Dia internacional de luta contra as barragens

Segundo o relatório da Comissão Mundial de Barragens, no mundo, cerca de 80 milhões foram atingidos direta ou indiretamente pela construção de hidrelétricas Editorial Ed. 469 –  23/02/2012 O Movimento […]

Segundo o relatório da Comissão Mundial de Barragens, no mundo, cerca de 80 milhões foram atingidos direta ou indiretamente pela construção de hidrelétricas

Editorial Ed. 469 –  23/02/2012

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) lançou importante convocatória para todas as entidades, organizações, pastorais, redes, ativistas e movimentos sociais convidando- os a inserirem-se nas mobilizações que marcarão o Dia Internacional de Lutas Contra as Barragens, pelos rios, pela água e pela vida, na jornada do dia 14 de março.      

Trata-se de uma luta estratégica que abrange trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo.     

Nesta data, populações atingidas por barragens do mundo inteiro denunciam o modelo energético que, historicamente, tem causado graves consequências sociais, econômicas, culturais e ambientais. Segundo o relatório da Comissão Mundial de Barragens (órgão ligado à ONU), no mundo, cerca de 80 milhões de pessoas foram atingidas direta ou indiretamente pela construção de usinas hidrelétricas.      

Os últimos anos foram marcados pelo avanço das grandes empresas nacionais e estrangeiras no controle das riquezas naturais e minerais, da água, das sementes, dos alimentos, do petróleo e da energia elétrica. Todos estes bens tornam-se mercadorias e são explorados pelos setores da indústria que se abastecem com o alto consumo de energia. A atual crise do capitalismo mostra o quanto este modelo de produção e consumo é insustentável e insano, centrado apenas no lucro de poucos.   

Somente construindo um novo modelo de desenvolvimento, centrado na busca de condições dignas de vida para a classe trabalhadora, podemos assegurar a sustentabilidade.     

Mas é importante lembrar também que os últimos anos possibilitaram um verdadeiro salto de qualidade na organização e consciência dos trabalhadores atingidos por barragens ou pelas demais conseqüências de um projeto de desenvolvimento centrado no lucro capitalista.     

Movimentos de resistência contra este modelo se fortalecem e agora, mais do que nunca, faz-se necessária a realização de grandes jornadas de lutas que deverão ir para além do 14 de março. Devem avançar para a Rio + 20, que acontece em junho no Rio de Janeiro, e para combater todas as estruturas injustas desta sociedade.     

Na década de 1990, nosso país sofreu o maior processo de privatizações de empresas estatais. Perdemos setores estratégicos, fundamentais para a soberania nacional e para a eliminação das desigualdades sociais.     

Hoje é nítido para toda a sociedade que as promessas de que o setor privado traria a melhoria da qualidade dos serviços e a modicidade tarifaria foram promessas enganosas. 

Em se tratando do modelo energético, a crise nas atividades econômicas abre a possibilidade de discutir uma reestruturação profunda, que parta das necessidades reais de superação das contradições do atual modelo e que carregue os princípios da soberania energética a partir de um projeto popular.   

Como afirma a convocatória do MAB, “cada vez mais nosso compromisso é de nos organizarmos e de nos inserirmos nas lutas contra as transnacionais, pelos direitos dos trabalhadores, na defesa dos rios, da água e da vida”. As manifestações da semana do 14 de março serão realizadas para exigir solução para a enorme dívida social e ambiental deixada pelas usinas já construídas e para fortalecer a luta por um outro modelo energético.      

Portanto, essa luta não é apenas da população atingida pelos lagos, pois todo o povo é atingido pelas altas tarifas da energia, pela privatização da água e da energia, pelo dinheiro público investido em obras privadas.     

É preciso discutir um novo modelo energético, que esteja sob o controle e a serviço do povo brasileiro. Na atual organização do sistema elétrico, a população é a última a ser beneficiada. Desde a privatização do setor, a energia elétrica passou a ser considerada uma mercadoria, a serviço do lucro das empresas, principalmente as empresas que consomem muita energia, como a indústria da celulose, siderúrgicas e metalúrgicas.        

Queremos que a organização do sistema energético brasileiro – seja ele baseado na matriz hídrica, eólica ou da biomassa – não sirva mais para o lucro das empresas transnacionais e sim para o bem-estar da população brasileira. A energia se tornou um insumo básico na sociedade, mas que é negado à população que não tem acesso ou não pode pagar pelo serviço.          

Cabe a nós fazermos a luta de resistência e construirmos um novo modelo energético e de sociedade!A construção de um Projeto Popular para o Brasil passa por construirmos um novo modelo energético.     

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