Igreja e movimentos unificam luta na Transamazônica
Áreas da Prelazia do Xingu (de Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Placas) e representantes do CIMI, MAB, CPT e CJP se reuniram nos dias 3 e 4 de maio, […]
Publicado 06/05/2013
Áreas da Prelazia do Xingu (de Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Placas) e representantes do CIMI, MAB, CPT e CJP se reuniram nos dias 3 e 4 de maio, em Placas, para buscar o fortalecimento da luta na Transamazônica, numa extensão de aproximadamente 500 km, entre Anapu e Rurópolis.
Essa área sofre os reflexos negativos de Belo Monte e de outros projetos de expansão do Capital na Amazônia, como é o caso do Agronegócio, das madeireiras e mineradoras e carecem de políticas públicas elementares apesar de estar do eixo do chamado desenvolvimento e progresso.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) denunciou que o INCRA assentou famílias em área indígena da Cachoeira Seca, e isso deixou os indígenas em situação extremamente vulnerável, motivando a invasão de fazendeiros e de madeireiros. A organização ainda relatou ainda a situação dramática dos indígenas na região de Belo Monte: as migalhas da Norte Energia e do Governo Federal são desastrosas. Antes eles (indígenas) se organizavam e lutavam pela demarcação de suas terras e defesa da floresta, agora disputam as migalhas, brigam e se dividem. Em nossa região, passaram de 19 para 37 aldeias, disse Nilda, agente do CIMI.
Padre Patrício, também do CIMI, afirmou que é triste ver cacique carregando cesta básica em carrinho de mão na aldeia. Em Altamira, casa alugada pela Norte Energia para os indígenas é uma calamidade, quente e superlotada. Segundo Nilda, isso motiva os indígenas e ficar pelas ruas, aumentando o preconceito da população contra eles.
Trabalhadores rurais disseram que o IBAMA é ágil para liberar grandes projetos (hidrelétricas, mineradoras) e multar trabalhadores, mas lerdo e sem estrutura para fiscalizar os verdadeiros degradadores da floresta. Reclamaram da falta de políticas públicas. Citaram como exemplo a falta de energia para algumas dezenas de milhares de famílias e os péssimos serviços da Celpa (distribuidora privada de energia no Pará), com quedas constantes e apagões por dias seguidos. Vilas com mais de 500 famílias, como é o caso de Carlos Pena Filho (Km 40) e vale Piauense (Km 23) têm energia monofásica até hoje.
Eles relataram também a concentração e especulação da terra após a chegada de Belo Monte. Pioneira, uma comunidade com 75 famílias, já tem 37 famílias sem terra, e um lote de 100 hectares, que valia trezentos mil reais há pouco tempo, hoje é vendido a um milhão e duzentos mil reais.
As organizações estão dispostas a unir suas experiências nas diversas lutas. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) traz suas lutas e conquistas de Anapu. Após 8 anos do assassinato de Irmã Dorothy, a Pastoral trabalha em defesa da terra e dos povos da floresta.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) contribui com sua experiência desenvolvida nas áreas alagadas de Altamira. A Norte Energia quer impor indenização em dinheiro e casa de concreto para as quase 30 mil pessoas residentes nessas áreas. O Movimento defende reassentamento coletivo. Traz também sua luta pela definição do nível do lago em Assurini, implantação do Programa Luz Para Todos para as 6 mil famílias dessa área e luta pela moradia urbana em Brasil Novo, onde 173 famílias estão acampadas desde janeiro.
Todos estão dispostos a somar esforços para uma luta unitária. Alguns instrumentos de luta construídos no passado, com grandes conquistas, não respondem mais a nossas expectativas, e, por isso, precisamos valorizar e juntas novos instrumentos. O povo organizado fará a luta, sem intermediários, disseram.
O encontro de Placas contou ainda com a presença de padre Ton, deputado federal pelo PT de Rondônia. Ele falou do perfil reacionário do Congresso Nacional, criticou suas investidas contra a Constituição Federal para favorecer a expansão do Capital em áreas de preservação e de povos tradicionais e classificou de covardia o descaso do governo com os indígenas. Disse ainda que o modelo energético atual no Brasil é centralizado e ditatorial.