Atingidos pela Usina de Itá comemoram 25 anos de reassentamentos em Chopinzinho (PR)
No último domingo (23), os reassentamentos Santa Inês e Nossa Senhora de Fátima, no município de Chopinzinho no Paraná, comemoram os 25 anos da conquista da terra dos atingidos pela […]
Publicado 28/02/2020
No último domingo (23), os reassentamentos Santa Inês e Nossa Senhora de Fátima, no município de Chopinzinho no Paraná, comemoram os 25 anos da conquista da terra dos atingidos pela Usina Hidrelétrica de Itá (RS/SC).
Participaram da cerimônia de abertura os coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no reassentamento Santa Inês, Helio Mecca, Ari Longo e Ari Stefen; os presidentes das comunidades, além de Agileu Brondani, representando o reassentamento Nossa Senhora de Fátima; Marco Antônio Trierveiler, membro da coordenação na época da implantação dos projetos e Robson Formica, falando em nome da Coordenação Nacional do MAB. Também estiveram presentes o prefeito de Chopinzinho na época da implantação dos reassentamentos, Enio Cenis, o prefeito atual, Álvaro Scolaro e a deputada Luciana Rafagnin.
Segundo Robson Formica os reassentamentos de Chopinzinho são referência e inspiração para a luta em outros estados e regiões. Em sua fala, Robson lembrou que o MAB tem em sua gênese a busca por direitos das populações atingidas por barragens, mas que hoje, também luta pela construção de um novo modelo energético, em contraposição ao atual, o qual atinge toda a população brasileira, que arca com uma das tarifas de energia elétrica mais caras do mundo às custas da exploração de nossos recursos e drenagem de nossas riquezas pelo capital internacional. O coordenador ressaltou que o centro da construção de um projeto soberano e popular para o país são as necessidades concretas do povo e, quando este se organiza para a luta e tem oportunidades, constrói condições dignas de vida coletivamente.
Durante toda a cerimônia de abertura da comemoração, foi enfatizado o caráter coletivo da conquista dos reassentamentos, que são frutos de muita luta, suor, acampamentos de lona e ocupações. Os projetos só foram possíveis a partir do empenho de muitos homens e mulheres, que se dedicaram a tornar real o sonho de dezenas de famílias atingidas pela barragem de Itá, seja fazendo a luta por direitos a partir da organização no MAB, seja pelas assistências técnicas que foram prestadas na época da implantação.
Helio Mecca, da coordenação do movimento na região, relembrou a história de luta pela conquista de direitos. Em 1980, quando viemos para Chopinzinho olhar a situação das famílias atingidas pelas barragens de Santiago e Salto Osório, vimos que as pessoas não haviam recebido nada. Nós voltamos para o Rio Grande do Sul e falamos como Sepé Tiaraju: ‘essa terra tem dono!’ E que a barragem não seria construída sem que fossem garantidos os direitos dos atingidos.
A partir do enfrentamento do povo organizado no MAB, unindo milhares de famílias, foram construídas regras para que os atingidos só deixassem suas terras com garantia de indenização, de troca de uma terra por outra ou de reassentamento. Em 1987, foi assinado o primeiro acordo de garantia de direitos, entre os atingidos e a Eletrosul (estatal subsidiária da Eletrobrás).
Para Helio Mecca esse foi o sonho que transformou nossa luta em uma grande vitória. Nós realizamos essa festa por dois motivos: primeiro, para não deixar a história morrer, porque um povo que não recupera e estuda a sua história, não analisa o presente. E quem não analisa o presente não projeta o futuro. O segundo é para agradecer às entidades e todas as pessoas que de alguma forma se envolveram, nos ajudaram a construir esses dois projetos que hoje são um grande sucesso.
Para homenagear as pessoas que foram fundamentais durante o processo de construção dos reassentamentos, foi feita a inauguração de uma placa com os nomes dos lutadores e lutadoras gravados. Ao fim da cerimônia, a Coordenação Nacional do MAB presenteou ambas as comunidades com fotos emolduradas representando a luta do MAB e dos atingidos por barragens do Brasil, além de presentear a escola da Comunidade Santa Inês com materiais elaborados pelo movimento. Na parte da tarde, para simbolizar os 25 anos, foi feita a partilha do bolo de aniversário com todos os presentes.
A comemoração, além de um belo momento de memorar todas as pessoas que foram fundamentais para a concretização dos projetos de reassentamentos, foi também uma afirmação da importância da formação e da organização popular, para a garantia de direitos às populações atingidas por barragens e para a construção de um projeto energético soberano para o país.