Família de Santa Catarina com projeto PAIS garante auto-abastecimento de alimentos
No contexto atual, de domínio do modelo violento do agronegócio no campo, a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) se posiciona como um modelo que garante alimentos de qualidade às […]
Publicado 05/04/2018
No contexto atual, de domínio do modelo violento do agronegócio no campo, a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) se posiciona como um modelo que garante alimentos de qualidade às famílias, agrega renda e permite a vida no meio rural, em harmonia com a natureza.
A família Kern, descendente de alemães, vive em um sítio perto do rio Uruguai, no município de São Carlos, em Santa Catarina. Só lhes resta produzir café, erva mate para o tradicional e indispensável chimarrão, e farinha de trigo. O resto, tudo é produzido em casa, sem veneno, e com as próprias mãos. Frango caipira, ovos, carne, leite, queijo, sal temperado, arroz, feijão, mandioca, milho: tudo no quintal. No sítio vivem a mãe Zuleica, o pai Waldemir, a Luiza, de 11 anos, e Davi, filho de 17. A história da família foi matéria recente do Globo Rural (25/03/18) , que mostrou o sucesso no auto-abastecimento.
É importante destacar que mesmo não sendo apresentado na matéria, a família participa de uma conquista da organização e as lutas do Movimento dos Atingidos por Barragens. Num projeto conquistado pelo MAB, e desenvolvido em parceria com a Associação de Desenvolvimento Agrícola Interestadual (ADAI), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Fundação Banco do Brasil, a instalação dos PAIS chegou à vida da família Kern. Já são mais de 70 hortas com aquecedores solares instaladas no estado de Santa Catarina (SC).
Waldemir explica: Estas coisas não se conquistam de um dia para outro. Faz uns 20 anos que a gente está trabalhando em cima disso. Mas o que nos deu o impulso mesmo foi a chegada do projeto PAIS, que veio viabilizar a concretização do que a gente vinha trabalhando há anos. Faltava aquele incentivo.
Segundo Zuleica, o PAIS contribui porque tornou possível colocar em prática aquilo que tínhamos em mente de fazer em um pequeno pedaço de terra. É uma tecnologia social que propicia isso, que permite juntar aves, pequenos animais e as hortaliças. Também propicia a irrigação, que nos permite produzir em diferentes períodos do ano. E acrescenta: o nosso método de produção está despertando o interesse de muitas pessoas, que vem visitar, tanto nosso sítio como o sítio de outras famílias que produzem desse jeito, sem veneno, apontando na sustentabilidade e garantindo a alimentação das nossas famílias.
Rudinei Cenci, técnico agropecuário e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens, disse que é de fundamental importância a luta das populações atingidas e ameaçadas por barragens na construção e fortalecimento de um modelo de agricultura que coloque no centro o debate da produção agroecológica, de alimentos saudáveis, a manutenção do camponês no meio rural, que traga qualidade de vida e agregue renda a essas famílias. Para Rudinei, é muito importante disseminar esses projetos, para permitir que muito mais famílias tenham acesso a esta tecnologia social para promover a soberania alimentar e reduzir a tarifa de energia elétrica com a instalação do aquecedor solar.
Tem pelo menos duas coisas que a família Kern não acostuma fazer: ir ao mercado e ir ao médico. Fazer compras nem é tão necessário, só vão uma vez ao mês para comprar as poucas coisas que ainda não produzem em casa. Ir ao médico tampouco. A maioria das vezes, com doenças leves como gripes ou resfriados, conseguem curar com plantas medicinais que eles mesmos produzem e coletam no sítio. Para Zuleica, as vantagens são várias, como não gastar dinheiro, ter melhor saúde, saber o que se está produzindo e comendo, e garantir o cuidado das sementes, coisa que fazem com muito cuidado e carinho desde há muitos anos. Outra vantagem são os aquecedores solares, que permitem às famílias uma redução de até 30% na conta de energia.
Waldemir, disse que se tivesse que falar para outras pessoas sobre o PAIS e a produção agroecológica falaria que com certeza vale muito a pena. Destaca que as pessoas devem estar cientes de que vão ter que trabalhar para se desfazer do veneno, mas que depois que começarem vão se encantar com o processo, uma forma de produzir na que você sempre quer ir a mais: A gente quer agroecológico e vamos seguir trabalhando em cima disso.
Confira a matéria da Globo Rural no seguinte link: