11º Grito dos Excluídos ecoa em todo o país
Pelo fim da corrupção, por democracia direta, pela ética na política e pelo fim da exclusão social, o 11º Grito dos Excluídos/as ecoou por todo o país. Com o lema […]
Publicado 11/09/2005
Pelo fim da corrupção, por democracia direta, pela ética na política e pelo fim da exclusão social, o 11º Grito dos Excluídos/as ecoou por todo o país. Com o lema “Brasil, em nossas mãos a mudança”, milhares de pessoas, como desempregados, jovens, meninos/as de rua, migrantes, lavradores, índios, aposentados, trabalhadores da economia informal etc., ocuparam ruas e praças de quase todas as capitais e muitas cidades do país. O Grito era por um novo modelo econômico que crie empregos, distribua renda e que privilegie os investimentos públicos nas áreas sociais; por um programa emergencial de superação da miséria e da pobreza; pelo combate da desigualdade social; por uma reforma política profunda e radical, que devolva ao povo o direito de decidir e, também, por uma soberania nacional que garanta os interesses do povo brasileiro sobre nossa economia, território, riquezas e biodiversidade.
Entre os participantes da 18º Romaria dos Trabalhadores e do 11º Grito dos Excluídos, a cidade de Aparecida/ SP recebeu mais de 60 mil romeiros. No momento do Grito, milhares de pessoas, numa simbologia criativa, gritavam frases escritas em enormes mãos que, entre várias coisas, diziam: Basta de corrupção: queremos punição, ética e transparência; Basta de indiferença e competição: queremos solidariedade e amor; Basta de latifúndio: queremos reforma agrária; Basta de superávit primário: queremos políticas sociais etc.
Esta criatividade e ânimo dos manifestantes também foram registrados em outros pontos do Brasil: no Monumento da Independência em São Paulo/ SP, mais de oito mil pessoas animaram o Grito; em Recife/PE, 15 mil; Salvador/BA, 30 mil; Aracaju/SE, 6 mil; Manaus/AM, 10 mil; e em Fortaleza/CE, 15 mil. A secretaria nacional continua recebendo informes de outras localidades.
Neste ano, o povo brasileiro vive um misto de desesperança, tristeza e, por que não dizer, de decepção, já que as tão sonhadas e esperadas mudanças não vieram. A realidade mostra que o Brasil ainda está refém dos juros altos e do endividamento externo, o que o torna sujeito a freqüentes ajustes fiscais exigidos pelos representantes do capital financeiro internacional. O governo tem se dobrado a essas exigências internacionais, encaminhado as reformas neoliberais, tornando-se incapaz de implementar políticas públicas como a reforma agrária ou de aplicar maiores investimentos na saúde, educação, transporte, habitação, direitos humanos, meio ambiente, entre outras. A sociedade brasileira está dilacerada pelo desemprego, pela pobreza, a fome, a violência, a corrupção e a impunidade. Isso tem gerado, muitas vezes, a revolta e a descrença do povo quanto ao destino político do país. A mensagem do 11º Grito foi justamente resgatar a esperança e o ânimo do povo para que se organize e se mobilize para exigir mudanças profundas e estruturais.
O Grito, que teve origem em 1995, em 170 cidades no Brasil, logo se firmou na agenda anual das pastorais e movimentos sociais. Nos últimos anos, tem acontecido em mais de 1500 localidades do Brasil. Percebendo sua vocação universal, a partir de 1999, espalhou-se por outros países da América Latina, Central e Caribe. No próximo 12 de outubro, data que relembra a colonização espanhola das Américas e a resistência e luta dos povos, sob o lema “Por Trabajo, Justicia y Vida”, mais de 23 países realizarão o Grito dos Excluídos.
Ainda em Aparecida, foi lançado o Manifesto do Grito dos Excluídos Continental. O documento constata a realidade de exclusão, mas mostra também que cresce por toda parte a resistência dos povos: “Os milhões de camponeses do mundo sem acesso à terra produtiva, os milhões de homens e mulheres sem emprego ou em empregos precários, as mulheres que padecem profundas desigualdades e injustiças em todo o planeta – porém, especialmente nos países excluídos e empobrecidos -, os mais de 200 milhões de migrantes que sofrem a negação de seus direitos fundamentais, os povos indígenas espoliados e massacrados ao longo dos séculos, as minorias étnicas, religiosas, sexuais que são violentadas cotidianamente, os milhões de jovens que não encontram emprego nem têm acesso à educação, expostos à violência e às drogas… todos e todas nos mostram os múltiplos rostos da exclusão. Porém, estes, por sua vez, são os rostos da luta e da resistência social”.
Diante do quadro da exclusão, o Grito apresenta propostas concretas como: pressionar para que o governo realize uma auditoria pública da dívida externa e o plebiscito oficial sobre a ALCA; realizar ações de resistência ao avanço do poder imperial, especialmente dos Estados Unidos, lutando contra a ALCA, OMC, a dívida externa, a guerra e pela retirada das tropas brasileiras do Haiti; superar as políticas compensatórias por efetivas políticas públicas, pois, como diz o poeta, “a esmola ou vicia o cidadão ou lhe mata de vergonha”; estimular o cuidado com a saúde do planeta azul, para que, em seu solo e em suas águas, todas as formas de vida possam multiplicar-se, com base no uso justo e correto dos recursos naturais.
Por fim, a realidade de corrupção e de descrédito, presente hoje na política, ficou evidente neste grito. É preciso repensar a política em outro patamar: precisamos construir novas formas de democracia direta, onde o povo possa, além de escolher seus representantes, ter poder para controlar aqueles que receberam o mandato. Não é mais possível continuar só com os partidos políticos. Temos que construir novas formas de representatividade que garantam à população o direito de exercer e influir na política. Daí a força do lema do Grito: “Brasil, em nossas mãos a mudança”.