Poeta narra história de luta por moradia em região atingida por Belo Monte

“Com a chegada da barragem de Belo Monte, famílias que pagavam aluguel de 150, 200 reais, de repente começaram a pagar 400, 500. Por isso, ocupamos esse terreno, que antes […]

“Com a chegada da barragem de Belo Monte, famílias que pagavam aluguel de 150, 200 reais, de repente começaram a pagar 400, 500. Por isso, ocupamos esse terreno, que antes servia de abrigo pra usuários de droga e prostituição”, conta Sandra Ribeiro, uma das coordenadoras do Acampamento Novo Horinzonte, na cidade de Brasil Novo, Pará.

A ocupação, que conta com 173 famílias, ocorreu no início de fevereiro deste ano e já resistiu a um pedido irregular de reintegração de posse feito pela prefeitura da cidade.

O terreno foi cedido pela prefeitura para que o Estado do Pará construísse uma escola há mais de 10 anos, mas a construção nunca foi feita. O Estado entrou com um pedido de reintegração de posse, que ainda está em análise pelo juiz da cidade, Alexandre Rizzi.

Enquanto aguardam uma nova audiência, os moradores seguem resistindo à pressão para que saiam do local e se mantêm organizados para lutar pelo direito de permanecerem no local.

Esta saga é narrada pelo poeta popular Félix Coelho, um dos moradores da ocupação, nos versos que se seguem:

 

1. Por ser poeta escritor

A meu deus peço licença

Que deus me abra a memória

E me dando paciência

Que chegue sim a hora

E eu possa contar a história

Que eu tenho consciência

 

2. Pois ser poeta é uma arte

Que precisa de atenção

Pra não escrever coisa à toa

Que não tenha precisão

Pra ser bem comprometido

E ser mais favorecido

Nesta sua proteção

 

3. Eu escrevo história antiga

Que trago na minha mente

Gravei no antepassado

Por isto sou consciente

Eu escrevo o passado

Mas também dou resultado

Neste caso mais recente

 

4. O nosso mundo é completo

Tem tudo pra enfeitar

Um nasce pra sofrer

Outro nasce pra gozar

Pra vocês ficarem inteirado

Olha aí o resultado

Do causo que eu vou contar.

 

5. Eu peço sempre ao leitor

Pra esclarecer para o povo

De um caso acontecido

Aqui em nosso Brasil Novo

Enquanto os ricos são folgado

Os pobres vivem apertado

Igual a um pinto no ovo.

 

6. Eu vou começar falando

De uma ocupação

De um povo sofredor

Pobre e sem condição

Sem teto vivendo ao léu

Correndo do aluguel

Pesado da região.

 

7. Devido à condição

Conforme eles me falaram

Sem terra, casa e emprego

Sem ganhar nem o salário

Sofrendo sem moradia

Pra viver com a família

Pagando um aluguel caro.

 

8. E por isto reuniram

Cento e setenta e três pessoa

E escolheram uma área

Devastada muito boa

Uma área preciosa

Mas vivia ociosa

A doze anos à toda.

 

9. Entraram e lutaram

Este grupo organizado

Formaram um acampamento

Este grupo combinado

Pra ocupação ficar segura

Avisaram a prefeitura

Esperando o resultado.

 

10. Pensava ser atendido

Com mais respeito e atenção

Faltou a compreensão

Muito custou sermos ouvidos

Quando fomos surpreendidos

Com uma forte reação.

 

11. A prefeita foi ao Fórum

Com uma reivindicação

Foi aonde o juiz

Entrou com ação

Ao invés de nos acatar

Tentou nos desacatar

Pedindo reintegração.

 

12. Pedido de reintegração

De posse ela conquistou

Com o oficial de justiça,

O juiz e o promotor

Querendo cumprir seu desejo

Trouxe a ordem de despejo

Tratando nós de invasor.

 

13. Foi verdade meus leitores

O que eu escrevi pra contar

Não quero denegrir ninguém

Nem estou querendo enfeitar

Mas veio o oficial de justiça

Acompanhando a polícia

E a máquina pra derrubar.

 

14. Foi um prazo bem pequeno

Que nos deram absoluto

Até parece que pensava

Que aqui só tinha matuto

Foi uma situação rara

Mandou desocupar a área

Dentro de quarenta minuto.

 

14. Mais como podemos resistir

E entramos em ação

Conversando humildemente

Chamou o povo atenção

A calma não se ignora

Tem mais 24 horas

Pra procurar solução

 

16. Isto sim, assim dá tempo

Pra nós se preparar

Reuniu-se a comissão

Para melhor detalhar

Veja como começa

Chamaram os vereador

Para os papel entregar.

 

17. Quando os papel foram entregue

Houve uma reunião

Se reuniram todos

Daqui desta ocupação

Todos em uma só compostura

Na frente da prefeitura

Fizeram uma manifestação

 

18. Pra melhor se resolver

Sem ser recepcionado

Não podem perder o juízo

Mas buscar o resultado

Chamou muita atenção

Uniu a coordenação

E botaram advogado.

 

19. Nós também é brasileiro

Também precisamos apoio

O que devemos procurar

Por isto que a gente foi

Não estou botando papo

Quem morre calado é sapo

Embaixo do pé do boi.

 

20. Não está no fim da luta

Mas espero melhorar

Os advogados são bom

E sabem bem trabalhar

Como os papel era adulterado

Eles foram ao juizado

Derrubaram a liminar.

 

21. Até porque aqui não pertence

Ao poder municipal

Pra eles entrarem com pedido

De reintegração integral

Não quero ser evidente

Que isto aqui pertence

Ao governo estadual.

 

22. a repressão é pesada

Mas dá para resistir

O problema mais difícil

Que não dá pra competir

Tem uns que não querem ajudar

Mas só tenta derrotar

Fazer crítica e mentir.

 

23. Vou ser preciso encerrar

Esta minha narração

Mas as lutas não findaram

Nessa nossa ocupação

Sempre as fases são dura

Por parte da prefeitura

Segue a perseguição.

 

24. Já com 134 dias

Ainda não tem bom resultado

Porque estamos trabalhando

Mas sem ser qualificado

Queremos ser competente

Quando agora novamente

Tornamos a ser intimado.

 

25.  No dia vinte de maio

Chegou a intimação

Para o dia seis de junho

E a representação

E coisa que não ignoro

O chamado veio do fórum

Que é propício à questão.

 

26. Aqui no Novo Horizonte

Temos muita animação

Tem jogo de bola e bingo

Tem várias reunião

Coisas que nós cobiça

Temos cultos, temos missas

Nesta coordenação.

 

27. Eu vou findar a história

A todos peço perdão

Me desculpem se errei

Pondo a caneta na mão

Por não fazer muito bem

Mas se eu feri alguém

Não era minha intenção.

 

28. Já fiz o encerramento

Do que me pus a escrever

Pedindo a todos leitor

Se quiser me compreender

Deste meu forte balanço

Querão pegar no romanço

Desfolhando para ler

 

29. Pus ponto final na história

Que conta sobre este problema

Meu direito de poeta

É este o meu dilema

Pedindo ao leitor

Me desculpe por favor

Se não gostou do esquema!

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