Inauguração de Belo Monte é marcada por protesto contra o golpe

A presidenta Dilma Rousseff inaugurou hoje (5 de maio) a hidrelétrica de Belo Monte, na região do Xingu, Pará, em uma cerimônia com os trabalhadores da barragem, sociedade civil e […]

A presidenta Dilma Rousseff inaugurou hoje (5 de maio) a hidrelétrica de Belo Monte, na região do Xingu, Pará, em uma cerimônia com os trabalhadores da barragem, sociedade civil e autoridades locais. Os movimentos da Frente Brasil Popular estiveram presentes no ato para denunciar a tentativa de golpe no país, mostrar apoio à presidenta e também para cobrar as medidas para mitigar os impactos da construção da hidrelétrica na região.

“Hoje não é uma data comemorativa para nós, e sim uma data de luta. Denunciamos o processo de golpe, pois sabemos que os golpistas vão violar ainda mais os direitos dos atingidos por barragens, mas não podemos deixar de criticar a forma como Belo Monte foi construída”, afirmou Edizângela Barros, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

No início da manhã, moradores da lagoa do bairro Independente 1 (Altamira) bloquearam a via de acesso a hidrelétrica, como forma de chamar atenção para a situação das famílias, que vivem em área alagadiça da cidade de Altamira, sofrendo com o impacto do aumento do lençol freático devido à barragem. Diante do compromisso da representação do governo federal em fazer uma vistoria à área, a rodovia foi liberada antes do início da cerimônia.

Da plateia, os movimentos estenderam faixas com frases como “Pelos direitos dos atingidos por barragens de Belo Monte, não ao golpe!” e puxaram palavras de ordem em apoio a Dilma e contra Eduardo Cunha e a Rede Globo. Os operários da barragem, que a princípio não estavam no local da cerimônia mas depois foram chamados a se aproximar, gritavam “Dilma, eu te amo” e mostravam cartazes com a frase “A esperança venceu o medo”.

As mulheres da Frente Brasil Popular entregaram uma carta à presidenta manifestando apoio a seu governo e também exigindo os direitos dos atingidos da região. “De um lado, consideramos a geração de energia necessária, mas por outro, não podemos deixar de falar das violações dos direitos humanos na construção de barragens no Brasil, pois estas são estruturais nesse modelo energético. O tão necessário desenvolvimento precisa garantir os direitos da classe trabalhadora em todas as suas dimensões, em especial em regiões sensíveis como a Amazônia. Infelizmente, Belo Monte não foi uma exceção à regra”, diz a carta.

Leia a seguir a carta das mulheres da Frente:

Altamira, 05 de maio de 2016

À Presidenta Dilma Rousseff,

Nós, mulheres da Frente Brasil Popular da Transamazônica e Xingu, gostaríamos de mostrar solidariedade à vossa excelência e defendemos a manutenção deste mandato para o qual foi democraticamente eleita. Somos contra esse golpe de Estado, disfarçado de “impeachment”, e defendemos a democracia, que gerações de lutadores lutaram incessantemente pra construir.

De um lado, consideramos a geração de energia necessária, mas por outro, não podemos deixar de falar das violações dos direitos humanos na construção de barragens no Brasil, pois estas são estruturais nesse modelo energético. O tão necessário desenvolvimento precisa garantir os direitos da classe trabalhadora em todas as suas dimensões, em especial em regiões sensíveis como a Amazônia. Infelizmente, Belo Monte não foi uma exceção à regra, como reconheceu o próprio Conselho Nacional dos Direitos Humanos.

Nesse contexto, ao mesmo tempo em que fazemos a defesa desse governo, não podemos deixar de fazer as críticas à forma como Belo Monte foi construída. Para a região do Xingu, acreditamos que ainda há muito o que fazer para de fato garantir os direitos dos atingidos e atingidas de toda a região a melhorarem de vida, pois o que até o momento foi feito não é suficiente para mitigar os impactos de uma obra da grandeza de Belo Monte. São medidas urgentes como a efetivação do projeto de saneamento, a garantia do bem-estar das famílias remanejadas nas áreas urbana e rural, o reconhecimento dos impactos na pesca e navegação, principalmente na Volta Grande do Xingu, reassentamento das comunidades ainda não remanejadas, medidas para combater a violência que atinge principalmente jovens e mulheres, fortalecimento da Funai e proteção aos povos indígenas, entre tantas outras.

Por fim, nessa defesa dos valores democráticos, reforçamos a necessidade da garantia de uma Política Nacional de Direitos dos Atingidos por Barragens (PNAB), como forma de garantir proteção a todos os impactados pelas obras em todo o país. Temos a consciência de que caso os golpistas assumam o governo, a tendência é o aumento das violações aos direitos e a retirada de conquistas históricas da classe trabalhadora, pois conhecemos bem a prática desse grupo do PMDB incrustrado desde sempre no setor elétrico. Não vemos contradição entre denunciar esse golpe e defender nossos direitos.

EM DEFESA DOS ATINGIDOS POR BELO MONTE

EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DOS DIREITOS DA CLASSE TRABALHADORA

NÃO AO GOLPE!

Em solidariedade,

MULHERES DA FRENTE BRASIL POPULAR – TRANSAMAZÔNICA E XINGU

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