Cúpula dos Povos: plenária do Eixo 4 fortalece solidariedade internacional e denuncia opressões globais
Lideranças de diversos países denunciaram colonialismo, racismo, patriarcado e intervenções militares, reforçando o internacionalismo como base da defesa dos povos
Publicado 15/11/2025

A plenária do Eixo 4 “Contra as Opressões, pela Democracia e o Internacionalismo dos Povos” realizada na Tenda da Solidariedade na Universidade Federal do Pará (UFPA) nesta sexta-feira (14), reuniu movimentos sociais, povos originários, organizações internacionais e delegações vindas do Caribe, da América Latina, da África, da Ásia e da Palestina.
Desde os primeiros minutos, o espaço carregava a sensação de estar diante de algo maior que um debate político: era um encontro de histórias, feridas, esperanças e resistências que se reconhecem no olhar umas das outras. Sob o grande bandeirão “Palestina Livre”, que cruzava o auditório como um chamado urgente, a plenária reafirmou que a solidariedade internacional não é um gesto simbólico, é uma necessidade histórica. Em tempos de violência colonial, racista e capitalista que marca tantos territórios, estar presente ao lado do outro é também disputar o sentido da democracia no mundo. Receber as delegações da Venezuela, de Cuba e de povos de diferentes regiões reforçou o espírito da plenária: a luta dos povos só avança quando é internacionalista.

Jamal Juma, do Stop the Wall (Campanha Popular Contra o Muro do Apartheid) Palestina, afirmou que internacionalismo é uma prática construída pelos que lutam contra colonialismo e ocupação. Ele denunciou que Gaza vive “mais de dois anos de genocídio contínuo”, com centenas de mortos por dia, água contaminada e destruição de infraestrutura básica. Chamou atenção para os mais de 100 milhões de quilos de bombas lançadas sobre o território e para o papel central dos EUA no apoio ao apartheid israelense, defendeu o boicote internacional a Israel e afirmou que “sabemos quem somos e sabemos quem são nossos inimigos”.

Bertitta emocionou o público ao lembrar o golpe de 2009, a privatização dos rios e o assassinato de sua mãe, Berta Cáceres, uma proeminente líder indígena hondurenha, ativista ambiental e cofundadora da liderança histórica do COPINH. Ela denunciou a presença, nas negociações da COP oficial, dos mesmos interesses que perseguiram e mataram defensores de direitos humanos em Honduras. Afirmou que “a luta internacionalista é o caminho para enfrentar o patriarcado, o racismo e os projetos verdes que, na prática, violam territórios indígenas”.

Chavannes Jean Baptiste é agrônomo e ativista haitiano, conhecido por seu trabalho de longa data com o Movimento Camponês de Papaye (MPP) e sua afiliação com a ALBA Movimentos. O militante recordou a história do Haiti como a primeira república negra do mundo, construída com a derrota do exército de Napoleão. Chavannes também denunciou a multa colonial imposta pela França após a independência e as invasões dos EUA, que mantêm o país sob massacres até hoje; e chamou atenção para as intervenções neocoloniais que atingem o Haiti e todo o Caribe e afirmou:
“Estamos aqui para globalizar a luta e globalizar a esperança. Porque quando compartilhamos nossas dores e nossas vitórias, entendemos que nenhum povo está sozinho. A força que nasce aqui atravessa fronteiras e nos lembra que a esperança só é verdadeira quando é construída de forma coletiva.”

Nazarela denunciou a guerra híbrida contra a Venezuela, marcada por bloqueios econômicos e mortes no Caribe desde 2015. Afirmou que as acusações de narcotráfico são pretextos para o saque de recursos naturais e destacou:
“A Venezuela não é uma ameaça, é uma esperança; uma esperança construída pelo povo que resiste, que organiza e que sonha em meio a todas as tentativas de nos calar. Convido cada um e cada uma a assumir esta Cúpula dos Povos como um espaço legítimo de construção política, de defesa da vida e de afirmação da soberania dos nossos territórios.”

A plenária terminou com o grande bandeirão da Palestina atravessando todo o auditório, carregado por dezenas de mãos firmes. O gesto emocionou o espaço e sintetizou o espírito do Eixo 4: solidariedade concreta, internacionalismo vivo e a certeza de que a luta contra as opressões só avança quando os povos se reconhecem uns nos outros, quando cada bandeira estendida representa também um compromisso coletivo com a vida e com a justiça.
