Trabalhadores levantam sua voz durante o Grito dos Excluídos
Enquanto o país celebrava oficialmente sua independência nesta quarta-feira (7), milhares de brasileiros e brasileiras saíram às ruas para protestar contra as desigualdades e injustiças causadas pelo sistema capitalista e […]
Publicado 09/09/2011
Enquanto o país celebrava oficialmente sua independência nesta quarta-feira (7), milhares de brasileiros e brasileiras saíram às ruas para protestar contra as desigualdades e injustiças causadas pelo sistema capitalista e cobrar mudanças.
Sob o lema Pela vida grita a terra… por direitos, todos nós, acontece em todos os estados a 17ª edição do Grito dos Excluídos, organizado por várias pastorais, organizações e movimentos sociais.
Em lugar de um patriotismo passivo, que assiste da arquibancada ao desfile comemorativo, propõe-se um patriotismo ativo, que toma as ruas e reflete sobre os destinos do país, afirma o padre Alfredo José Gonçalves, assessor das pastorais sociais.
Este ano, o lema aponta para a importância da participação popular na defesa da biodiversidade do país e dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Além das pautas gerais, que incluem a denúncia do uso abusivo de agrotóxicos, a oposição à proposta de alteração do Código Florestal encabeçada pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB) e o questionamento das obras para a Copa do Mundo de 2014, em cada cidade o Grito incorpora pautas locais de acordo com a luta dos moradores.
Veja a seguir um primeiro balanço das atividades do Grito dos Excluídos em algumas cidades do Brasil:
Em Senhor do Bonfim (BA), o caráter da manifestação foi mudado devido ao assassinato, ocorrido nesta madrugada, de Leonardo Leite, uma das lideranças do Movimento CETA (Coordenação dos Trabalhadores Assentados). Ele foi morto dentro de casa, na fazenda Jiboia, desapropriada pelo INCRA para a reforma agrária. Ele é a quinta liderança na luta pela terra assassinada na região de Canudos, marcada por conflitos agrários, e já vinha sofrendo ameaças há um ano. Os manifestantes saíram em caminhada com panos pretos e fizeram a leitura do manifesto do Grito.
Em Aparecida (SP), o 17º Grito ocorre junto à 24ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras, reunindo aproximadamente 90 mil pessoas, que saíram do Porto de Itaguaçu em caminhada até a Basílica. Lá houve apresentações teatrais de um grupo de trabalhadores desempregados de Volta Redonda (RJ) e de um grupo de jovens do Jardim Elba, da capital paulista. Também foram feitas denúncias contra a proposta da bancada ruralista de alteração do Código Florestal.
Em São Paulo (SP), o Grito conta com dois trajetos: um deles, com participação das pastorais sociais, sindicatos e movimentos do campo, partiu da Praça da Sé em direção ao Parque da Independência. O outro foi mais pautado pelo direito à moradia e partiu da Praça Osvaldo Cruz até o Ibirapuera.
No Distrito Federal (DF), o Grito acontece em vários pontos. Na Esplanada dos Ministérios, o ato foi em conjunto com a Marcha Brasil Contra a Corrupção e cobrou participação dos movimentos sociais nas decisões políticas do país. Cerca de 20 mil pessoas integraram o protesto. Em Brazlândia (300 pessoas) e Planaltina (500 pessoas), a principal bandeira é contra o uso dos agrotóxicos, tema trabalhado com vídeo e debate. Em Ceilândia (500 pessoas), além dessa pauta, os participantes discutiram o direito à moradia e à cultura, com apresentações artísticas.
Em Cuiabá (MT), a tônica da manifestação é dada pela denúncia dos despejos das famílias devido às obras da Copa. Os participantes se concentraram no Córrego do Barbado, onde 803 famílias serão removidas para dar lugar à avenida Parque do Barbado. Simbolicamente, a concentração foi em frente à casa de uma família que há 34 anos sofreu remoção para dar lugar à rodoviária e agora está novamente ameaçada pela construção da avenida.
O defensor público Paulo Lemos também participou da atividade e pôde ouvir diretamente dos moradores as reivindicações pelo direito à moradia. Além do questionamento dessas obras, o debate também integra a questão da privatização do serviço de abastecimento de água, aprovado pela Câmara dos Vereadores na semana passada.
Em Fortaleza (CE), os manifestantes também protestaram contra as construções para a Copa do Mundo, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que ameaça diversas famílias de despejo. Com concentração na Praça São Francisco, os participantes seguiram em marcha até a Igreja Sagrada Família, na Praça Padre Pasquale.
Em Montes Claros (MG), os movimentos da Via Campesina somaram-se à manifestação do Grito após ocupar o prédio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e acampar em frente à prefeitura, em atividades que compuseram a Jornada de Lutas. Os manifestantes denunciam os grandes projetos de barragem e mineração que estão sendo desenvolvidos na região e exigem que estas terras sejam destinadas à reforma agrária. A atividade começou na Praça Catedral, para celebração ecumênica com a presença do arcebispo Dom José Moura. As atividades em Minas Gerais ocorreram em pelo menos 22 cidades.
Com o tema Contra a corrupção, a violência e a morte, grita a vida, o Grito em Goiânia (GO) trouxe a discussão da violência urbana e da criminalização da juventude. O ato começou no Terminal da Praça A, com caminhada pela avenida da Independência até a Praça do Trabalhador. Em Goiás, o Grito também acontece nas cidades de Uruana e Itaberaí.
Em Teresina (PI), o Grito tomou a faixa paralela da avenida Marechal Castelo Branco, onde ocorreu o desfile cívico-militar. Os mais de 1000 manifestantes protestaram contra o trabalho escravo, a corrupção e a falta de investimentos, além de denunciarem a construção de hidrelétricas e o desmatamento na região de Palmeirais. Os estudantes que organizaram manifestações contra o aumento da tarifa do ônibus durante a semana trouxeram esse debate para o Grito. Também participaram da atividade movimentos indígenas, sem-teto e de mulheres.