Atingidas por barragens se mobilizam em todo Brasil

No Dia Internacional de Luta das Mulheres, atingidas por barragens realizam manifestações para cobrar a diminuição das tarifas de energia elétrica, punição à Samarco (Vale/BHP Billiton) pelo crime no rio […]

No Dia Internacional de Luta das Mulheres, atingidas por barragens realizam manifestações para cobrar a diminuição das tarifas de energia elétrica, punição à Samarco (Vale/BHP Billiton) pelo crime no rio Doce e pelos direitos das populações atingidas por barragens.

Nesta terça-feira (8), ocorrem ações em 17 estados, das cinco regiões do Brasil, todas protagonizadas pelas mulheres. De acordo a coordenadora nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, Nívea Diógenes, este é um momento crucial para as mulheres. “Enquanto observamos um grande levante contra as opressões de gênero no Brasil, temos também verificado uma grande ofensiva conservadora. É um momento crucial para a nossa emancipação e não podemos abaixar a guarda”, opina Nívea.

Nas pautas específicas das atingidas por barragens, a coordenadora avalia que o principal é abaixar o preço da luz. “Sabemos como funciona esse sistema patriarcal, no qual as mulheres arcam com os aumentos dos serviços. São as mulheres que pagam as contas de luz e também são elas que estendem sua jornada de trabalho, caso tenha que diminuir o consumo devido à elevação do preço da luz”, afirma Nívea.

Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, atos nacionais denunciam o crime cometido pela Samarco (Vale/BHP Billiton) na Bacia do rio Doce. Passados 120 dias do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, que causou a morte de 19 pessoas, ninguém foi punido.

Além disso, as atingidas se perguntam em todas as ações: “Onde está Nicinha?”. A militante do MAB de Rondônia, atingida pela hidrelétrica de Jirau, está desaparecida desde o dia 7 de janeiro e até o momento não houve nenhuma resposta das autoridades locais.

Confira a carta escrita pelas atingidas:

 

Carta das mulheres atingidas por barragens ao povo brasileiro

Neste Dia Internacional de Luta das Mulheres, nós, mulheres atingidas, organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), denunciamos que o atual modelo do setor elétrico brasileiro continua violando os direitos das populações e das mulheres em especial. Nossos direitos são negados, sofremos perseguição, violência e até assassinatos. É muito triste, mas até hoje não há uma política que garanta os direitos das atingidas e atingidos por barragens no Brasil.

Empresas e governos dizem que garantir direitos afugenta os “investidores”.

Esta situação está na base dos grandes crimes sociais e ambientais praticados. Sendo que o último ocorrido no Vale do Rio Doce em Minas Gerais, nos causa grande tristeza e indignação. A lama matou 19 pessoas, destruiu a vida de milhares de pessoas e a natureza.

Nós, atingidas por barragens, somos expulsas de nossas terras para a produção de energia, somos vítimas dos crimes sociais e ambientais e o povo brasileiro é vítima dos altos preços nas contas de luz.

Sabemos que custa barato produzir energia no Brasil, mas o “preço da luz é um roubo”.  Mais de 80% da energia gerada é à base de água dos rios com barragens, entretanto o povo paga uma das tarifas mais caras do mundo. Ou seja, pagamos como se estivéssemos produzindo com base no petróleo.

 O povo brasileiro está pagando entre R$ 600,00 até R$ 1.000,00 por 1.000 kWh, ou seja, 25 vezes mais do que o custo de produção, enriquecendo as grandes empresas e bancos que atuam no setor. O preço da luz poderia ser muito mais barato no Brasil.

Isso acontece porque, com a privatização do setor elétrico, a energia tornou-se uma mercadoria e passou a ser disputada pelas grandes empresas que atuam no setor e seu preço está referenciado pelo mercado internacional.

O lucro das empresas e dos bancos tem sido cada vez mais alto. Nos últimos dois anos foram mais de R$ 30 bilhões que as empresas de geração e de distribuição ganharam com o setor elétrico. A maior parte deste dinheiro foi enviada para fora do Brasil como remessa de lucros.  Além disso, os mais ricos são mais beneficiados porque recebem a energia subsidiada em contratos sigilosos, como tem sido o caso da Samarco (Vale/BHP Billiton).

Não bastasse isso, os mais ricos, aliados com a mídia golpista, querem dar um golpe nas trabalhadoras e trabalhadores para privatizar a energia, entregar o petróleo às empresas estrangeiras e ainda retirar o ganho do povo, para os patrões explorarem ainda mais. Nós afirmamos: Não vai ter golpe e nem privatizações! Vai ter é muita luta!

Por isso tudo é que estamos em luta e queremos o teu apoio e tua participação para:

– Baixar o preço da luz e melhorar a qualidade da energia, exigindo isso do governo e das empresas.

– Diminuir os impostos nas contas da energia elétrica.

– Para que a energia volte a ser controlada de forma pública pelas empresas do Estado.

– Garantir os direitos das atingidas por barragens e de todos os trabalhadores/as.

– Contra as privatizações da energia elétrica e do petróleo.

 

Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular!

O preço da luz é um roubo e tira a comida do povo!

Mulheres, água e energia não são mercadorias!

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