Poeta narra história de luta por moradia em região atingida por Belo Monte
Com a chegada da barragem de Belo Monte, famílias que pagavam aluguel de 150, 200 reais, de repente começaram a pagar 400, 500. Por isso, ocupamos esse terreno, que antes […]
Publicado 10/06/2013
Com a chegada da barragem de Belo Monte, famílias que pagavam aluguel de 150, 200 reais, de repente começaram a pagar 400, 500. Por isso, ocupamos esse terreno, que antes servia de abrigo pra usuários de droga e prostituição, conta Sandra Ribeiro, uma das coordenadoras do Acampamento Novo Horinzonte, na cidade de Brasil Novo, Pará.
A ocupação, que conta com 173 famílias, ocorreu no início de fevereiro deste ano e já resistiu a um pedido irregular de reintegração de posse feito pela prefeitura da cidade.
O terreno foi cedido pela prefeitura para que o Estado do Pará construísse uma escola há mais de 10 anos, mas a construção nunca foi feita. O Estado entrou com um pedido de reintegração de posse, que ainda está em análise pelo juiz da cidade, Alexandre Rizzi.
Enquanto aguardam uma nova audiência, os moradores seguem resistindo à pressão para que saiam do local e se mantêm organizados para lutar pelo direito de permanecerem no local.
Esta saga é narrada pelo poeta popular Félix Coelho, um dos moradores da ocupação, nos versos que se seguem:
1. Por ser poeta escritor
A meu deus peço licença
Que deus me abra a memória
E me dando paciência
Que chegue sim a hora
E eu possa contar a história
Que eu tenho consciência
2. Pois ser poeta é uma arte
Que precisa de atenção
Pra não escrever coisa à toa
Que não tenha precisão
Pra ser bem comprometido
E ser mais favorecido
Nesta sua proteção
3. Eu escrevo história antiga
Que trago na minha mente
Gravei no antepassado
Por isto sou consciente
Eu escrevo o passado
Mas também dou resultado
Neste caso mais recente
4. O nosso mundo é completo
Tem tudo pra enfeitar
Um nasce pra sofrer
Outro nasce pra gozar
Pra vocês ficarem inteirado
Olha aí o resultado
Do causo que eu vou contar.
5. Eu peço sempre ao leitor
Pra esclarecer para o povo
De um caso acontecido
Aqui em nosso Brasil Novo
Enquanto os ricos são folgado
Os pobres vivem apertado
Igual a um pinto no ovo.
6. Eu vou começar falando
De uma ocupação
De um povo sofredor
Pobre e sem condição
Sem teto vivendo ao léu
Correndo do aluguel
Pesado da região.
7. Devido à condição
Conforme eles me falaram
Sem terra, casa e emprego
Sem ganhar nem o salário
Sofrendo sem moradia
Pra viver com a família
Pagando um aluguel caro.
8. E por isto reuniram
Cento e setenta e três pessoa
E escolheram uma área
Devastada muito boa
Uma área preciosa
Mas vivia ociosa
A doze anos à toda.
9. Entraram e lutaram
Este grupo organizado
Formaram um acampamento
Este grupo combinado
Pra ocupação ficar segura
Avisaram a prefeitura
Esperando o resultado.
10. Pensava ser atendido
Com mais respeito e atenção
Faltou a compreensão
Muito custou sermos ouvidos
Quando fomos surpreendidos
Com uma forte reação.
11. A prefeita foi ao Fórum
Com uma reivindicação
Foi aonde o juiz
Entrou com ação
Ao invés de nos acatar
Tentou nos desacatar
Pedindo reintegração.
12. Pedido de reintegração
De posse ela conquistou
Com o oficial de justiça,
O juiz e o promotor
Querendo cumprir seu desejo
Trouxe a ordem de despejo
Tratando nós de invasor.
13. Foi verdade meus leitores
O que eu escrevi pra contar
Não quero denegrir ninguém
Nem estou querendo enfeitar
Mas veio o oficial de justiça
Acompanhando a polícia
E a máquina pra derrubar.
14. Foi um prazo bem pequeno
Que nos deram absoluto
Até parece que pensava
Que aqui só tinha matuto
Foi uma situação rara
Mandou desocupar a área
Dentro de quarenta minuto.
14. Mais como podemos resistir
E entramos em ação
Conversando humildemente
Chamou o povo atenção
A calma não se ignora
Tem mais 24 horas
Pra procurar solução
16. Isto sim, assim dá tempo
Pra nós se preparar
Reuniu-se a comissão
Para melhor detalhar
Veja como começa
Chamaram os vereador
Para os papel entregar.
17. Quando os papel foram entregue
Houve uma reunião
Se reuniram todos
Daqui desta ocupação
Todos em uma só compostura
Na frente da prefeitura
Fizeram uma manifestação
18. Pra melhor se resolver
Sem ser recepcionado
Não podem perder o juízo
Mas buscar o resultado
Chamou muita atenção
Uniu a coordenação
E botaram advogado.
19. Nós também é brasileiro
Também precisamos apoio
O que devemos procurar
Por isto que a gente foi
Não estou botando papo
Quem morre calado é sapo
Embaixo do pé do boi.
20. Não está no fim da luta
Mas espero melhorar
Os advogados são bom
E sabem bem trabalhar
Como os papel era adulterado
Eles foram ao juizado
Derrubaram a liminar.
21. Até porque aqui não pertence
Ao poder municipal
Pra eles entrarem com pedido
De reintegração integral
Não quero ser evidente
Que isto aqui pertence
Ao governo estadual.
22. a repressão é pesada
Mas dá para resistir
O problema mais difícil
Que não dá pra competir
Tem uns que não querem ajudar
Mas só tenta derrotar
Fazer crítica e mentir.
23. Vou ser preciso encerrar
Esta minha narração
Mas as lutas não findaram
Nessa nossa ocupação
Sempre as fases são dura
Por parte da prefeitura
Segue a perseguição.
24. Já com 134 dias
Ainda não tem bom resultado
Porque estamos trabalhando
Mas sem ser qualificado
Queremos ser competente
Quando agora novamente
Tornamos a ser intimado.
25. No dia vinte de maio
Chegou a intimação
Para o dia seis de junho
E a representação
E coisa que não ignoro
O chamado veio do fórum
Que é propício à questão.
26. Aqui no Novo Horizonte
Temos muita animação
Tem jogo de bola e bingo
Tem várias reunião
Coisas que nós cobiça
Temos cultos, temos missas
Nesta coordenação.
27. Eu vou findar a história
A todos peço perdão
Me desculpem se errei
Pondo a caneta na mão
Por não fazer muito bem
Mas se eu feri alguém
Não era minha intenção.
28. Já fiz o encerramento
Do que me pus a escrever
Pedindo a todos leitor
Se quiser me compreender
Deste meu forte balanço
Querão pegar no romanço
Desfolhando para ler
29. Pus ponto final na história
Que conta sobre este problema
Meu direito de poeta
É este o meu dilema
Pedindo ao leitor
Me desculpe por favor
Se não gostou do esquema!