Racismo Ambiental em Belém na COP30
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Metadados
Título da Arpillera
Racismo Ambiental em Belém na COP30
Descrição
A peça descreve uma realidade alarmante em Belém do Pará, onde o progresso e o desenvolvimento urbano estão sendo construídos às custas da violação dos direitos das populações periféricas. Com a chegada da COP30, a cidade se prepara para receber líderes mundiais do clima, mas esconde uma triste realidade de racismo ambiental, desigualdade e negligência com os direitos humanos. A peça questiona como a COP30 pode ser um marco na luta contra as mudanças climáticas se ignora a realidade das populações periféricas que já vivem em constante emergência ambiental. É preciso que as autoridades locais incluam de fato as comunidades periféricas no debate, garantam acesso a serviços básicos e respeitem o direito à moradia. Caso contrário, Belém corre o risco de se tornar um símbolo da contradição: palco de discursos sobre sustentabilidade, mas construída sobre exclusão e desigualdade.
Eixo - Tema
Data
abril 1, 2025
Autoras
Mulheres Atingidas de Belém - PA
Cartinha
Somos moradoras da cidade de Belém, no Pará e, com a aproximação da COP30, viemos acompanhando com atenção e preocupação, as transformações que a cidade tem vivido. Vemos as obras crescendo em ritmo acelerado, os tapumes coloridos escondendo os canteiros de reforma, as praças sendo revitalizadas, o centro sendo preparado para impressionar os olhos do mundo. Mas vemos e vivemos também, o outro lado dessa cidade: o lado que está sendo ignorado, removido e esquecido.
Moramos em uma das tantas periferias que ficam próximas ao centro de Belém. E o que temos testemunhado é um "progresso" que avança por cima de direitos, de casas, de vidas. Enquanto os governos falam em legado sustentável e projeção internacional, nós, das áreas periféricas, enfrentamos remoções forçadas, ausência de diálogo e negação de direitos básicos. Essa cidade que querem vender como exemplo para o mundo está sendo construída e reformada sobre a exclusão das populações locais.
Nas nossas comunidades, a ausência de saneamento básico é a regra. Valas a céu aberto, fossas improvisadas, falta de água potável, essa é a realidade de muitos bairros invisibilizados no desenvolvimento da COP em Belém. Enquanto as ruas do centro ganham asfalto novo e iluminação moderna, nós continuamos expostos à contaminação, às doenças evitáveis e ao abandono do poder público.
E ainda tem mais: o projeto de privatização dos serviços de água e esgoto ameaça transformar o acesso à água, que é um direito essencial, em um privilégio para poucos. A lógica é clara: quem pode pagar, tem. Quem não pode, segue à margem.
Mas o que mais nos revolta é o tratamento dado às famílias atingidas diretamente pelas obras da COP30. Muitas estão sendo removidas de suas casas, sem aviso, sem alternativa, sem qualquer proposta digna de reassentamento, pelas construções das macrodrenagens dos canais na cidade. É como se quiséssemos esconder a pobreza para que os olhos estrangeiros não a vejam. É como se as nossas vidas fossem descartáveis em nome de uma cidade “mais bonita” para os outros.
Isso tem nome: racismo ambiental. Somos, em sua maioria, negros, descendentes de indígenas, ribeirinhos e pobres. E somos justamente os mais afetados por essa lógica de cidade que serve ao mercado, mas não ao povo. Uma cidade pensada para turistas, investidores e elites, e não para quem dá vida e carrega Belém nas costas todos os dias.
Um exemplo emblemático disso é a Vila da Barca, uma das maiores comunidades em palafitas da América Latina e símbolo da resistência urbana em Belém. Por décadas, seus moradores vêm lutando por moradia digna, urbanização e permanência no território. Agora, com as pressões da COP30 e a aceleração das obras de infraestrutura, a Vila da Barca enfrenta mais uma vez o risco de remoção e silenciamento. Em vez de ser reconhecida como parte viva da cidade, como patrimônio social e cultural, a comunidade é tratada como obstáculo ao “progresso”. Sua luta por dignidade é invisibilizada, quando deveria ser central em qualquer debate sério sobre justiça climática e direito à cidade.
A COP30 não pode ser palco de discursos bonitos enquanto permite, ou pior, promove a exclusão dentro da própria cidade que a sedia. Justiça climática começa dentro de casa. E justiça ambiental só existe quando há respeito às comunidades, à moradia, ao direito de existir com dignidade.
Falamos aqui em nome de quem está vendo sua casa ameaçada, sua água contaminada, sua história sendo apagada. Se Belém quiser realmente ser símbolo de algo na COP30, que seja de resistência, inclusão e compromisso verdadeiro com o povo e com o planeta.
Por uma Belém inclusiva, democrática, justa e popular!
Fotógrafo/a
Clara Fernandes Oblack
Localização
Belém/PA
Dimensões
64x39 cm
Bloco
Tecendo a Organização
Anexos
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