Cúpula dos Povos encerra atividades com balanço político e números históricos
Encerramento da Cúpula dos Povos destaca denúncias, números recordes de participação e a construção coletiva de uma agenda internacional de luta por justiça climática e transição energética justa
Publicado 16/11/2025 - Actualizado 16/11/2025

Movimentos populares, sindicatos, organizações sociais, militantes e ativistas, trabalhadoras e trabalhadores das mais variadas bandeiras, estados e países realizaram, no fim da tarde desta sexta-feira (14), à beira do Rio Guamá, a plenária que encerrou as atividades de debates e encontros de experiências na Cúpula dos Povos, em Belém, evento que ocorre paralelo à COP30.
A Cúpula teve início nesta quarta-feira (12), com uma programação extensa de atividades na Universidade Federal do Pará (UFPA), e será marcada pela construção da Declaração dos Povos, que será entregue à presidência da COP30 no domingo (16), último dia do encontro.

O ato marcou o fechamento de uma edição considerada histórica pelos organizadores, tanto pela dimensão do público quanto pela densidade das discussões realizadas na capital paraense. Logo na abertura, representantes dos movimentos lembram que, enquanto governos e corporações negociam soluções distantes da realidade, é nos territórios que a crise climática se materializa.
Líder Góngora Farías, representante da Redmanglar Internacional e do Fórum Mundial de Povos Pescadores e Catadores (WFFP), destacou que as populações atingidas não aceitam mais ser tratadas como espectadores das negociações oficiais: “Nós sofremos os impactos das mudanças climáticas, não eles. As decisões são tomadas longe dos nossos territórios, por pessoas que nunca pisaram onde a enchente chega ou onde a seca destrói a vida. As negociações reais estão sendo feitas aqui por nós, e não por eles. É daqui que nasce a verdadeira justiça climática”.
A plenária também reforçou que a luta segue articulada em torno de pautas comuns: justiça climática, transição energética justa, demarcação de terras indígenas, reconhecimento dos povos tradicionais e fortalecimento da reforma agrária. Segundo os movimentos, estes são eixos centrais para enfrentar o avanço das desigualdades aprofundadas pela crise climática.
Maior edição da história
Em seguida, a coordenação da Cúpula apresentou os números desta edição: foram mais de 25 mil inscritos, com pelo menos 15 mil pessoas circulando diariamente pelo território da Vila da Barca e das áreas que compuseram o espaço do evento. A programação reuniu aproximadamente 200 atividades, entre plenárias, painéis, oficinas e encontros setoriais, organizados por mais de 1.500 organizações. O Movimento dos Atingidos por Barragens esteve presente na articulação, coordenação e mobilização, representados por 1.200 atingidos.

O clima de celebração também marcou a fala de outra liderança presente na plenária, que lembrou a força coletiva construída nos últimos dias: “Esse processo foi bonito porque juntou muita gente, muita luta e muita diversidade. A Cúpula não termina hoje, ela continua amanhã, continua nos territórios, continua na solidariedade e na organização que construímos aqui entre organizações, povos e nações”, reforçou Gongóra.
Nos dias que antecederam a Cúpula dos Povos, o MAB foi anfitrião do IV Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens e Crise Climática, também em Belém, que reuniu centenas de atingidos de todo o mundo, com representantes dos cinco continentes. No encontro, as delegações lançaram o Movimento dos Atingidos por Barragens, Crimes Socioambientais e Crise Climática, com o desejo de internacionalizar a luta por justiça, acesso à água e energia, e pela preservação de seus territórios, vidas e modos de vida. Parte dessas delegações internacionais, uma das mais numerosas dos movimentos sociais integrantes da Cúpula, esteve na plenária de encerramento, junto de centenas de militantes do MAB.
“Mais uma vez, as lutas dos povos do mundo se encontram aqui e fazem a história. Estamos navegando no mesmo rio, estamos no mesmo barco. Mais de 1.500 organizações do mundo em luta por justiça climática. A Cúpula foi gigante”, afirmou o integrante da coordenação nacional do MAB, Francisco Kelvim.

Kelvim afirmou ainda que a declaração política sintetizada no encerramento expressa o que foi construído ao longo dos dias de encontro, e indica as tarefas para o próximo período histórico. Segundo ele, o movimento sai mais fortalecido, determinado a não pedir licença, mas a construir outra história.
