por que tantas rugas? E essas cicatrizes? E o teu corpo, obeso, inchado, quase […]

Por Antônio Claret Fernandes, militante do MAB em Minas Gerais

I. Jovem democracia

És tão jovem! Por que tantas rugas? E essas cicatrizes? E o teu corpo, obeso, inchado, quase prostrado na cadeira?

Teu rosto está velho e cansado, teu nervo à flor da pele.

Diagnósticos apontam que tua velhice precoce é por ter dormido com a burguesia, tuas cicatrizes são da rebeldia – dos golpes, no namorico com a liberdade – e tua obesidade é pela vida sedentária.

Usurpadores te querem fazer plástica e ponte pra melhorar-te o rosto e fazer o sangue do capital fluir-te livre na veia.

Não te iludas! És tão jovem! Remendos não te ficam bem e podem reduzir-te a mera formalidade.

Levanta-te, abre a janela, mira o sol: o dia está amanhecendo! Põe-te na estrada, que teu sangue vai pulsar forte até a democracia plena.

II. A cunha

 Quem és tu, Cunha? Duro feito bronze com frieza de pedra, arredas com cinismo quem se põe no teu caminho, com o Direito a esvair-se na Direita arrogante, mas o tempo amadurece, cresce o clamor popular – um mil, dez mil, um milhão – e cais podre de tudo, como coisa que se usa e depois se joga fora. O que és, cunha? Ferramenta nesta hora, em que a lama chega ao teto do consenso de classe, explicitando a divisão entre opressor e oprimido, hás de ser temperada na energia popular, afiada no esmeril da democracia plena, cravada bem profunda no espeço tronco da história – pois ‘quem sabe faz a hora!’ -, abrindo-lhe de alto abaixo, sem Temer, sem temer, feito aço especial,  fazendo luta-ponte para o tempo comunal.