Resultado da COP30 prova que o capital não vai resolver a crise climática

Com resultado aquém das expectativas, COP30 mostrou a importância das mobilizações populares frente às saídas do capital para a crise climática

Foto: Klezí Martins / MAB

Mais de 30 anos após sediar a conferência que inaugurou as discussões internacionais sobre as mudanças climáticas, a Eco 92, pela primeira vez o Brasil foi sede de uma das Conferência das Partes (COP), em Belém, no coração da Amazônia. O que era visto com grande expectativa, porém, teve um resultado bem inferior: o documento final da conferência terminou sem citar os combustíveis fósseis – cuja queima responde por 70% da emissão de gases de efeito estufa – e o combate ao desmatamento. O financiamento para adaptação, uma das prioridades da agenda, também ficou como uma vaga sinalização: fala em triplicar o financiamento, mas sem dizer de onde virá o recurso e nem como.

O presidente Lula, em seu discurso, pressionou pela criação de um “mapa do caminho” para o fim dos combustíveis fósseis, algo visto como muito audacioso e que ganhou apoio de vários países. Apesar disso, a proposta acabou ficando de fora do documento final. Com isso, a Colômbia propôs sediar um evento paralelo à estrutura da ONU em abril do ano que vem para discutir essa questão. A principal aposta do governo brasileiro, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), acabou arrecadando menos do que o proposto. Embora trate de uma fonte de recursos que pode ajudar a frear a destruição das florestas, o mecanismo está totalmente subordinado à lógica do capital financeiro e de mercantilização da natureza.

O resultado da COP se torna ainda mais desesperador ao ocorrer após atingirmos o ano mais quente da história em 2024, que inclusive ultrapassou o limite almejado no Acordo de Paris. O acordo, que completou 10 anos, colocou um limite de aquecimento de 1,5 ºC para o qual cada país deve apresentar sua lição de casa: a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). No entanto, as NDCs até agora apresentadas são insuficientes para atingir esse objetivo e colocam o mundo numa perigosa trajetória de aquecimento. Esse resultado e a falta de consensos para chegarmos a avanços são resultado direto de um sequestro da agenda das COPs por setores econômicos, a derrocada da ordem liberal marcado pela hegemonia do Norte Global e, principalmente, mostra o quanto o sistema capitalista tem se mostrado incapaz de resolver a crise climática causada por ele próprio. A necessidade de manter funcionando o motor perpétuo da acumulação se sobrepôs ao imperativo de proteger a vida e o planeta.

Cúpula dos Povos e a resposta que vem dos povos do mundo

Fora da COP, as ruas de Belém foram tomadas por mobilizações populares. O destaque foi a Cúpula dos Povos, que contou com a participação de mais de 20 mil pessoas, de 80 países, e ocupou o campus da Universidade Federal do Pará (UFPA) para fazer um contraponto às soluções propostas pelo capital. Foram mais de dois anos de construção, que envolveram mais de 1.500 organizações de todos os continentes em um intenso processo de convergência. 

A Declaração da Cúpula afirma a necessidade de unificar as lutas e ampliar a organização dos povos do mundo para combater o inimigo comum: o modo de produção capitalista, causador da crise climática.   

“Vamos enraizar nosso internacionalismo em cada território e fazer de cada território uma trincheira da luta internacional. É tempo de avançar de modo mais organizado, independente e unificado, para aumentar nossa consciência, força e combatividade. Este é o caminho para resistir e vencer” – Trecho da Declaração da Cúpula dos Povos.

A COP trouxe o mundo para perto da realidade da floresta, vista historicamente como uma fronteira de recursos para o capital, e que se aproxima de seu ponto de não retorno devido aos desmatamentos mas também como impacto da crise climática. E quem tem agido para protegê-la são os seus povos, que historicamente lutam contra a expropriação e em defesa da vida. Quem se maravilhou com o sabor do açaí com farinha, do tacacá, do tucupi, com os cheiros e cores do Ver-o-Peso, com o som do carimbó ecoando em cada esquina, precisa saber que a cultura amazônida hoje celebrada é fruto de um duro processo de luta e resistência. Essa foi a maior lição dessa COP: somente os povos organizados e em luta têm as verdadeiras respostas para a crise climática.

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