Cúpula dos Povos leva resistência e justiça climática como contraponto à COP30
Em novembro, Belém vai sediar a Cúpula dos Povos, evento que reunirá mais de 1O mil pessoas, dando voz a movimentos e comunidades tradicionais, com soluções para a crise climática baseadas na justiça social
Publicado 02/10/2025 - Actualizado 31/10/2025

Em novembro, Belém será sede da Cúpula dos Povos, destacando a voz da Amazônia e dos territórios tradicionais e comunidades locais. Enquanto a COP30 – Conferência do Clima da ONU – reúne governos, chefes de Estado e empresas para negociar metas climáticas, a Cúpula dos Povos reúne quem vive no cotidiano os efeitos da crise climática e propõe caminhos alternativos, pautados na justiça social e ambiental. O evento será de 12 a 16 de novembro, e deve reunir mais de 10 mil pessoas e cerca de 1.000 organizações de todo o mundo.
É um grande encontro internacional de movimentos sociais, organizações da sociedade civil, coletivos populares, povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, juventudes, sindicatos, grupos ambientalistas, feministas e outros setores que se reúnem paralelo à COP.
Cleidiane Vieira, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), explica que esse é um espaço popular e crítico à COP oficial, que amplifica as vozes dos povos e comunidades que mais sofrem com os efeitos da crise climática, mas que estão à margem do espaço de decisão nas negociações formais:
“Desde 2023, estamos articulando a Cúpula dos Povos no território amazônico, aproveitando a Cúpula da Amazônia, que já foi realizada, e a realização da COP na região. Historicamente, essa Cúpula é um espaço fundamental para a articulação global, reunindo organizações e redes de todo o mundo que atuam na questão climática, uma discussão desafiadora para todos nós”.
Ao fim da Cúpula, será escrita uma carta política com reivindicações, denúncias e alternativas ao modelo extrativista, e que sobrepõem o capital à vida e ao meio ambiente. As organizações farão uma barqueata pelo rio Guamá, com barcos e flotilhas de todo o mundo, seguida da Marcha Global pelo Clima, no dia 15 de novembro, que contará com todas as organizações.
A primeira Cúpula dos Povos com grande visibilidade, foi na Rio+20 (2012) – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável -, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Desde então, versões menores e encontros semelhantes foram planejados em outras COPs.
As organizações que compõem a Cúpula dos Povos de 2025, avaliam que há muitas edições não se vê uma pressão social expressiva dos movimentos populares sobre a temperatura das articulações feitas internamente na COP, pelas organizações formais das nações, como os chefes de Estados, relações internacionais e ministérios do meio ambiente. O evento na Amazônia, portanto, que contará com a força dos movimentos populares da região e de todo país, mais a articulação internacional previamente feita, tende a escrever – segundo a expectativa dos movimentos – uma nova página de força e pressão popular.



Eixos de debate
A Cúpula está dividida em seis grandes eixos de debate. O MAB participa da articulação de todos eles, com maior incidência no Eixo 3, que discute a transição justa e popular, onde também passa a luta por um modelo de transição energética popular. O movimento deve levar cerca de 1.000 atingidos do Brasil, que se somam aos 200 delegados do IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática, de países dos cinco continentes.
“A avaliação do MAB é que é preciso aproveitar o momento em que o mundo estará com os olhos voltados para o Brasil e para a Amazônia, para denunciar esse modelo de transição energética que não interessa às populações e territórios. Queremos aprofundar e expor as contradições que este modelo está trazendo para a crise climática, e como ela está mudando a vida dos atingidos por barragens, com cheias e secas extremas de norte a sul do país”, afirma Cleidiane.
As organizações articulam uma agenda ampla e radicalmente social para o enfrentamento da crise climática, estruturada em eixos centrais que desafiam o modelo econômico vigente.
O primeiro eixo defende Territórios Vivos e Soberania Popular, exigindo a demarcação de terras e o incentivo à agroecologia, em contraposição direta ao agronegócio predatório. O eixo de Reparação Histórica e Combate ao Racismo Ambiental critica o impacto desigual da crise em populações negras e indígenas, e exige políticas que revertam vulnerabilidades históricas. A proposta de Transição Justa, Popular e Inclusiva busca evitar que a mudança energética penalize comunidades, levantando críticas à financeirização do clima e defendendo alternativas de desenvolvimento que unam justiça social e territorial.
Os demais eixos reforçam a defesa da Democracia e do Internacionalismo dos Povos, com foco na oposição às opressões interseccionais; nas Cidades Justas, dando voz às periferias urbanas, que são as mais afetadas por enchentes e poluição; e no Feminismo Popular, que destaca o protagonismo e as resistências das mulheres nos territórios contra as violências relacionadas ao extrativismo.
Até a Cúpula dos Povos, no dia 12 de novembro, publicaremos semanalmente textos aprofundando os seis eixos e como o MAB irá se integrar e incidir em cada um deles.
