Eixo 3 da Cúpula dos Povos: A transição que queremos é justa, popular e inclusiva
A transição precisa ser uma ferramenta de soberania e justiça social, e não de acumulação de riqueza
Publicado 13/11/2025 - Actualizado 13/11/2025

À primeira vista, o termo pode soar bonito, mas não alcança questões fundamentais aos povos em seus territórios. Em permanente disputa, o conceito de transição energética é insuficiente, reforça apenas os interesses do capital e tem sido usado para anunciar a substituição de fontes de combustíveis fósseis por opções supostamente limpas e renováveis.
A afirmação do Eixo 3 da Cúpula dos Povos – reunido em seminário na manhã desta quinta-feira (13) – é que essa transição só servirá se for justa, popular e inclusiva, que acontece através de uma mudança radical da política energética em todo o mundo.
“A transição proposta pelo capital não consegue sequer descarbonizar”, alertou Elisa Estronioli, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Durante o seminário, ela destacou que a crise climática é uma crise do capital e “se o capitalismo é a causa da crise climática, não é ele que pode apresentar as soluções para os problemas que ele mesmo causou”, apontou.

Neste sentido, uma transição energética pensada pelo capital e pelo norte global, cujo objetivo central é continuar gerando lucro, não nos serve. “Ela repassa aos nossos países os custos dessa produção, criando zonas de sacrifício nos locais onde estão os minerais, as condições de água e o que mais eles quiserem explorar. Assim, eles vão avançando sobre nossos territórios e criando cada vez mais atingidos”, disse Elisa.
Para os atingidos do Brasil e as populações de todo o mundo, ela apontou que a transição energética precisa ser justa, soberana e popular:
“Justa para que não amplie as desigualdades e garanta acesso a água e energia; soberana para que tenha sempre centralidade no Estado – porque o capital não será capaz de propor uma transição assim – e, por fim, que seja popular: conduzida pelo povo, para que nós estejamos no comando e possamos dizer o que queremos e fazer o que queremos”.
A plenária do Eixo 3 também denunciou as formas que o capital se aproveita da crise climática para aumentar cada vez mais a sua margem de lucro. Fernando Tormos, da Aliança pela Transição Justa, alertou que “estamos vendo que todos os serviços sociais de saúde, educação e cultura estão sendo privatizados”. Ele continuou ressaltando “que o problema não é falta de dinheiro, mas a acumulação por poucos”, e que por isso é necessário e urgente uma transformação sistêmica, que requer essencialmente a participação de todos. “Não vamos permitir que continuem nos dividindo, oferecendo transição para uns e não para outros. A transição não será justa se não incluir todos os atingidos”, concluiu Fernando.
Eixo 3 encaminhará definições à Cúpula

O Seminário iniciou com a apresentação da síntese política do eixo, através de um documento que aponta elementos de diagnóstico da realidade e a concepção dos movimentos populares sobre transição justa. O texto finaliza com o indicativo de 20 ações e propostas possíveis para o enfrentamento da crise climática e a efetivação de uma transição justa, popular e inclusiva, alertando que ela só será possível através da luta de classes.
O documento é fruto de muitas discussões em todo o mundo, provocadas por mais de 1.500 organizações signatárias, e recebeu contribuições da plenária durante o seminário. Finalizado, o texto se juntará aos apontamentos dos outros cinco eixos para compor a Declaração Final da Cúpula dos Povos.
Os atingidos na Cúpula dos Povos
Com a maior delegação internacional, os atingidos do mundo participam da Cúpula dos Povos com cerca de 1.200 pessoas. São homens e mulheres de 45 países e de todos os estados do Brasil, atingidos por barragem, pela crise climática ou pelos projetos exploratórios do capital.
Enquanto a COP 30 concentra-se em negociações diplomáticas e compromissos vazios, a Cúpula dos Povos apresenta uma narrativa alternativa para o enfrentamento da crise climática. Com mais de 1.200 organizações participantes, a expectativa é que mais de 30 mil pessoas passem pela Cúpula, reafirmando a uma resposta concreta dos povos à inércia da COP.
