Plenária internacional dos movimentos sociais reúne centenas de pessoas em Belém (PA)

Espaço foi marcado pela pluralidade das organizações que constroem a Cúpula dos Povos e a luta por uma sociedade que rompa com o sistema capitalista gerador da crise climática

Movimentos sociais ocupam o espaço com cores, cantos e bandeiras, reafirmando a força da unidade internacionalista. Foto: Joka Madruga / MAB
Movimentos sociais ocupam o espaço com cores, cantos e bandeiras, reafirmando a força da unidade internacionalista. Foto: Joka Madruga / MAB

Na tarde desta sexta-feira (14), foi realizada a Plenária Internacional de Movimentos Sociais Populares, trazendo a força e o protagonismo das mais de 1.000 organizações que se somam na construção da Cúpula dos Povos, em Belém (PA).

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Movimento Internacional dos Atingidos por Barragens, Crise Climática e Crimes Socioambientais marcaram presença na plenária com a força da organização dos atingidos de todo o mundo, com representações dos cinco continentes, 45 países e uma delegação de 1.200 lutadores e lutadoras. Os atingidos chegaram em marcha até o espaço da plenária, entoando cantos e palavras de ordem, com as bandeiras brancas em punho.

A atividade iniciou com a Mesa 1, coordenada pelo MAB e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que trouxe falas de diversas representações nacionais e internacionais. Estiveram na mesa Delmanh, da Via Campesina Internacional, vindo do Zimbabwe; Kaira Reece, do Panamá, da Confederação Sindical dos trabalhadores e trabalhadoras das Américas (CSA); Maria Fernanda Marcelino, da Marcha Mundial de Mulheres Brasil (MMM) e; Marília Peña, de Cuba, representante do Movimiento de Afectados por Represas (MAR).

Atingidos de todo o mundo marcaram presença na Plenária Internacional dos Movimentos Sociais. Foto: Joka Madruga / MAB
Atingidos de todo o mundo marcaram presença na Plenária Internacional dos Movimentos Sociais. Foto: Joka Madruga / MAB

Delmanh destacou que o poder de transformação está “dentro de cada um de nós” e convidou os presentes a acompanharem a apresentação dos resultados do III Fórum Global de Nyéléni, realizado no Sri Lanka. Ele ressaltou o papel das mulheres na agroecologia e na construção da soberania alimentar.

Marília Peña reafirmou o internacionalismo como caminho concreto para transformar a sociedade. Para ela, é preciso enfrentar o inimigo comum, o sistema capitalista, desde a vida cotidiana, fortalecendo o trabalho de base e novas formas de produzir, consumir e se relacionar:  “O presente que podemos dar a Fidel, no seu centenário em 2026, é andar lado a lado, adiante, com um projeto para nosso povo unido.”

Kaira Reece apontou que a Cúpula é um espaço vital para a luta da classe trabalhadora em defesa da democracia e da paz. Denunciou o avanço da ultradireita e a precarização do trabalho em toda a região:

“Nossa prioridade é marcada pelo princípio da solidariedade, com os povos do Haiti, Cuba, Venezuela e Colômbia diante dos ataques dos EUA. A ultradireita tem uma mensagem clara e unificada, sustentada pela precarização das condições de vida. Só a unidade na diversidade poderá melhorar a vida do nosso povo.”

Representando a MMM, Maria Fernanda Marcelino saudou a unidade visível “no colorido de cada rosto, de cada bandeira e de cada luta”. Denunciou as falsas soluções climáticas do capital e o uso do discurso de combate ao narcotráfico para justificar o assassinato da população pobre nas periferias do Brasil e do mundo:

“Nós caminhamos para o mesmo lugar e queremos um mundo onde o machismo, o racismo e o imperialismo não tenham lugar. Romper com essas estruturas que nos oprimem e exploram é uma luta de todos para derrotar o imperialismo. Sonhar e lutar é nossa tarefa fundamental.”

O segundo momento da plenária reuniu lideranças indígenas, pescadores artesanais, quilombolas, extrativistas, atingidos pela mineração, trabalhadores urbanos e organizações internacionalistas, como Articulação dos Povos Indígenas (APIB), Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), Movimento Ecossocialista da Venezuela, Amigos da Terra Internacional, Grassroots Global Justice e Central dos Movimentos Populares (CMP).

Povos do campo, das águas, das florestas e das cidades se unem contra o capitalismo e a destruição dos territórios. Foto: Joka Madruga / MAB
Povos do campo, das águas, das florestas e das cidades se unem contra o capitalismo e a destruição dos territórios. Foto: Joka Madruga / MAB

As falas convergiram na defesa da paz, da soberania dos povos e da justiça climática, como pilares inseparáveis da luta contra o capitalismo, o fascismo e as violências que atravessam territórios e corpos. As lideranças reforçaram que nenhum direito pode ser retirado e que a titulação e a proteção dos territórios tradicionais são urgentes para qualquer estratégia real de justiça climática.

Foi denunciada a crescente captura corporativa das decisões climáticas pelas multinacionais, especialmente no setor de mineração. As organizações defenderam que as políticas de clima, transição energética e adaptação só podem ser legítimas se forem debatidas diretamente com o povo, garantindo participação popular plena e efetiva.

Várias falas destacaram a importância da unidade entre campo e cidade e da solidariedade internacionalista. Foram lembradas as violências contra povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores e o genocídio do povo palestino. Experiências concretas demonstraram a capacidade dos movimentos sociais de construir alternativas, como as cozinhas solidárias organizadas durante as enchentes no Rio Grande do Sul e as práticas de ecossocialismo desenvolvidas na Venezuela.

A plenária foi unânime ao afirmar que enfrentar a crise climática implica enfrentar o capitalismo, e que outro modelo é possível: justo, de caráter popular e em harmonia com a Mãe Terra, e que esta nova sociedade já está sendo construída diariamente pelas mãos dos povos.

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