NOTA | MAB se solidariza com comunidades de Fecho de Pasto atacadas por pistoleiros em Correntina (BA)

Nesta terça-feira, 11, fecheiros da comunidade tradicional de Cupim, em Correntina (BA), foram atacados com arma de fogo por pistoleiros

Fecheiros reividicam direitos das comunidades tradicionais de Fecho de Pasto durante ato em Correntina (BA), em dezembro de 2022. Foto: Amanda Alves

Na tarde desta terça-feira, 11, pistoleiros abriram fogo contra um grupo de “fecheiros” no Fecho de Pasto de Cupim, em Correntina (BA), deixando três vítimas com balas alojadas no corpo, uma delas em estado grave. Os trabalhadores foram surpreendidos com os tiros ao voltarem para casa, após um mutirão em prol da reconstrução da ponte e do rancho da área coletiva da comunidade, destruídos em janeiro deste ano por criminosos.

Nós, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), repudiamos o acontecido e reiteramos a defesa dos territórios tradicionais, em especial da região oeste da Bahia, que reúne mais de 60 comunidades de Fundo e Fecho de Pasto na Bacia do Rio Corrente. São comunidades que se caracterizam pela forma de ocupação tradicional dos territórios, que permite o uso da terra de maneira não predatória, uma prática histórica de resistência ao modelo de produção do agronegócio – baseado na monocultora, no uso indiscriminado da água e na grilagem de terras.

As comunidades de Fundo e Fecho de Pasto atuam com a agricultura familiar e camponesa, atividades como a criação de animais de pequeno porte e a manutenção de tradições de gerações anteriores. Por isso, os modos de vida dessas comunidades são fundamentais na manutenção das áreas de Cerrado em pé, que guarda uma grande quantidade de nascentes de água, sendo consideradas “zonas de recarga” dos lençóis freáticos.

Essas áreas preservam também outros tradições culturais e étnicas muito relevantes para a região. É importante ressaltar que os rios do oeste baiano são responsáveis por parte considerável de recarga do Rio São Francisco. Como as águas dos rios dessa região contribuem com a vida e desenvolvimento do nordeste brasileiro, quando criminosos atentam contra a vida de fecheiros, atentam também contra a vida do povo nordestino.

As comunidades de Fundo e Fecho de Pasto da Bacia do Rio Corrente vivenciam há mais de 50 anos um processo intenso expropriatório de suas áreas coletivas por parte de empresas do agronegócio e grileiros. Os fecheiros dessa região travam desde então uma luta em defesa da posse de terra, utilizadas como área comum para criação de pequenos rebanhos e sobrevivência das famílias ribeirinhas. Ainda assim, a ameaça de jagunços e grileiros a serviço de latifundiários é constante. Eles grilam as terras e as águas.

Conflitos como esses são previstos. Há tempos, diversas denúncias foram feitas aos órgãos competentes e vários atos públicos massivos foram realizados pelo povo dessa região. A morosidade e negligência do governo do Estado em atender a pauta das comunidades tradicionais e mediar o conflito resultou na efetivação do crime já anunciado

O MAB se solidariza com as vítimas e exige que o Governo da Bahia explicite sua posição diante dos conflitos históricos com as famílias das comunidades de Fecho de Pasto de Correntina e tome as providências cabíveis junto `às autoridades competentes.

Basta de grilagem de terras e de águas no oeste baiano!

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