Vale alega risco zero para fechar escola e expandir exploração de manganês em Conselheiro Lafaiete-MG
A Vale conseguiu o fechamento da Escola Municipal Meridional, em Conselheiro Lafaiete-MG, que tem em torno de 600 estudantes e moradores próximos. O objetivo é expandir sua exploração de manganês […]
Publicado 13/04/2020
A Vale conseguiu o fechamento da Escola Municipal Meridional, em Conselheiro Lafaiete-MG, que tem em torno de 600 estudantes e moradores próximos. O objetivo é expandir sua exploração de manganês na área. A empresa alegou risco iminente proveniente de instabilidade de pilha de estéril localizada próxima à escola e apelou para sua suposta política de risco zero para alcançar seu intento. Essa decisão foi informada pela Prefeitura em sua página oficial no dia 7/2 (sábado), com as aulas já suspensas no dia 9/2 (segunda).
A Escola Meridional foi fundada em 1915 para atender filhos de funcionários da então Companhia Meridional, uma empresa americana de mineração. Sua localização é no bairro Morro da Mina, solo rico em manganês. Os prédios da escola foram construídos próximos à Companhia, que sempre respeitou o seu perímetro, sem quaisquer riscos às crianças. Com o tempo, a Companhia Meridional foi vendida, o terreno passou para outras mineradoras. Em 2002, ele chega às mão da Vale e a escola foi municipalizada.
A tática do pânico da mineradora funcionou muito bem. De acordo com moradores, mesmo sem apresentar nenhum laudo ela deu a entender que a pilha de estéril pode romper a qualquer momento, o que foi suficiente para que pais, professores e estudantes ficassem com medo. Isso possibilitou a realização do interesse escuso da empresa, que agora promete espaço provisório para as aulas e construção de uma nova escola, o que agrada parte da população, carente de políticas públicas elementares, e assanha o ambiente eleitoreiro.
De acordo com informação de ex-funcionários da Meridional, de ex-estudantes e moradores, a Vale vem querendo fechar a escola desde 2002, quando adquiriu, ali, Mina de Manganês. Sua política sempre se orientou pela falta de diálogo com a comunidade e com a gestão pública. Nessa época, foi firmado um contrato de comodato entre empresa e prefeitura de que o terreno seria utilizado como escola até 2020. Apesar do contrato, em 2014 a Vale tentou apropriar-se do terreno, alegando que tinha interesse em minerar o solo da escola. Na época, a diretora em atividade ressaltou a existência de contrato e conseguiu impedir que a empresa expulsasse a escola de lá.
O grupo de resistência Juntos Somos Mais! está indignado com essa decisão sem amparo técnico que mostrasse o real grau do risco alegado. Ainda mais porque a escola não é só escola; é espaço de memória da comunidade, com profunda relação afetiva. E repudia a opção pelo fechamento da escola ao invés da retirada da pilha de estéril.
O Movimento dos Atingidos por Barragens entende que a causa da Escola Meridional é justa e vem acompanhando de perto, disposto a ajudar no fortalecimento da luta. Para o Movimento, a prepotência das mineradoras e a tática do pânico não é novidade. A Vale usou os crimes em Mariana (5/11/2015) e Brumadinho (25/01/2019) para espalhar o medo em Barão de Cocais. Ela retirou as famílias da comunidade de Socorro ameaçadas pela Mina de Gongo Soco. A Comunidade ficou abandonada e mais de 400 pessoas, que perderam seu meio de subsistência e sua história, estão até hoje em casas alugadas, em Barão e cidades vizinhas.