Movimento Internacional dos Atingidos: um caminho em construção

Encontro lançou processo de construção do Movimento Internacional dos Atingidos, com participação de atingidos de todos os continentes

O IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e pela Crise Climática foi realizado de 7 a 12 de novembro na cidade de Belém, na Amazônia brasileira, com a participação de aproximadamente 200 delegados internacionais de 39 países em cinco continentes. Essa participação se estendeu à Cúpula dos Povos.

Este Encontro Internacional, não temos dúvida, é um Encontro Histórico.

Foto: Klézi Martins / MAB

O lançamento do Movimento Internacional demonstra o desejo de uma enorme quantidade de pessoas unidas na luta contra um inimigo comum: o sistema capitalista, responsável pelos impactos da crise climática, da construção de barragens, dos crimes socioambientais, da privatização da água e da energia e da expropriação de seus recursos comuns. Esse poder, operando sob um modelo de desenvolvimento, domina e restringe a soberania dos povos.

Para se chegar ao lançamento desta ousada organização internacionalista, há uma história de atividade política acumulada, mobilizações, processos organizacionais, alianças e ações de movimentos que fomentaram a construção deste movimento internacional.

Ao longo desse processo, vários momentos importantes foram intencionalmente realizados, como: a decisão de construir um Curso em Realidades Latino-americanas, no ano de 2012, que construiu bases para o Lançamento do Movimiento de Afectados por Represas na América (MAR) no ano de 2016, em Chapecó, Santa Catarina, Brasil; o Primeiro Encontro Continental das Américas, realizado no Panamá em 2019, onde o Movimento se expandiu para outros países do continente. 

Este processo ganhou força com a reunião internacional, por ocasião do primeiro aniversário do Crime de Brumadinho, em Minas Gerais, no Brasil, em 2020, com a participação de pessoas de vários países da América, da África e da Europa. Após a reunião de Brumadinho, seguiram-se atividades virtuais durante a pandemia, que culminaram em novo momento presencial em 2022, em Praia Grande – São Paulo, onde foram estabelecidos aspectos organizacionais e estratégicos para a construção do IV Encontro Internacional, constituído uma Coordenação Internacional Provisória e indicado que o IV Encontro Internacional seria na Amazônia Brasileira, em função da sua simbologia mundial.

Já em 2024, em Havana – Cuba, foram elaborados os objetivos e temas a serem abordados no Encontro Internacional e acordados processos de acompanhamento continental pela Coordenação Provisória Internacional, que se desenvolveu junto com o curso sobre Realidades Americanas. E, finalmente, a realização da última reunião da Coordenação Provisória no Rio de Janeiro, em julho de 2025, que analisou o atual contexto mundial e dos continentes, decidiu a linha e os documentos preparatórios ao Encontro Internacional realizado em Belém do Pará, na Amazônia Brasileira.

Esse intenso trabalho, juntamente com os esforços para a realização dos Encontros Continentais realizados na América, na África, na Ásia e na Europa, em 2024 e 2025 – nos quais participaram mais de 62 países e mais de 300 delegados – demonstram a construção coletiva que tem caracterizado esse processo.

O nascente do Movimento Internacional dos Atingidos por Barragens, crimes socioambientais e a crise climática, em seu manifesto e anúncio público de 12 de novembro de 2025, resumiu os termos para a organização e lutas em 10 pontos centrais que elencamos a seguir:

Manifesto público e anúncio da construção do Movimento Internacional de populações atingidas por barragens, pelos crimes socioambientais e pela crise climática.

Reunidos em Belém, na Amazônia brasileira, durante o IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática, depois de termos realizado encontros continentais na África, na América, na Asia e na Europa, envolvendo organizações de mais de 60 países, nos manifestamos nos seguintes termos:

1- Em todos os países, devemos trabalhar pela união e entendimento da luta e da organização das populações atingidas.

2- Consideramos que o atual modo de produção hegemônico é nosso inimigo. Este modo de produção, no atual momento, faz com que aumente exponencialmente o número de pessoas atingidas ou ameaçadas por empreendimentos, por políticas que favorecem a acumulação da riqueza nas mãos de poucos e pela iminente crise climática.

3- Considerando esta dramática realidade decidimos construir um Movimento Internacional dos Atingidos por Barragens, por Crimes Socioambientais e pela Crise Climática. Pretendemos ser um forte movimento de massas e de base, com realidades e identidades locais, regionais e nacionais, que responda às necessidades específicas das populações atingidas, para a construção de um projeto energético popular e lute para transformar pela raiz todas as estruturas injustas da sociedade.

4- Nossa luta é contra todas as formas de exploração e opressão dos povos que trabalham e produzem a riqueza. O caráter de nossa luta é anticapitalista, anti-imperialista, antirracista, antipatriarcal, anti-LGTBfobia e anticolonial.

5- A mensagem política do Movimento articula o horizonte da transformação social, a conquista de direitos e uma adequada sustentabilidade ambiental.

6- Persistiremos na construção nacional do Movimento em cada país, com protagonismo das populações atingidas, intencionalizando a participação de jovens e mulheres.

7- A solidariedade internacionalista será uma premissa básica de nossa atuação.

8- Estimularemos a pedagogia do exemplo, como a melhor forma de convencer todos para participarem da organização e das lutas.

9- Uma coordenação inicial formulará um programa sistemático de formação de militantes e lideranças, com base na educação popular.

10- Iremos fortalecer nosso trabalho construindo alianças com forças e organizações que compartilham os mesmos objetivos.

Atingidos de todo o mundo. Uni-vos.

Águas para a vida não para a morte!

Água e energia não são mercadorias!

Amazônia brasileira, 12 de novembro de 2025

Hoje, após a histórica decisão de constituir-se, o movimento internacional  dos atingidos encontra-se em fase de organização estratégica para o seu funcionamento. Entre seus desafios, está o fortalecimento de sua organização local, nacional e internacional com protagonismo dos atingidos. Também será necessário um ousado plano de lutas frente aos problemas enfrentados pelas milhões de famílias atingidas em todo o mundo, e um amplo e adequado plano de formação de militantes e lideranças. 

O desafio está lançado: os atingidos precisam assumir o comando do seu próprio movimento internacional.

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