Arpillera é a ferramenta utilizada no 2º Encontro Estadual de Mulheres Atingidas do Ceará
por Mércia Vieira, do Ceará Nos dias 18 e 19 de abril, cerca de 40 mulheres atingidas por barragens do estado do Ceará participaram do encontro realizado pelo Movimento dos […]
Publicado 20/04/2015
por Mércia Vieira, do Ceará
Nos dias 18 e 19 de abril, cerca de 40 mulheres atingidas por barragens do estado do Ceará participaram do encontro realizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Jaguaribara. Com a intenção de entender e debater cada vez mais as violações sofridas na construção das barragens, em especial na vida das mulheres, e fortalecer a organização e inserção das mulheres no movimento, o encontro se utilizou de uma técnica que está sendo absorvida como ferramenta de luta: as arpilleras.
A construção de arpilleras é uma forma lúdica e histórica de fazer denuncia, e no processo de ditadura militar no Chile foi considerada como material subversivo. As mulheres com agulha, linha e retalhos de pano contaram a história de opressão que o país passava, recriando imagens e suas próprias vidas, utilizando assim a arte da costura como um forte instrumento político de denuncia.
Para buscar a compreensão das violações sofridas pelas mulheres na construção das barragens, colocando-as como protagonistas de sua própria história, e debater a organicidade do MAB, a importância dos grupos de base, além do papel do machismo, patriarcado e da mulher na sociedade como um todo, as atingidas realizaram uma oficina para a costura de uma arpillera.
O encontro das mulheres e a realização da oficina fazem parte do projeto do MAB em parceria com a União Européia que busca fazer dossiês sobre as violações dos direitos dos atingidos e atingidas por barragens e, dentro desses debates, conseguirem empoderar as mulheres para serem protagonistas de sua própria história.
No Brasil, já foram realizadas mais de cem oficinas nos estados de Rondônia, Pará, Tocantins, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, que mobilizaram mais de 800 mulheres.
O espaço também proporciona que as mulheres se reconheçam e se vejam na outra. Desta vez provocou debates e denúncias sobre a forma como a barragem chegou até elas e como seus direitos foram negados, não sendo nem consideradas como atingidas. Além desse entendimento, foi possível perceber que mesmo nas diferentes comunidades, cidades e regiões os direitos que são negados às mulheres são muito semelhantes, quando não são os mesmos, e que os espaços de encontro e auto organização são fundamentais para que elas, dia-a-dia, rompam com as barreiras das opressões e violações, cada vez mais participando do movimento, das lutas, dos espaços de decisão fortalecendo assim a garra e importância dessas mulheres para a luta do povo, disse Suerda Almeida, da coordenação estadual do MAB.
O MAB também está buscando financiamento coletivo para realizar um documentário que narre as histórias de resistência e violações das atingidas por barragens através das arpilleras: