Assembleia Legislativa de Santa Catarina tem ato em homenagem aos 30 anos do MAB
Durante homenagem, atingidos e parceiros do Movimento resgataram a história da construção do MAB no estado e celebraram as conquistas da luta coletiva
Publicado 07/10/2021 - Atualizado 07/10/2021
Na última segunda feira, 4, foi realizado um Ato Parlamentar Solene na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em homenagem aos 30 anos de lutas e conquistas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). A celebração aconteceu por proposição da deputada estadual Luciane Carminatti e contou com a participação de representantes de atingidos e atingidas por barragens de todas as regiões do estado, além de aliados e parceiros históricos da luta do movimento.
“Temos muito o que dizer deste Movimento, que, ao longo destes 30 anos, nos pauta o valor da água e da vida”, destacou Adriane Canan, representando os movimentos da Via Campesina, articulação nacional e internacional de movimentos sociais o campo.
Carla Cristiane de Oliveira Guimarães, representando a Pastoral Social Arquidiocesana da CNBB em Santa Catarina, relembrou que “quando a gente fala de MAB, não dá pra esquecer da figura de Dom José Gomes, que há mais de 30 anos participou do processo de organização do que hoje é o MAB hoje”. Roque Theobald, membro da coordenação nacional do Movimento também lembrou da importância do religioso.”Foi Dom José Gomes que nos ensinou a organizar o povo e lutar contra o grande capital, defender a natureza e o futuro das crianças”.
Roque também resgatou na sua fala a história do MAB, da qual ele faz parte desde 1978, através das Comissões Regionais de Atingidos por Barragens, que deram origem na década de 90 ao MAB. “A barragem não traz desenvolvimento para os atingidos e para a natureza. E muitas vezes o dinheiro não fica na região. O modelo do setor eletrico brasileiro nao foi criado para ajudar as familias que moram nas barrancas e são atingidas. Itapiranga está resistindo contra a barragem há mais de 40 anos e vai contiuar resistindo”
Jandir Selzler, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar afirmou que “o MAB nos anos 80 ousou enfrentar este modelo perverso de concentração de terras e concentração do capital, em plena fase de implementação da ‘revolução verde’, junto com a ofensiva das grandes hidreletricas, que fez com que milhares de agricultores fossem expulsos de suas terras”. Ana Júlia Rodrigues, presidenta da CUT/SC, recordou que em 1989, em um encontro dos atingidos em Rondônia, a CUT já estava presente representada e se somando à luta dos atingidos.
Mariah Wuerges, da Coordenação Nacional do MAB ressaltou a importância dos parceiros na luta. “Não estamos sozinhos e somos parte de um povo que luta por um projeto popular para o país”, ressaltou. Além disso, disse que o Movimento se constrói através da solidariedade entre as famílias atingidas, frisando que “essa experiência, passa de atingido pra atingido, que depois de conquistar os seus direitos, se junta ao Movimento para conquistar o direito de outros atingidos por barragens. Hoje, são 399 famílias reassentadas em Santa Catarina, atingidas pelas barragens de Itá, Machadinho, Barra Grande, São Roque e Foz do Chapecó. E é a experiência e solidariedade destas famílias, que vem hoje ajudando os atingidos pela barragem da CASAN, em Florianópolis, a conquistarem seus direitos.”
Rozilene da Luz Soso, atingida pela Barragem de São Roque reforçou a resiliência. do povo atingido. “Somos historicamente um povo lutador, e que não desistiu. Eles diziam pra gente que não iriamos ter outro reassentamento, e após muita luta este ano conquistamos mais um reassentamento. Me sinto lisongeada de estar aqui recebendo esta homenagem, porque somos um povo guerreiro e vamos lutar até o fim”.
Por fim, a deputada Luciane Carminatti fez seu reconhecimento à luta do MAB e das lideranças presentes. “Não há motivos para agradecimentos pelo evento, porque nós que temos que agradecer a vocês, ainda mais num mundo que prega o individualismo. Temos que agradecer a coragem da criação deste movimento forte nacional, que mostra à população que a luta é coletiva”.
O MAB tem o estado de Santa Catarina como um de seus berços e nasceu na década de 1980, por meio de experiências de organização local e regional, enfrentando ameaças e agressões sofridas na implantação de projetos de hidrelétricas. Em 14 de março de 1991, tornou-se uma organização nacional, que neste ano de 2021 completa 30 anos. Hoje, o movimento está organizado em 19 estados do país e também internacionalmente, desde 2016, através do Movimiento de Afectados por Represas (MAR). O Movimento segue em luta pelo direito das familias atingidas pela construção e rompimento de barragens e por um projeto energético popular, em que água e energia sejam direitos do povo e não mercadoria.
O ato solene realizado nesta última segunda feira está disponível no canal da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, no seguinte link.