Dilma Ferreira Silva: uma vida inteira de luta
Integrante da coordenação do MAB, assassinada dentro de casa, atuou incansavelmente para a garantia de direitos dos atingidos Por Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Nesta segunda-feira (22), o assassinato […]
Publicado 22/04/2019
Integrante da coordenação do MAB, assassinada dentro de casa, atuou incansavelmente para a garantia de direitos dos atingidos
Por Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Nesta segunda-feira (22), o assassinato de Dilma Ferreira Silva, que integrou a coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens em Tucuruí, no Pará, completa um mês. Junto com ela, foram executados também o seu companheiro Claudionor Costa da Silva, 42, e o vizinho do casal Milton Lopes, 38.
Os corpos dos três camponeses foram encontrados com sinais de tortura na casa de Dilma, que vivia no acampamento Salvador Allende, na zona rural do município de Baião a 50 quilômetros de Tucuruí.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que acompanha conflitos agrários, o caso foi classificado como o primeiro massacre no campo em 2019.
Nossa companheira Dilma
Nascida em 11 de fevereiro de 1972, em Esperantinópolis, no Maranhão, Dilma Ferreira Silva teve o primeiro contato com o MAB enquanto atingida pela obra da usina hidrelétrica de Tucuruí, inaugurada ainda no período da ditadura militar.
Anos depois do início dos impactos, somente em 2004, foi assinado um acordo de indenizações entre a Eletronorte e os atingidos. Neste ano, Dilma se aproximou do movimento a partir de uma reunião no bairro Palmares, onde morava, e participou da construção da pauta entregue ao governo sobre o caso.
Ela se destacou muito rápido porque sempre foi muito destemida nas lutas, lembram os companheiros de militância. Em 2005, Dilma foi convidada a integrar a coordenação do MAB. Por se destacar no trabalho junto às famílias que realizava em Tucuruí, em especial com as mulheres, passou a integrar também o Coletivo de Mulheres do movimento, a partir de 2006.
Nos anos seguintes, Dilma esteve à frente do processo de formação de uma cooperativa para o escoamento da produção das famílias de Tucuruí, sobretudo na comercialização de peixes. A atingida organizava também a distribuição das cestas básicas para as famílias e colaborou com um projeto de construção de cisternas.
Em 2011, Dilma Ferreira, enquanto integrante da coordenação do movimento, participou do Encontro Nacional das Mulheres do MAB realizado em Brasília. Foi lá que ela conheceu sua xará, a então presidenta Dilma Rousseff. Na ocasião, no início da obra de Belo Monte, foi entregue um documento de reivindicação de políticas públicas para os atingidos por barragens, que pedia a criação da Política nacional de direitos das populações atingidas.
Nós somos as verdadeiras Marias, guerreiras, lutadoras que estão aí no desafio da luta do dia a dia, disse Dilma Ferreira às mulheres atingidas na ocasião do encontro nacional de 2011. Maranhense, 47 anos, atingida por barragem, lutadora do povo, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, brutamente assassinada, Dilma Ferreira Silva deixa a lembrança para os companheiros de militância de uma guerreira corajosa nos momentos de luta e ao mesmo tempo bastante brincalhona no dia a dia. Ela deixou uma filha de 23 anos, que atualmente não mora no estado do Pará.
O documento que Dilma entregou para a presidenta, que reivindicava uma política pública para os atingidos por barragens, segue sem ser atendido por parte do governo brasileiro.
“Águas para vida, não para morte!”