MAB participa de Audiência Pública na Câmara dos Deputados sobre mineração em Paracatu (MG)

Em Audiência na Câmara dos Deputados, o Movimento levantou a preocupação com o risco de novos rompimentos e a insegurança e o medo que isso gera nas comunidades, além de […]

Em Audiência na Câmara dos Deputados, o Movimento levantou a preocupação com o risco de novos rompimentos e a insegurança e o medo que isso gera nas comunidades, além de denunciar o padrão de violação de direitos humanos na questão das barragens no Brasil.



Vinicius Loures/Câmara dos Deputados.

Nesta quarta-feira (14), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) participou de uma Audiência Pública sobre as Violações decorrentes da mineração no município de Paracatu/MG na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Na região, a preocupação em relação aos impactos da mineração é enorme. Em Paracatu se encontra a maior mina a céu aberto do mundo, desde 1987, e além do altos índices de poluição com Arsénio que foram constatados em 2013, o risco de rompimento de barragens é alto. Um relatório elaborado por el Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Governo Federal,  divulgado na época pelo jornal El País, apontou concentrações até 200 vezes superiores ao permitido de Arsénio. A substância se encontra em diferentes níveis nos rios, na terra, e no corpo dos moradores.

A população vive apavorada com a possibilidade de novos rompimentos, e as incertezas em relação à segurança da barragem. Durante a Audiência,Viviane Aparecida de Souza, da comunidade Lagoa de Santo Antônio, no município de Paracatu (MG), disse que o rompimento da barragem em Brumadinho “acabou com a mente” dos moradores e relata “Agora a pergunta do povo, da minha comunidade e das comunidades vizinhas é: qual será a próxima barragem a romper?”. Viviane mora a menos de mil metros de uma barragem, e diz que não tem mais tranquilidade de viver. Essa falta de sossego se revela em detalhes cotidianos: “hoje não apreciamos nem mais a chuva. Quando chove, o medo aumenta, porque sabemos que o risco é maior”. Contou na audiência na Câmara que seu filho não quer mais dormir sozinho no quarto, e vai dormir junto com o irmão porque acha que desse jeito vai se salvar. Viviane pede: “não esqueçam de nós!”.

Iury Paulino, da Coordenação Nacional do MAB, disse durante a audiência que  “o problema de Paracatu se repete infelizmente em muitos lugares do Brasil. O processo de construção de barragens, a mineração, e a produção de energia são feitas dentro de um padrão de violação de direitos humanos”. Isso, explica, “coloca aos atingidos em uma situação extremamente crítica, não temos nem o direito de viver dignamente”.

Paulino, que percorreu a região de Paracatu recentemente, relatou na Câmara que as empresas estão tirando a dignidade dos trabalhadores e dos atingidos na região : “os poderes vão aceitando e permitindo, e essas empresas vão ganhando cada vez mais território e decidindo sobre a vida das pessoas. Quem pode ir para a escola e quem não, quem pode criar gado quem, não pode, eles se tornam donos do povo e isso é extremamente grave”. E perguntou: “Cadê a riqueza que é tirada daquela mina? Quanto vai voltar para Paracatu? O que vai servir para o povo de Paracatu e região? E afirma: “Paracatu não é da empresa, é do povo de Paracatu”.

O coordenador não só denunciou, também apontou o caminho para avançar na conquista dos direitos e na defesa da vida: “Na nossa experiência de 30 anos como Movimento dos Atingidos por Barragens temos visto que a resposta é sempre dada pela luta e organização do povo. Não podemos esperar que ninguém venha nos salvar. É preciso que essas comunidades atingidas se organizem e passem a definir qual vai ser o seu futuro em aquele território. Porque é impossível viver em aquela condição que está colocada ali, é impossível viver sem saber quando uma barragem vai romper”.