Homenagem ao Sr. Carlos Cervinski

Na década de 80, favorecidos por um processo de muita luta do povo brasileiro contra a ditadura militar e por um país mais justo e igualitário, construiu-se uma forte resistência […]

Na década de 80, favorecidos por um processo de muita luta do povo brasileiro contra a ditadura militar e por um país mais justo e igualitário, construiu-se uma forte resistência contra as Barragens na Bacia do Rio Uruguai, no sul do Brasil.

O Plano era construir 25 barragens, que expulsariam 40 mil famílias, 200 mil pessoas – na maioria pequenos agricultores.

A primeira barragem a ser construída era Machadinho. A empresa do governo na época – ELETROSUL – conseguiu, com apoio de alguns políticos e lideranças sindicais locais, comprar o canteiro de obras da referida barragem em 1981.

Desta data até 1986 foram muitas as lutas e protestos contra esta e outras obras por toda a Bacia do Rio Uruguai.

No ano de 86 o governo institui comissões para estabelecer diretrizes e critérios para resolver os problemas decorrentes das obras de Itá e Machadinho e iniciou-se nesta região um intenso debate sobre qual a posição a ser adotada pelos atingidos, que culminou num acordo em 1987 entre os atingidos e a ELETROSUL.

Neste período foram muitas as reuniões e ações realizadas e queremos destacar que uma das comunidades do interior do Município de Paim Filho, chamada Capela Santo Stanislau – Linha Pepino – na chamada Região de Carlos Gomes – então distrito do Município de Viadutos, era um importante foco de resistência e organização dos atingidos.

Nesta comunidade de Linha Pepino que viveu o Seu Carlos Cervinski até o dia 22 de julho de 2010.

Seu Carlos era um homem que na Comunidade durante as reuniões sentava na primeira fila de cadeiras, era sua família que acolhia os militantes do MAB quando precisavam almoçar, jantar, dormir na região para ajudar no trabalho organizativo de resistência da população atingida.

Carlos era o homem que incentivava toda a família a lutar contra a Barragem de Machadinho, em defesa da terra e da vida.

Foi na comunidade do Seu Carlos, com a participação de sua família que a Barragem de Machadinho foi definitivamente derrotada no seu plano inicial. A ação decisiva foi à expulsão dos funcionários das empresas da região porque a Eletrosul não cumpriu o acordo assinado em 1987. 

A partir de 1988 as placas de Barragem de Machadinho Nunca Mais se espalharam pela região, e os marcos que sinalizavam até onde a água atingiria, foram arrancados e queimados em 25 de Julho de 1988. E nunca mais, depois daquela data, funcionários das empresas que queriam fazer a barragem apareceram por lá.

Seu Carlos deixou sua família e sua terra no dia 22 de Julho de 2010, vinte e dois anos depois da luta pelo cancelamento definitivo da Barragem de Machadinho.

A barragem foi construída em outro lugar e a empresa manteve o mesmo nome original, porém todos sabemos que a Barragem de Machadinho, no seu projeto inicial, foi derrotada.

A casa a terra e a família do Seu Carlos continuam lá ao lado do Rio Ligeiro (nome científico Rio Apuaê), que continua produzindo muitos cascudos e que corre livre para o Rio Uruguai.

Do Seu Carlos Cervinski fica nossa gratidão por sua luta, por seu exemplo de seriedade, persistência e esperança.

Dos Rios do Brasil, 25 de Julho de 2010.

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