Plenária Nacional da Frente Brasil Popular, em BH, homenageia Fidel Castro e aponta que a saída é o trabalho de base

Do site da CUT Foto: Talles Lopes Vai tudo muito mal. A economia entra em depressão, o governo Temer afunda na corrupção e os movimentos populares e os partidos próximos […]

Do site da CUT

Foto: Talles Lopes

Vai tudo muito mal. A economia entra em depressão, o governo Temer afunda na corrupção e os movimentos populares e os partidos próximos a eles – a chamada esquerda – precisam encontrar uma saída para o Brasil e para si próprios.

O povão, os mais pobres, estão no cerne da resposta a essas angústias, debatidas na manhã desta quarta-feira na I Plenária Nacional da Frente Brasil Popular, batizada de Fidel Castro Ruz em homenagem ao líder cubano e sul-americano recém-falecido.

Essa resposta foi apontada, de forma explícita ou implícita, nas falas da mesa que abriu o encontro, realizado no SESC Venda Nova, em Belo Horizonte. A Plenária se encerra amanhã.

Para o economista Marcio Pochmann, “o que podemos fazer é construir um modelo econômico baseado no mercado interno, estimulando o consumo dos trabalhadores. E retomar o processo de industrialização”.

Para o ex-ministro Gilberto Carvalho, é hora “de nossas lideranças se levantarem da cadeira e ir conversar com o povo. O próprio Lula, neste momento, está tomado pela consciência de que a construção do novo projeto passa pela conversa com o povo, com os pobres”.

Antes de Gilberto, havia falado o ex-prefeito de Belo Horizonte e atual deputado federal Patrus Ananias, para quem um dos erros da coalizão governista capitaneada pelo PT foi a distância das bases. “Não trabalhamos na conscientização dos beneficiários dos programas sociais e dos projetos de mudança de nossos governos”.

Presidente do PCdoB mineiro, Adilson Ribeiro, afirmou que é preciso voltar a lembrar ao povo as conquistas “inegáveis” que aconteceram, as melhorias de vida que experimentou durante os governos populares. “O golpe foi para derrubar essas conquistas e implementar projetos de arrocho e castigo ao povo que jamais seriam eleitos pelas urnas”. Na opinião dele, uma forma de alavancar a esperança é tomar com força a bandeira das Diretas Já. “Desde agora, até o final deste ano, ou no ano que vem, através de uma emenda constitucional”, explicou.

O que causou tudo?

Do ponto de vista econômico, o governo ilegítimo e os setores de mídia que o apóiam dizem que as políticas sociais e a gestão dos governos Lula e Dilma “quebraram” o país e que, por isso, não haveria outra forma de resolver a crise que não seja o corte de gastos, o congelamento dos investimentos, o desmonte da Previdência, o arrocho salarial.

Pochmann não concorda com a tese. “Este é um debate muito empobrecido. Estabelece uma relação entre o passado recente e as medidas atuais. Nossa situação não encontra razão no curto prazo”.

Recorrendo a um painel histórico, o professor lembrou que o esgotamento do modelo de Bem-Estar Social, construído após a 2ª Guerra Mundial, foi substituído nos anos 1980 por uma “segunda onda da globalização”, em que as multinacionais, já existentes e que por algum tempo significaram parcerias para o progresso (e cita os anos JK como exemplo) passam a não mais estar submissas ao poder nacional, às regras das nações, seja no respeito ao meio ambiente, ao pagamento de tributos. Elas não têm mais um aspecto de civilidade”.

Países como Brasil aderiram a essa segunda onda de forma muito passiva, preparando programas para atrair o fluxo internacional de capitais, a exemplo do Plano Real. O processo de desindustrialização se instala e nunca mais saiu de cena, segundo Pochmann.

Os investimentos não virão

A partir de 2011, o Brasil adota uma política baseada não mais na demanda interna, mas na oferta, por intermédio de medidas de corte dos custos de produção, visando as exportações. “A redução dos custos não se traduziu em investimentos, e os empresários a utilizaram para aumentar a margem de lucros”, disse Pochmann.

Na opinião dele, o corte de custos agora se aprofunda, com as medidas contra a Previdência e a PEC 55. “Mas não há saída. Os investimentos não virão por causa disso”, sentenciou. Em parte, segundo ele, pela própria recessão – que já se torna uma depressão econômica, situação em que os investimentos desaparecem e a produção cai brutalmente, enquanto a margem de lucros das empresas se mantem, apesar da queda de faturamento – e também pela falta de confiança nos atores políticos brasileiros.

Foto: Lidyane Ponciano

Longa travessia

Para Patrus, há uma crise generalizada nos três poderes, nas três instâncias (federal, estadual e municipal). “Portanto, devemos trabalhar com a perspectiva de uma longa travessia”. Para ele, é preciso, para sair desse quadro, “aumentar nosso número de interlocutores. Mas de que forma? Fazendo alianças com forças pouco comprometidas?” “Não”, respondeu a platéia. “Então”, continuou Patrus, “precisamos, os movimentos sociais, os sindicatos, os partidos de esquerda, estarmos primeiro muito bem coesos. Aí então, poderemos partir para o diálogo com outros setores”, concluiu.

Adilson, do PCdoB, crê que a esquerda hoje enfrenta um cenário parecido ao dos anos 1990. “Estávamos na defensiva, mas as mobilizações que fomos fazendo, unitárias, culminaram na Marcha dos 100 Mil (1999), que abriu definitivamente caminho para o ciclo progressista que veio a seguir”.

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