No Espírito Santo, emenda parlamentar garante projeto sobre saúde coletiva nos territórios atingidos
MAB quer que toda população atingida tenha a oportunidade de conhecer, em linguagem acessível, não só a realidade da contaminação do ambiente em que vivem, mas também a estrutura e a história do SUS
Publicado 20/03/2021 - Atualizado 20/03/2021
Na sexta-feira (19), o Movimento de Atingidas e Atingidos por Barragens teve uma reunião com Nésio Fernandes, Secretário Estadual de Saúde do Estado do Espírito Santo. O encontro é fruto de uma parceria iniciada em 2019 com a diligência dos deputados Iriny Lopes, pela comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (ALES), e Helder Salomão, pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.
A diligência resultou em relatório, que compilou várias denúncias sobre a Fundação Renova e o fracasso das tentativas “oficiais” de reparação.
Um dos pontos destacados pelos atingidos foi a questão da saúde. Até hoje, nenhum território atingido recebeu alguma iniciativa neste sentido por parte da Fundação Renova, apesar das constantes reclamações, que vão desde doenças gástricas e de pele até o aumento de casos de aborto espontâneo.
A discussão da contaminação e da saúde no Rio Doce sempre foi pauta do MAB que, além da diligência nos territórios com os parlamentares, também atuou em conjunto com as prefeituras nos Planos Municipais de Saúde dos Atingidos (nunca executados pela Renova).
O movimento realizou em 2019 a 1ª Feira de Saúde dos Atingidos do Espírito Santo, em Baixo Guandu. Na ocasião, o secretário Nésio Fernandes dividiu a mesa com a pesquisadora Dulce Pereira, e o então prefeito Neto Barros pode conhecer um pouco sobre a situação dos atingidos.
Na reunião desta sexta-feira, o MAB teve a oportunidade de firmar o compromisso de realizar um projeto voltado à saúde coletiva dos atingidos no Rio Doce, que ajude a informar a população sobre os dados produzidos sobre contaminação do ambiente, e popularizar o debate sobre as práticas integrativas de saúde oferecidas pelo SUS.
A ideia é que as mulheres, os pescadores, ribeirinhos, surfistas, e também os agentes e conselheiros de saúde, as lideranças de entidades representativas e todos habitantes dos territórios atingidos tenham a oportunidade de conhecer, em uma linguagem fácil e acessível, não só a realidade da contaminação do ambiente em que vivem, mas também a estrutura e a história do SUS.
Em um momento de crise aguda na sociedade por causa da pandemia, que agrava mais ainda a situação das comunidades atingidas, a perspectiva de levar o debate da saúde coletiva, auto cuidado, informação e formação sobre o SUS é bastante oportuna.
A reunião fez parte da jornada de luta deste mês de março. Em 2021, a jornada é em comemoração aos 30 anos de fundação do Movimento dos Atingidos por Barragens, uma trajetória vitoriosa que projeta no futuro a resistência e organização dos povos atingidos contra a ganância do capital.