Barragem de Aimorés viola direitos dos pescadores

A barragem de Aimorés (MG) desestruturou vínculos e práticas tradicionais das famílias, assim como interrompeu o acesso ao patrimônio cultural, material e imaterial da região. Essa é a reclamação da […]

A barragem de Aimorés (MG) desestruturou vínculos e práticas tradicionais das famílias, assim como interrompeu o acesso ao patrimônio cultural, material e imaterial da região. Essa é a reclamação da maioria dos pessoas atingidas e também de Maria Madeira Pereira, uma delas. “Antes vivíamos bem, o rio Doce passava no fundo do meu quintal, dele que tirávamos nosso sustento”, conta Maria, que ajudava o marido no sustento da família com a pesca artesanal. “A barragem tirou nosso meio de sobrevivência”, diz.

A UHE Aimorés foi construída na bacia do rio Doce, que atualmente tem cerca de 116 projetos de barragens em andamento. Com a construção da obra, o rio que corta a cidade diminuiu, impossibilitando a pesca na região. “Hoje, se quisermos pescar, temos que andar cerca de 40 km para chegarmos ao rio; muitos desistiram de pescar pelos gastos com a gasolina.”

A inauguração da barragem foi anunciada em maio de 2006. Maria conta que o consórcio construtor da usina indenizou os pescadores com um valor insuficiente.

Segundo o relatório da Comissão Especial, aprovado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), a barragem de Aimorés violou cerca de 11 direitos humanos, sendo um deles a reparação por perdas passadas na construção da barragem. “Com a chegada da hidrelétrica vieram as dificuldades das famílias que sobreviviam da pesca, muitos amigos tiveram depressão e alguns até morreram de desgosto, por não podem exercer mais a única profissão que sabiam fazer”.

“Na feira, ninguém queria mais comprar nossos peixes, eles eram pequenos e adoentados. Via também as outras esposas se separando dos maridos por causa da situação que só piorava com a falta de trabalho”, concluiu.

Ainda conforme o relatório do CDDPH, a barragem trouxe uma série de impactos para a vida das famílias atingidas, e principalmente na vida das mulheres que sofrem profundas perdas que vão para além de bens materiais, como graves problemas de depressão e desilusão associados à desestruturação de suas vidas e ao afastamento do convívio de parentes e amigos. “A barragem tirou a saúde do meu esposo, que ficou sem o modo de trabalho a qual ele estava acostumado, hoje os peixes que conseguimos pescar estão contaminados, isso é muito triste e doloroso para mim”, diz Maria.

No extenso rio Doce, a usina de Aimorés foi construída para geração de 330MW de energia, com um reservatório de 30,9 km quadrados. Além de Aimorés, a barragem atingiu cidades como Itueta, Resplendor e Baixo Guandu (ES), e o discurso desenvolvimentista para os municípios ficou só no discurso.

A desapropriação e seus impactos

Das 70 propriedades rurais da área diretamente afetada pelo lago, 48 localizavam-se na margem esquerda do rio Doce e 22 na margem direita, sendo 15 do município de Aimorés, 32 de Itueta e 23 de Resplendor. Na área urbana de Resplendor foram desapropriados cerca de 247 domicílios (total de 830 pessoas residentes) e 52 estabelecimentos comerciais de serviços.

Com a construção do lago, diversas famílias da zona rural tiveram que mudar para outros lugares sem serem indenizadas pelas perdas materiais. “O lago inundou algumas estradas rurais nas comunidades ribeirinhas, dificultando o acesso ao centro de Resplendor ou mesmo a Itueta, cidade que foi inundada pelo lago e reconstruída sem nem um tipo de infraestrutura para os moradores, que depois de cinco anos ainda não possuem nem a escritura de suas casas na nova cidade de Itueta, impossibilitando as pessoas de terem qualquer tipo de crédito no mercado”.

O Movimento dos Atingidos por Barragens

Maria é militante do MAB na região e optou por ajudar na organização das famílias que se encontram na mesma situação que a sua. “Depois de cinco anos de indignação começamos a nos organizar no MAB para cobrar e reivindicar nossos direitos, pois com o movimento tive esperança e confiança que iríamos conquistar nossos direitos”, conta a atingida.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 22/03/2020

Dilma Ferreira: seu exemplo nos inspira a lutar

Neste domingo (22 de março), completa-se um ano do assassinato de nossa companheira Dilma Ferreira Silva, coordenadora de base do Movimento dos Atingidos por Barragens, na região atingida pela hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.

| Publicado 08/03/2024 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

8M: Mulheres vão às ruas de todo o país lutar por igualdade salarial, democracia e fim de toda a violência de gênero

Data dá início à Jornada de Lutas do MAB, que também inclui o 14 de Março, Dia internacional de Luta em Defesa dos Rios, contra as Barragens, pela Água e pela Vida, e o 22 de março, Dia Mundial da Água

| Publicado 20/03/2024 por Roberto Brandão | MAB

Justiça por Dilma Ferreira: mais um dos acusados da chacina de Baião (PA) foi condenado pela justiça

Integrante da coordenação nacional do MAB, Dilma Ferreira foi assassinada em uma chacina no Pará, há quatro anos, por conta da sua luta em defesa da Amazônia