Militantes se mobilizam para Grito dos Excluídos 2018
Em todo o país estão sendo feitas atividades em preparação ao Grito dos Excluídos que acontece na Semana da Pátria, dia 7 de Setembro Por Karla Maria | Rede Jubileu […]
Publicado 31/08/2018
Em todo o país estão sendo feitas atividades em preparação ao Grito dos Excluídos que acontece na Semana da Pátria, dia 7 de Setembro
Por Karla Maria | Rede Jubileu Sul Brasil
A Polícia Civil matou meu filho, ninguém vai me calar, essa foi a denúncia dolorosa, o grito de Bruna Silva. Jovem, a moradora do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, teve seu filho Marcus Vinícius, 14 anos, morto no dia 20 de junho pela Polícia Civil, quando estava a caminho de sua escola. O uniforme manchado de sangue testemunha. Marcus era estudante da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro.
Bruna participou nesta quinta-feira, 30, da coletiva de imprensa da 24ª edição do Grito dos Excluídos, que tem como tema Vida em primeiro lugar e lema Desigualdade gera violência: BASTA DE PRIVILÉGIOS!. E chama a população às ruas, na Semana da Pátria, para denunciar as diversas formas de violência a que a população está submetida nas periferias do país. Se o meu filho hoje não está aqui é porque ele foi excluído pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, disse Bruna, segurando em suas mãos a camisa suja de sangue do filho morto.
Não houve troca de tiro. E quando eu falo que a polícia é a assassina do meu filho é porque eu sei. O meu filho estava com vida na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] e me disse mãe, eu tomei um tiro da polícia. Essa frase fica se repetindo na minha cabeça. Ele já tinha tomado uma carreira [de tiros] do helicóptero, e se eu soubesse que ele estava debaixo daqueles tiros, eu também estaria morta, porque iria atrás dele. Eles acham que vão matar preto, favelado e vai ficar por isso mesmo, não vai não, porque a gente tem voz, disse uma mãe que trocou o luto pela luta.
Bruna tem denunciado a truculência policial nas favelas e por isso vem sendo perseguida por policiais. Seu telefone foi grampeado. Eu tenho medo sim, mas não vou deixar de denunciar, porque isso não pode se repetir com o filho de mais ninguém. Essa dor atingiu meu útero. Minhas lágrimas agora são frias, de luta, disse a mãe.
Para o economista Plínio de Arruda Sampaio Filho, a violência que mata 62 mil pessoas no Brasil é o resultado da administração da barbárie, com a crescente exploração dos mais pobres e da militarização. As vítimas são os mais pobres e 70% deles são negros, lembrou.
Ainda segundo o economista, a desigualdade social que existe, e que mais uma vez o Grito dos Excluídos denuncia, é resultado de um sistema que não enxerga e pauta as necessidades de sua população e sim a manutenção do sistema atual que exclui e promove a barbárie aos mais pobres. Na economia, essa barbárie, é o chamado ajuste fiscal, o ataque à previdência, à política pública. Por que nenhum candidato [à presidência da República] tem a coragem de pautar a Dívida Pública? , questiona.
A população tem voz quando está nas ruas, quando está mudando, consciente e organizada. A burguesia já falou o projeto dela: o avanço da barbárie e a intervenção militar, porque quando tem que segurar a pobreza, os estudantes e os movimentos sociais, eles chamam os militares, denunciou o economista que enxerga as eleições de 2018 como uma fraude.
Para a socióloga Rosilene Wansetto, uma das coordenadoras do Grito, enquanto a PEC dos gastos não for revogada nada de diferente poderá ser feito no país. É preciso que as pessoas questionem quais são as prioridades da população brasileira? Por que congelar investimentos na Saúde e Educação por 20 anos? Para que o Estado brasileiro está servindo, questionou a socióloga, que também denunciou a presença militar do Estado nas comunidades e favelas brasileiras.
Bruna, nós sentimos sua dor. Choramos a sua dor e não vamos nos calar diante de tamanha violência. Vamos continuar diariamente denunciando a violência a que tantas brasileiras e brasileiros estão sofrendo por este país, porque esta política de opressão é a política desse desgoverno golpista, denunciou a socióloga, também mãe, ao lado de Bruna.
O Grito dos Excluídos nasceu no seio da sociedade e da Igreja Católica. Para dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo da Região Episcopal Sé da Arquidiocese de São Paulo e representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na coletiva, as denúncias trazidas pelo Grito são pertinentes, porque temos uma sociedade excludente.
“Uma grande camada da sociedade vive à margem dessa mesma sociedade, sem direito à moradia, sem direito à alimentação adequada, sem direito à saúde, ao trabalho, e todos esses aspectos fazem parte da vida e da dignidade humana. Enquanto tivermos uma parcela, que seja um da sociedade que passe por essa situação, há sim sentido no Grito dos Excluídos, ainda que esse excluído não seja o que grite, mas os seus irmãos devem gritar por ele”.
Segundo dom Eduardo, a base do cristianismo é a solidariedade. “Aquele que se omite diante do sofrimento do irmão, aquele que recua em defender o seu irmão diante do sofrimento ele não está vivendo o Evangelho, não está seguindo a Cristo”, assegurou.
Monica Helena Andrade Fidelis, da Pastoral Operária, lembrou que o Grito dos Excluídos acontece também em Aparecida, cidade onde está localizado o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em sintonia com a 31ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras. Como romeiros vamos até à mãe Aparecida, levar nosso clamor por justiça. Somos peregrinos de luta, consciência e fé, concluiu.
Em todo o país estão sendo feitas atividades em preparação ao Grito dos Excluídos que acontece na Semana da Pátria, sobretudo no dia 7 de Setembro.