Famílias do MAB e MST comemoram conquista da terra no RS

Famílias comemoram conquista da terra no RS, após ocuparem por mais de um ano a Fazenda São Clemente. Foto: Leandro Molina Comunicação Via Campesina RS A data 09 de outubro […]

Famílias comemoram conquista da terra no RS, após ocuparem por mais de um ano a Fazenda São Clemente.

Foto: Leandro Molina

Comunicação Via Campesina RS

A data 09 de outubro é o dia para nunca ser esquecidas por famílias Sem Terras e Atingidas por Barragens, que em luta conjunta do Movimento dos atingidos por Barragens (MAB) e do Movimento Sem Terra (MST), conquistaram um pedaço de terra e planejam produzir alimentos saudáveis e livres de venenos.

O novo assentamento é o primeiro conquistado na luta pela terra, de famílias expulsas pela construção de barragens e que não foram contempladas por empresas construtoras, onde foi batizado de Dom Orlando Dotti em homenagem ao bispo emérito de Vacaria, grande apoiador da Reforma Agrária e defensor da democracia.

Depois de passar alguns anos debaixo de lona preta, Marinez de Jesus Gasperin, 39 anos, atingida por barragem e mãe de seis filhos finalmente conquistou em luta conjunta o seu pedaço de terra. A agricultora é filha de reassentados e destaca que “a luta valeu a pena” e que agora também poderá garantir um futuro melhor à sua família. “Essa conquista é tudo para a gente que se criou na agricultura. Ela é a continuação do que vivemos com nossos pais na infância e o que eu vou repassar agora para os meus filhos”, disse.

O assentamento onde Marinez vai morar e produzir recebeu o nome de Dom Orlando Dotti e é o primeiro federal criado este ano no RS. Ele é fruto da luta de famílias ligadas ao MAB e ao MST, que ocuparam a Fazenda São Clemente em agosto de 2014. No último mês de setembro, o Governo Federal oficializou a aquisição de uma área de 2.045 hectares, por R$ 25,7 milhões.

Ato comemorativo

Para celebrar a conquista do assentamento Dom Orlando Dotti, o MST e o MAB organizaram um ato comemorativo, que contou com a participação de mais de 700 pessoas, além da secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Maria Fernanda Ramos Coelho; o presidente substituto do Incra, Leonardo Góes Silva; o superintendente regional do Instituto, Roberto Ramos; autoridades regionais, parlamentares e movimentos sociais.

Conforme o dirigente nacional do MST, Cedenir de Oliveira, a conquista reafirma a importância da Reforma Agrária para o país e a partir de agora é preciso planejar a produção e a construção de moradias, estradas e escolas às famílias beneficiárias, além de continuar a luta pela terra na região de Esmeralda.

“A nossa luta não para aqui, ela só vai parar o dia em que todas as famílias tiverem um pedaço de terra para poderem produzirem com dignidade”, defendeu Oliveira.

Já a representante da Via Campesina e dirigente nacional do MAB, Sônia Mara Maranho, abordou a necessidade da unificação dos movimentos sociais e a desapropriação de áreas no Brasil para famílias Atingidas por Barragens, Sem Terra e Pequenos Agricultores.

“Isolados não conseguimos nos organizar para irmos às ruas defender a democracia e a dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras. Precisamos continuar a nossa luta, porque nós perdemos somente quando desistimos. As lutas que continuamos, nós conquistamos”, argumentou Ana.

Assentamento Dom Orlando Dotti

Dom Orlando, 85 anos, também participou do ato comemorativo, ocasião em que cobrou dos governos federal, estadual e municipal apoio e sensibilidade com os Sem Terra, “para que se eles também se sintam cidadãos desse país.”

“O agricultor só tem dignidade e cidadania se tem terra. E toda a nossa luta converge para resgatar a dignidade das pessoas, para que tendo terra, elas se sintam cidadãs. Esse assentamento leva o meu nome, mas é dedicado a todos que nos ajudaram nessa luta”, explicou o bispo.

Estruturação do assentamento

Os beneficiários da Reforma Agrária serão contemplados com créditos iniciais para a instalação das famílias e a compra de bens duráveis de uso doméstico e equipamentos produtivos. Eles também receberão auxílio do Incra para o encaminhamento de projetos do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal.

Além disso, os agricultores terão assistência técnica por meio de entidades contratadas pelo Instituto, podendo desenvolver, através do Fomento, projetos produtivos com vistas à sua segurança alimentar e nutricional, e à geração de trabalho e renda.

Os assentados terão ainda a implantação ou recuperação da infraestrutura básica, como construção ou complementação de estradas vicinais, saneamento básico e a eletrificação rural, obras que são executadas por meio de licitações públicas ou convênios com estados e municípios, ou em parceria com outros órgãos governamentais.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro