Luta e resistência contra hidrelétricas em Mato Grosso ganha destaque em novo documentário

“Arinos: uma história única de um filme repetido” está disponível online e sua primeira exibição aconteceu durante o 1º Encontro da Juventude da Terra Indígena Apiaká-Kayabi

Mobilização do Festival Juruena Vivo na cidade de Juara. Foto: Caio Mota / Coletivo Proteja

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) de Mato Grosso, a Rede Juruena Vivo e o Coletivo Proteja disponibilizou neste sábado (03), o documentário “Arinos: Uma História Única de um Filme Repetido”. O vídeo pode ser acessado pelo site “arinoslivre.info” e teve sua primeira exibição sábado, (03/08), na Aldeia Tatuí, no município de Juara, em Mato Grosso, durante a realização do primeiro Encontro das Juventudes do Território Indígena Apiaká-Kayabi. 

O documentário narra a luta e resistência de comunidades indígenas e rurais contra o projeto da Usina Hidrelétrica (UHE) de Castanheira, no noroeste de Mato Grosso. Com 35 minutos de duração, o vídeo busca conectar o passado com o contexto atual, ao mostrar a continuidade e a relevância histórica da luta contra projetos hidrelétricos na região do rio Arinos, localizado na bacia do Juruena, no município de Juara. 

“As mobilizações do passado mostram que não apenas as ameaças continuam presentes, mas também reforçam que é, somente através da luta, que conseguimos promover verdadeiras conquistas e evitar retrocessos”, ressalta Jefferson Nascimento, coordenador do MAB/MT e um dos produtores do documentário. Em 1985, a união de 14 povos indígenas conseguiu impedir a construção de outro projeto de hidrelétrica na mesma região, que hoje é ameaçada pelo projeto de Castanheira.

“Arinos: Uma História Única de um Filme Repetido” é fruto de um esforço coletivo entre movimentos, organizações e pessoas que vivem nas comunidades da região para produzir um material informativo que fortaleça as lutas por direitos. O material será exibido em comunidades, universidades e escolas da região. 

Visão aérea do encontro do rio Arinos e Peixe. Mato Grosso, Brasil. Foto: Pablo Albarenga

Ameaças

O noroeste de Mato Grosso, lar de cerca de 1/4 das populações indígenas do estado e de milhares de pessoas, preserva um cenário ambiental notável, e é um território sagrado com um valor espiritual e cultural para dezenas de povos. No entanto, desde os anos 1970, a região enfrenta ameaças como o agronegócio, a mineração e projetos hidrelétricos. A microbacia do rio Arinos, está no centro desse conflito, especialmente com a proposta de construção da Usina Hidrelétrica Castanheira, que alagará cerca de 10 mil hectares, impactando diretamente as terras indígenas Apiaká-Kayabi e Japuíra, e várias comunidades locais. Além disso, estão previstas três Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) no córrego das Pedras e duas CGH no rio dos Peixes , ampliando os desafios para a conservação ambiental e a sobrevivência das comunidades.

Vitória

A usina de Castanheira, proposta para o rio Arinos, enfrentou forte resistência da população que vive na região devido aos potenciais impactos ambientais, culturais e socioeconômicos, afetando milhares de pessoas e cinco povos indígenas, que não foram consultados adequadamente.

Em fevereiro deste ano a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA/MT) arquivou o processo de licenciamento da UHE Castanheira, devido ao não cumprimento de uma série de recomendações para complementação do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) por parte da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

No dia 25 de abril de 2024, o Ministério de Minas e Energia (MME), em reunião com lideranças da Rede Juruena Vivo, anunciou a retirada do projeto da Usina Hidrelétrica de Castanheira do Plano Decenal de Energia (PDE), embora ainda sem manifestação oficial. A decisão de arquivar o processo de licenciamento ambiental representa um marco na proteção dos direitos das comunidades e na preservação do meio ambiente, após anos de resistência pela proteção do rio Arinos.

Exibição

Uma das intenções do documentário é que o filme se torne uma ferramenta de informação e formação política na luta por direitos em Mato Grosso. “Pretendemos exibi-lo nas aldeias, nas comunidades locais e em espaços públicos do município de Juara e Sinop (MT), como escolas e universidades”, reforçou Jefferson. 

De acordo com o coordenador do MAB de Mato Grosso, o objetivo é promover um amplo debate sobre os problemas abordados no documentário e fortalecer os laços de articulação entre as comunidades indígenas, a população rural e urbana, unindo esforços contra a construção desses empreendimentos.

A primeira exibição do documentário foi realizada no último sábado, dia 3 de agosto, durante o primeiro Encontro das Juventudes do Território Indígena Apiaká-Kayabi. A atividade aconteceu entre os dias 2 e 4 de agosto, na aldeia Tatuí, localizada no município de Juara, em Mato Grosso, e é organizada pelas juventudes dos três povos da TI do povo Kawaiwete, povo Munduruku e povo Apiaká, além da participação dos povos Rikbaktsa, Menky e Enawene Nawe. O encontro reuniu os jovens para debater assuntos importantes para suas vidas, compartilhar saberes e celebrar a rica diversidade cultural desses povos. 

As próximas exibições do documentário serão divulgadas na página arinoslivre.info 


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