Atingidos pela UHE Estreito continuam marcha por direitos

Entre outras categorias, os pescadores serão afetados nas condições de trabalho e transporte, pois o lago da barragem alterará toda a forma de vida existente no rio e impedirá o […]

Entre outras categorias, os pescadores serão afetados nas condições de trabalho e transporte, pois o lago da barragem alterará toda a forma de vida existente no rio e impedirá o livre deslocamento das pessoas

Cerca de 600 atingidos pela Usina Hidrelétrica de Estreito, que está sendo construída entre o estado do Tocantins e Maranhão, estão em marcha desde o último dia 23. Eles saíram da cidade de Araguaína e seguem em direção à cidade de Estreito, num trajeto de 125 quilômetros. Com a marcha, os atingidos querem pressionar para que as empresas responsáveis pela obra os indenizem e reconheçam seus direitos. A previsão de chegada é para o próximo dia 1º de setembro.

Além dos atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a marcha também conta com a participação e organização do MST, CPT, colônia de pescadores, movimento de direitos humanos e o movimento de mulheres. A Usina Hidrelétrica de Estreito é de propriedade das empresas Suez, Vale, Alcoa e Camargo Corrêa, que conformam o Consórcio Ceste Energia. Diversas famílias atingidas pela obra não têm perspectiva de vida, pois não são reconhecidas pelo Consórcio, entre elas as famílias de pescadores, cerca de 1500 segundo levantamento realizado pelo Ministério de Aquicultura e Pesca.

A construção da Usina Hidrelétrica de Estreito irá modificar o leito do Rio Tocantins, alterando o habitat e o movimento dos peixes. Segundo os pescadores, essa modificação irá influenciar na quantidade, na disponibilidade e na qualidade do pescado existente na região. Além disso, a partir do desvio do Rio Tocantins para a construção da barragem, a passagem dos barcos descendo o rio em direção à cidade de Estreito foi obstruída, tirando dos pescadores e de outras pessoas o direito de locomoção.

“O processo de implementação da usina de Estreito tem sido um dos mais perversos dos últimos tempos no setor elétrico. A falta de dialogo, de critérios, e, sobretudo, de participação das famílias atingidas nas negociações tem causado a violação dos direitos humanos, tais como: o direito à alimentação, à terra e ao rio para trabalhar, à moradia digna, à saúde, entre outros”, afirmou Cirineu da Rocha, coordenador do MAB.

Flávio Gonçalves, também coordenador do Movimento diz que o objetivo da marcha é chamar atenção dos representantes do Consórcio Estreito Energia para que eles discutam os prejuízos que a usina tem causado às famílias atingidas. “Nós estamos aqui para tentar resolver o impasse, mas a empresa se nega a nos ouvir”, acrescentou.

Já foram construídas várias barragens no Rio Tocantins, à saber: Serra da Mesa, Cana Brava, São Salvador, Peixe Angical, Lajeado, Estreito, e Tucuruí, e existem projetos para construção de outras tantas, como Ipueiras, Tupiratins, Serra Quebrada e Marabá. O MAB denuncia que as empresas de energia estão transformando o Rio Tocantins em um imenso lago e deixando as famílias na miséria. “Milhares de pessoas já foram e serão atingidas. A maioria delas sobrevive da pesca, do plantio das vazantes e da coletas de frutos de uma maneira muito íntima com o espaço, daí a necessidade urgente do reconhecimento de pescadores, extrativistas, oleiros, vazanterios, barraqueiros e barqueirosi como atividades a serem impactadas e assim pensarmos, construirmos e implementarmos políticas que levem em consideração essas categorias”, afirmam os coordenadores do MAB do Tocantins.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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