Todo apoio à demarcação da terra indígena do Povo Arara

Nós atingidos por barragens apoiamos a campanha solidária pela demarcação da terra indígena dos Arara da Cachoeira Seca, na região impactada pela hidrelétrica de Belo Monte. Em anexo, modelo de […]

Nós atingidos por barragens apoiamos a campanha solidária pela demarcação da terra indígena dos Arara da Cachoeira Seca, na região impactada pela hidrelétrica de Belo Monte. Em anexo, modelo de abaixo-assinado elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

O Povo Arara da Chachoeira Seca, Pará, apoiado pelo CIMI – Conselho Indigenista Missionário – está fazendo uma campanha pela demarcação de sua terra, que abrange parte dos municípios de Altamira, Uruará, Placas e Rurópolis, com uma população de 87 pessoas, com acesso fluvial, e tem as seguintes demandas conflituosas: invasão do território por grileiros e fazendeiros, assentamento irregular, extração ilegal de madeira, posseiros e os reflexos negativos da barragem de Belo Monte. Por causa do impacto dessa hidrelétrica, a demarcação das terras dos Arara faz parte das condicionantes, até o momento não cumprida apesar da obra avançada, com previsão do enchimento do lago no 1º semestre de 2015.

Considerados extintos desde a década de 1940, os índios conhecidos por ‘Arara’ no Vale do Médio Xingu voltaram à cena com a construção da Rodovia Transamazônica (BR 230), no início da década de 70. Houve muitos conflitos. Um dos fatos estarrecedores foi do índio idoso levado a Altamira, onde ficou exposto, preso numa gaiola, ‘admirado’ pelos transeuntes. Os ‘caçadores’, aparentemente com a missão de garantir carne de caça para os soldados, que construíam a estrada, tinham a função de matar os indígenas, e o grupo quase foi dizimado. Em 1987, é encontrado o último grupo Arara, apartado dos demais, agora na região da Cachoeira Seca.

Apesar de aldeados, os Arara da Cachoeira Seca agem e pensam como povo que vive na completa insegurança. Sua base alimentar está muito ligada ao assado, mantêm seu hábito de coletores, usam sistema de roça rústico, estão em iminente risco de perda da cultura e tradição. Depois de mais de 25 anos de contato, a educação aplicada na aldeia não é diferenciada e não respeita os seus costumes.

Essa iniciativa pela demarcação das terras dos Arara tem nome de campanha solidária. Primeiro por ser solidária com todos os povos indígenas que enfrentam situações semelhantes, entre eles os Parakanã, cuja terra precisa também ser demarcada, e os Juruna do Paquiçamba, que necessitam revisão dos limites de suas áreas. Em segundo lugar, por ser solidária com os camponeses vítimas de assentamento irregular por parte do Incra ou de fazendeiros em terras dos Arara. Os indígenas defendem que os camponeses enganados precisam ser reassentados pelo Estado brasileiro, com todos os seus direitos garantidos.

O caso dos Arara da Cachoeira Seca não é isolado. No dia 12 de outubro, em Audiência Pública com as famílias atingidas por Belo Monte, em Altamira, convocada pelo Ministério Público Federal, diferentes etnias denunciaram violação do Direito Humano dos indígenas por parte da Norte Energia (dona de Belo Monte) e do Governo federal. Atualmente são mais de 2 mil indígenas na cidade, a maioria empurrada da aldeia pela barragem. É comum vê-los perambulando pelas ruas, sem eira nem beira, deslocados, sofridos, alcoolizados, alguns na mendicância.

Em entrevista intitulada ‘Belo Monte: a anatomia de um etnocídio’, ao Jornal El País (01/12/14), a Promotora Thaís Santi fala da imbricação perversa entre Estado brasileiro e iniciativa privada, em Belo Monte, e denuncia o que chama de etnocídio indígena.

Esse etnocídio faz parte do mesmo processo de apropriação de bens naturais e exploração de mão de obra para acumulação de capital, que remonta à ‘descoberta’ da denominada terra brasilis e à Colônia. Por isso é apropriado chamá-lo de neocolonialismo.

A perspectiva da autodeterminação conquistada à custa de muita luta e incluída na Constituição de 1988 sofre fortes ataques com reais riscos de retrocesso, cedendo lugar à prática da incorporação, por causa da pressão de setores reacionários, presentes tanto nos governos quanto nas empresas, principalmente ligados ao agronegócio, mineração, madeira e barragem. Também o desenvolvimentismo, cuja principal moeda de troca para garantia de programas sociais é o bem natural, dá vazão a esse processo.

Fala-se muito em tempos novos, em diálogo, mas nem tanto! Até a metodologia de extinção dos povos indígenas ao longo de toda a história do Brasil é muito semelhante, incluindo três elementos principais: o preconceito, a violência física e psicológica e o folclore.

 Esses elementos se interpenetram e se complementam. O preconceito, ideologicamente internalizado no não índio e na sociedade em geral, cria o ambiente para a violência. Quem é preguiçoso não precisa de ‘tanta’ terra, quem é perigoso precisa ser eliminado, o ‘selvagem’ é um atraso de vida, isso tudo ‘justifica’ sua eliminação em nome da paz e do progresso e esconde o fato de que são os povos originários dessas terras.  O folclore, por sua vez, entra como um golpe de misericórdia na medida de sua ambiguidade: o mesmo processo exterminador que alimenta o preconceito e a violência contra os povos originários adora vê-los caracterizados, cobertos de folha, dançando, cantando, como uma ave engaiolada.

O indígena real enquanto pessoa, com suas contradições, com seu modo de vida construído ao longo de milhares de anos, em luta na defesa de seus direitos ou na condição de pedinte, incomoda muito. O indígena folclórico é ‘arte’, é ‘cultura’, ou seja, é um indígena morto.

Em anexo, modelo do abaixo assinado em apoio.

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