“Levem o nosso grito aonde a gente não pode chegar”, pede pescador
Em Caravana em defesa pelo Rio Tocantins, no Pará, movimentos sociais, ribeirinhos, pescadores e quilombolas denunciam impactos que serão causados pela ampliação da Hidrovia Araguaia – Tocantins
Publicado 02/02/2022 - Atualizado 03/02/2022
Indignação, preocupação, denúncias, propostas e pedidos de socorro marcaram o segundo dia de debates da Caravana em defesa do Rio Tocantins, que acontece no Pará. A caravana teve início neste domingo (30) e ir´á percorrer comunidades de 11 municípios do estado, de Barcarena até Itupiranga para denunciar os impactos do projeto de ampliação de Hidrovia Tocantins – Araguaia.
Para executar o projeto, governo federal planeja escavar e dragar milhões de metros cúbicos de rochas e areia do leito de um dos mais importantes rios da Bacia Amazônica. O objetivo é aprofundará o leito do Rio Tocantins para permitir o transporte rápido de soja e minérios para a China e a Europa. As obras, entretanto, irão ameaçar a subsistência de populações ribeirinhas, com implosão de áreas de pesca, além de afetar o habitat de espécies endêmicas de peixes, tartarugas e outros elementos da fauna local.
Com a primeira parada na comunidade de Paquetá, em Limoeiro do Ajuru (PA), os moradores da região citaram uma constante preocupação com os rumos do projeto da Hidrovia Araguaia Tocantins. Eles cobram a atuação do Ministério Público para que tenham o direito de serem consultados sobre o projeto.
Para Adenilson Duarte da Costa, 43, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cametá, o medo dos impactos sobre o rio fez a população entrar em estado de alerta. ‘’O sentimento no momento é de revolta, pois sabemos que a Hidrovia Araguaia-Tocantins não vai trazer nenhum benefício para nossa população. Pelo contrário, vai prejudicar a nossa fonte de sobrevivência, impactando o meio ambiente, a nossa vida social e econômica. Por conta disso, nós temos nos dedicado nesses últimos meses a trabalhar diretamente nas nossas comunidades, com nossas lideranças, para que o povo daqui entenda o projeto e os nossos diretos”, afirmou o sindicalista.
Por volta das 15h30, a caravana desembarcou na comunidade de Mapiraí, no município de Cametá (PA), onde os integrantes foram recebidos por ribeirinhos locais no Barracão Comunitário Nossa Senhora das Graças. Segundo o pescador Manuel Raimundo Gaia Dias, que participou da recepção, muitos ribeirinhos desconhecem os impactos que o projeto irá causar, por isso, a caravana é importante.
“Eu creio que a maioria da população ribeirinha desconhece, ou não está ciente da gravidade desse projeto. Então, é muito importante atos como esse. Para além disso, é necessária a participação dos nossos representantes políticos, das nossas comunidades, nossas famílias e a união das entidades, que nos representam. Para o bem do povo ribeirinho, levem a nossa voz aonde a gente não pode chegar, levem o nosso grito”, concluiu o pescador.
Iury Paulino, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), conta que a caravana tem sido bem recebida por onde passa. “A gente percebe que o povo está preocupado, entretanto, enquanto houver luta, haverá esperança. E nessa luta estamos de mãos dadas. Eles podem contar com o MAB”, afirmou.
A Caravana em defesa do Rio Tocantins teve iniciou no último domingo, 30, e segue viagem pelos municípios às margens o rio até o próximo dia 05 de fevereiro, denunciando prejuízos da hidrovia. Integram a Caravana o MAB, a Central Única dos Trabalhadores – CUT / Pará, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura – Fetagri / PA, a Diocese de Cametá, o Conselho Pastoral dos Pescadores, a Universidade Federal do Pará – UFPA / Campus Tocantins Cametá, o Levante Popular da Juventude, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará – Sintepp e organizações de pescadores e de quilombolas da região. A Caravana também conta com o apoio do Solidarity Center/AFL-Cio, entidade sindical internacional.