Atingidos de três estados realizam no norte de Minas ato de lançamento do Encontro Nacional

Nesta segunda-feira (25), cerca de 100 pessoas, entre integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) de Minas Gerais, Oeste da Bahia e São Paulo, além de parceiros e apoiadores, […]

Nesta segunda-feira (25), cerca de 100 pessoas, entre integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) de Minas Gerais, Oeste da Bahia e São Paulo, além de parceiros e apoiadores, realizaram ato de lançamento do Encontro Nacional, que acontecerá em São Paulo, entre 3 e 7 de junho. O evento ocorreu na Casa Pastoral Santo Antônio, na cidade de Montes Claros, norte de Minas Gerais, e fez parte do curso de formação de militantes da Escola Nacional do MAB.

O MAB pretende reunir no Encontro Nacional cerca de 4 mil atingidos na cidade de São Paulo para dialogar com a sociedade e avançar na construção popular de um novo projeto energético para o país. “Fazer o encontro em São Paulo é muito importante por criar um fato político, criar uma nova experiência que é diferente de ir até Brasília dialogar com o governo; em São Paulo está a grande concentração do capital, mas também dos trabalhadores, e é essa aliança do campo e da cidade que vamos fortalecer”, declarou Moisés Borges, da coordenação nacional do MAB.

 Além disso, para o movimento, São Paulo é estratégico por estar no centro da articulação dos estados que se posicionaram contra a renovação das concessões das empresas estatais de energia. No início deste ano, a presidenta Dilma Rousseff antecipou a renovação das concessões, o que possibilitou a diminuição de 18% nas tarifas para os consumidores residenciais. Entretanto, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, governados pelo PSDB, não aceitaram a renovação da CEMIG, CELPA e CESP, respectivamente, impedindo uma diminuição maior da conta de luz. “O PSDB se posicionou claramente a favor do capital rentista, aqueles que se beneficiam das altas taxas de lucro retiradas do bolso da população, e que foram prejudicados pela renovação das concessões”, afirmou Moisés.

O Encontro Nacional também pretende garantir a aprovação da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB). A Política pretende servir como um marco legal para assegurar juridicamente os direitos dos atingidos. O MAB exige a criação de um órgão do estado para tratar dos problemas dos atingidos, de um fundo com recursos para atender essa política de reparação, além de reafirmar o direito de dizer “não” às barragens.

“Vamos reunir atingidos, do campo e da cidade, já que entendemos que todos são atingidos pelo atual sistema energético, além dos trabalhadores do setor elétrico, para fortalecer nossa organização em torno de um projeto popular para a energia”, concluiu Moisés.

 

Parceiros

Diversas organizações parceiras compareceram ao ato de lançamento e reafirmaram a aliança junto ao MAB nesse processo de construção do encontro nacional. Para Dom José, bispo da diocese de Montes Claros, a união é um fator fundamental para a conquista de direitos. “Às vezes eu falo que o povo precisa mais de sal, porque assim como o sal aumenta a pressão arterial, ele pode aumentar a pressão contra os políticos, porque só com pressão e união eles vão fazer alguma coisa por nós”, apontou Dom José.

Os trabalhadores da educação também estiveram representados por sindicatos da região.  Para Carlos Alberto, do Sind – Ute de Montes Claros, essa luta pela terra, pela água, pela energia e pela educação são históricas que precisam ser reafirmadas. “Precisamos novamente tomar as rédeas da nossa sociedade, o povo não deve temer o governo, o governo que deve temer diante do povo, diante disso, convocamos a população de Minas à participar do Plebiscito Popular para baixar o preço da luz e do ICMS que ocorrerá em outubro”, afirmou Carlos.

Também para Everaldo Rodrigues de Oliveira, do Sindieletro, a aliança entre trabalhadores do setor elétrico e atingidos é muito importante para aumentar a pressão e assegurar os direitos. Em Minas, o processo de privatização da CEMIG está precarizando cada vez mais o trabalho. Atualmente, a cada 45 dias morre um eletricitário. “Nós fomos pra rua, lutamos, mas hoje eles conseguiram internamente privatizar toda a empresa, e em decorrência disso, passamos em pouco tempo de 30 mil para 8 mil e 500 funcionários, que na sua maioria está envelhecido, e com a aposentaria, automaticamente, esses cargos vão sendo repassados para a iniciativa privada”, explicou Everaldo.

Para Alexandre, da Comissão Pastoral da Terra, está havendo uma intensificação na disputa pelos recursos naturais na região: “Sempre existiu exploração, mas hoje está cada vez maior e com novos elementos e isso se deve muito à crise mundial; só aqui para Minas estão previstas a construção de 106 barragens no São Francisco”.

 Também estavam presentes o prefeito de Nova Porteirinha, cidade afetada pelo projeto de Gorutuba, o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e o Levante Popular da Juventude que reafirmaram a parceria nesse processo rumo ao Encontro Nacional.