Atingidos e sem-terra continuam luta em Santa Catarina

Por Leonardo Alves da Cunha Continua movimentada a região do rio Canoas, no planalto sul de Santa Catarina. Depois da dupla ação conjunta entre o MAB e o MST no […]

Por Leonardo Alves da Cunha

Continua movimentada a região do rio Canoas, no planalto sul de Santa Catarina. Depois da dupla ação conjunta entre o MAB e o MST no começo de junho, que consistiu na ocupação do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Garibaldi, no município de Abdon Batista, e na ocupação de terra improdutiva no município vizinho de Cerro Negro, novidades surgiram no processo.

O acampamento dos dois movimentos conta atualmente com 150 famílias e, mesmo após semanas de intenso frio e chuvas na região, vê-se o florescer das primeiras hortas e a organização de atividades de lazer como jogos de futebol e festas (neste sábado, muita música, mística e alegria marcarão as “Jornadas Socialistas” no acampamento).

Um dado que merece ênfase especial é a existência da escola itinerante “Soletrando a Liberdade”, instalada na sede de uma pequena unidade escolar estadual na comunidade de Embú, bem ao lado do acampamento. Fechada até pouco tempo atrás – usada apenas como depósito de adubo orgânico – atualmente conta com turmas de manhã e à tarde. Na parte da manhã, 14 crianças nas faixas da 4ª e 5ª séries estudam, com direito a merenda escolar no recreio e também no almoço, cedida após negociações com o poder municipal. À tarde é a vez da criançada na faixa entre 1ª e 3ª séries. Um companheiro do MST e outra do MAB assumiram as aulas, que ocorrem desde o início da semana passada, nesta escola que ganhou nome em homenagem ao belo samba de Leci Brandão sobre a importância revolucionária da educação de qualidade.

Negociações

Nesta quinta-feira (14) aconteceu a primeira reunião oficial entre a empresa Triunfo e o Movimento dos Atingidos por Barragens, desde a ocupação do canteiro. A idéia é começar a negociar a pauta de reivindicações, que deseja contemplar não só os proprietários de terra atingidos, mas também arrendatários, meeiros e posseiros, que os consórcios barrageiros historicamente tentam esquecer.

É bom lembrar que a previsão de lucros da UHE Garibaldi é de 10 milhões de reais por ano – mesmo assim, a empresa construtora tem resistido a contemplar de forma digna os atingidos, esquecendo-se que tais posturas encontraram ferrenhas resistências em outras obras na bacia do rio Uruguai. Os conflitos em torno da UHE Barra Grande e da UHE Campos Novos, para mencionar apenas alguns exemplos, ainda estão frescos na lembrança do povo da região.

Novamente o alagamento será de grande intensidade, visto que o relevo aqui é mais plano que o do rio Pelotas – o  que, em consequência, atinge mais áreas (apesar do porte de geração da UHE Garibaldi ser de 140 MW, quantidade bem inferior às de Barra Grande, Campos Novos ou mesmo Itá e Machadinho).