Nas ruas de Belém, Marcha Global pelo Clima reúne mais de 70 mil pessoas
Ato percorreu 5 km e reuniu comunidades tradicionais, movimentos sociais e mais de 1.200 militantes do MAB
Publicado 16/11/2025 - Actualizado 16/11/2025

A Marcha Global pelo Clima reuniu milhares de pessoas na manhã deste sábado (15), em Belém (PA), em um dos principais atos da Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP 30. A mobilização reuniu mais de 70 mil pessoas entre povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, juventudes periféricas, sindicatos, organizações internacionais, movimentos do campo e da cidade, além de integrantes do Governo Federal e das casas legislativas.
Uma das presenças mais marcantes na marcha foi a delegação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que levou cerca de 1.200 militantes entre brasileiros e representantes de 45 países, que estiveram reunidos durante o IV Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens e Crise Climática, na Cúpula dos Povos e em agendas paralelas à conferência da ONU.
O percurso, de aproximadamente 5 quilômetros, saiu do Mercado de São Brás e seguiu até a Aldeia Amazônica. Os manifestantes levaram reivindicações pelo fim dos combustíveis fósseis, oposição à exploração de petróleo na Amazônia, denúncias sobre mineração e ao enfrentamento da crise climática nos territórios.




“A solução não virá de quem cria o problema”
Para Soniamara Maranho, da coordenação nacional do MAB e integrante do Movimento Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática, a marcha sintetiza a participação popular ausente dos espaços oficiais. “Nós entendemos que a solução não vem de quem cria o problema, o sistema capitalista, imperialista, esse neoliberalismo que se apropria dos bens naturais. Por isso, estamos construindo um movimento internacional, para que os atingidos pelas cheias, pelas queimadas, pelo petróleo e pela mineração sejam sujeitos da ação política. Esta é uma marcha organizada com mais de 1.500 organizações internacionais”.
Ela lembrou que a COP, patrocinada por grandes empresas – entre elas a mineradora Vale -, reúne governos e corporações, enquanto a marcha expressa a democracia real dos territórios. “O povo não está na COP 30. O povo está aqui. A marcha é o espaço da participação popular, dos sujeitos atingidos que representam a contradição desse sistema”, afirmou.
Thiago Alves, dirigente nacional do MAB, classificou o ato como um contraponto ao modelo fechado das negociações climáticas. “A COP continua sendo expressão do capitalismo financeiro, uma feira que decide o futuro do mundo sem participação da sociedade. O modelo não toca nos temas centrais e transforma em mercadoria a solução dos problemas que ele mesmo cria. A marcha mostra a presença da sociedade real, que vive os impactos da crise climática”, disse.
“Essa é a COP da verdade e da implementação”
Presente no ato, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ressaltou a importância das mobilizações populares. “É muito importante ver a democracia se expressando nas ruas. Depois de anos em que as COPs ocorreram sem manifestações externas, estamos no Brasil, um país do Sul Global, com democracia consolidada. A COP 30 simboliza o encontro de todos que lidam diariamente com os impactos da mudança do clima”, afirmou.
A ministra destacou a redução dos índices de desmatamento, mas alertou para a necessidade de avanços. “Reduzimos em 50% o desmatamento na Amazônia e 32% no país, mas não é suficiente. Nosso compromisso é o desmatamento zero. É preciso avançar no abandono dos combustíveis fósseis”, disse.
A ministra também fez críticas ao formato da COP 30, ao afirmar que “esta é a COP da verdade e da implementação”. Segundo ela, não há mais espaço para promessas vagas ou acordos que não saem do papel. Marina destacou que os países precisam apresentar medidas concretas para reduzir emissões, abandonar os combustíveis fósseis e enfrentar os impactos que já atingem, de forma desigual, as populações mais vulneráveis.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, reforçou a centralidade dos povos tradicionais no enfrentamento climático. “Chegou a vez da Amazônia falar para o mundo. Este espaço (a marcha) se torna a zona azul da COP 30, onde estão os guardiões da vida. Estamos aqui para reafirmar o compromisso com o fim da dependência dos fósseis e o combate ao racismo ambiental”, declarou.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, reforçou a centralidade dos povos tradicionais no enfrentamento climático. “Chegou a vez da Amazônia falar para o mundo. Este espaço (a marcha) se torna a zona azul da COP 30, onde estão os guardiões da vida. Estamos aqui para reafirmar o compromisso com o fim da dependência dos fósseis e o combate ao racismo ambiental”, declarou.
Atingidos do Brasil e do mundo
Entre os participantes da marcha, atingidos de diferentes regiões do Brasil e da América Latina relataram os efeitos diretos da crise climática e de grandes empreendimentos em seus territórios.
Maria das Graças, do território de Gesteira, em Barra Longa (MG), cobrou o reconhecimento pleno dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão. “São 10 anos de luta para sermos reconhecidos como atingidos. Nem todos foram reconhecidos, e é por isso que estamos aqui. Quem está na marcha é porque foi atingido”, denunciou.
Keise Luciana Almada Lopes, do Rio Grande do Sul, relatou que as enchentes de 2023 e 2024 atingiram de forma devastadora as comunidades das ilhas de Porto Alegre. “É importante estar aqui para ser ouvida e levar nossa cultura. A transição energética justa está sendo construída por nós atingidos. A marcha reforça a certeza de que lutamos por um futuro melhor para nossos filhos”, disse.
Olinda Baldes, liderança camponesa do Peru, destacou a mobilização das organizações de base na defesa da terra e da vida. “Estamos nesta marcha como camponeses, porque é fundamental lutar contra a ameaça das mudanças climáticas. Vivemos uma crise civilizatória que afeta nossa produção, nossa alimentação e a vida no planeta. Estamos organizados para dizer aos governos que não podem seguir negociando sem o povo, que é quem sente as consequências. Somos agricultores pobres, nós sustentamos a vida. A marcha alerta que o Brasil, assim como outros países, sentirá profundamente esses impactos”, afirmou.
Moroni Guimarães, coordenação estadual do MAB no Amapá, denunciou a continuidade da exploração madeireira em plena crise climática. “Enquanto vivemos cheias, estiagens e água salgada invadindo comunidades, a exploração da floresta continua. Balsas carregadas de toras circulam pelos rios sob o discurso de ‘manejo sustentável’, que não beneficia as comunidades ribeirinhas. É isso que estamos denunciando”, disse.
A marcha encerrou as atividades da Cúpula dos Povos neste sábado e marcou a maior mobilização popular da agenda paralela à COP 30 até o momento. Os movimentos seguem em Belém com agendas políticas, denúncias públicas e articulações internacionais para fortalecer a luta contra a crise climática e por uma transição energética justa e popular.
