Atingidos pela Samarco querem cartão subsistência e garantias de reassentamento

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) continua o trabalho de organizar as famílias que foram atingidas pela Samarco na cidade de Barra Longa. Após 70 dias do rompimento da […]

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) continua o trabalho de organizar as famílias que foram atingidas pela Samarco na cidade de Barra Longa. Após 70 dias do rompimento da barragem de Fundão, que fez desaparecer o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, devastou regiões inteiras, matou o rio Gualaxo do Norte, o Rio do Carmo e toda a extensão do Rio Doce, a lama continua gerando impactos na cidade.

No dia 5 de janeiro, o MAB e o Movimento Eclesial Popular Evangélico (MEPE) realizaram um mutirão de visitas em todo o distrito de Gesteira e nas localidades do entorno. Mais de 50 famílias foram visitadas. Os militantes encontraram muitas situações complicadas, relatos impressionantes do dia da tragédia e diversas violações de direitos humanos.

Atingidos em mobilização em Barra Longa

À noite, a comunidade se reuniu e realizou uma Caminhada Celebrativa que fez a memória dos 2 meses da tragédia, mas também renovou as esperanças e a certeza de que a organização popular é a única saída para garantir os direitos. Em Gesteira, além das famílias que perderam suas casas, uma escola pública foi destruída e a Igreja está interditada.

No dia 6, o mesmo grupo distribuiu mais de 400 impressos do Jornal Pastoral, editado pela Arquidiocese de Mariana, na área urbana de Barra Longa. À noite, mais de 60 pessoas realizaram uma assembleia do MAB em que foi feita uma retrospectiva dos passos do movimento até aquele dia, os limites e os desafios da organização. “Foi uma reunião importante. Lá reafirmamos a necessidade da organização para garantia dos nossos direitos. É uma decisão da comunidade construir o MAB aqui. Não vamos abrir mão de termos a nossa autonomia”, afirma Andréa, atingida e membro da coordenação do MAB na cidade.

Setenta dias depois, atingidos estão sem cartão e casas ameaçam desabar

Como continuidade do processo de organização encaminhado nesta assembléia dos atingidos, o MAB realizou nesta quarta-feira (13) uma mobilização na porta de um dos escritórios da Samarco na cidade. Cerca de 100 pessoas participaram reivindicando que a empresa se organize e entregue o cartão subsistência para as famílias que não receberam.

“A empresa cadastrou 230 famílias e somente entregou 140 cartões em um processo muito desorganizado. Além disto, sabemos que cerca de 50 famílias não foram sequer cadastradas e esta é uma violação de direito fundamental,” afirma Thiago Alves, membro da coordenação estadual do MAB que está morando na cidade para acompanhar os atingidos. O movimento organizou um levantamento próprio das famílias sem cartão. Cada uma delas assinou uma requisição que foi entregue coletivamente no escritório, em um total de 108 pedidos. A empresa anunciou que vai apresentar a resposta no dia 27 de janeiro.

À tarde, aconteceu a primeira reunião ano entre os atingidos organizados pelo MAB e a Samarco Mineração, mediados pelo Ministério Público, para debater a resolução dos problemas.  A questão mais discutida foram as reformas, reconstrução e reassentamento de moradias nos bairros Volta da Capela e Morro Vermelho.

Dois meses depois do rompimento, Dona Cremilda, moradora do Morro Vermelho, teve que sair de casa às pressas porque, após o rio do Carmo levar 10 metros de terreno, o muro desabou. A casa está com muitas rachaduras e a família está insegura para retornar. “Foi muito assustador. Tantos anos de vida para tudo se perder tão rápido. Agora estamos numa casa alugada, mas até quando? Queremos uma solução definitiva que garanta a nossa segurança”, afirma a atingida. No endereço, são 3 famílias atingidas porque as filhas da Dona Cremilda estão fazendo duas casas no segundo andar. Já investiram mais de 100 mil reais.

Este é um dos exemplos do que foi amplamente discutido. Os atingidos estão questionando a empresa,  que afirma que vai fazer reformas e não reconstrução e, tão pouco, reassentamento, mesmo no caso grave de Dona Cremilda. “O MAB compreende que esta é uma decisão da família e não da empresa. A equipe que atua aqui afirma não ter autonomia para decidir sobre estas questões, mas o que está em jogo é a vida das pessoas, não somente os sonhos, mas a segurança delas pelas próximas gerações”, comenta Thiago.

A próxima reunião de mediação será no dia 20 de janeiro, ás 14h, em Barra Longa.

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