Delegações de 45 países chegam para o Encontro Internacional de Atingidos em Belém
A capital do Pará acolheu durante toda a quinta-feira mais de 200 delegados para uma semana de integração e debates sobre clima, energia e direitos dos povos atingidos
Publicado 07/11/2025 - Actualizado 07/11/2025

O primeiro dia do IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática começou com a chegada contínua de delegações vindas dos cinco continentes. Desde cedo, a Escola CESEP, em Belém, capital do Estado do Pará, na Amazônia Brasileira, transformou-se em ponto de encontro de lideranças comunitárias, jovens atingidos, representantes de organizações populares e delegados internacionais.
As equipes de acolhimento do MAB organizaram recepção, alojamentos e orientações logísticas para cada grupo, em um ambiente marcado pela expectativa e pela construção coletiva. Logo nas primeiras horas, delegações que desembarcaram após longas viagens começaram a compartilhar impressões iniciais. Entre elas, a representante de Uganda, Betty Obbo, que viajou 12 horas para chegar ao Brasil e destacou:
“Em Uganda, muitas famílias perderam terras, casas e sustento após a Barragem de Bujagali. Estamos aqui para aprender como outros povos fortalecem suas lutas e fazem suas vozes serem ouvidas. Espero compreender melhor as lutas de outros países e fortalecer nossa capacidade de organização e incidência, viemos para aprender e ensinar como outras comunidades fazem suas vozes serem ouvidas e fortalecer nossa própria luta pelo direito à terra, à energia e à vida digna.”

Integração e preparação das equipes
Ao longo da manhã, representantes de diferentes países circularam pelos pátios e salas da escola, ajustando hospedagens e iniciando diálogos espontâneos sobre experiências de enfrentamento a barragens e violações territoriais. Em cada grupinho, surgiam debates sobre impactos da crise climática, direitos humanos e estratégias de organização comunitária. No meio das movimentações, foi possível acompanhar a chegada da delegação cubana. Michel Santana compartilhou:
“Viemos de Cuba após mais de um dia de viagem. No nosso país, existe uma política de cuidado ambiental para evitar que represas afetem comunidades. Estamos aqui para aprender com as experiências dos movimentos da América Latina e de outros lugares do mundo e fortalecer a luta conjunta. Em nosso país, há uma política de cuidado ambiental: qualquer criação de espelhos d’água ou de represas considera sempre a população, o meio ambiente e os recursos do território, para que não haja impactos negativos. Nossa expectativa é conhecer de perto o trabalho dos movimentos e somar forças com todos os irmãos e irmãs do MAR”, diz Michel.

Durante toda a tarde, o pátio do CESEP tornou-se um mosaico cultural: idiomas diferentes ecoavam em meio a bandeiras de diversos países, enquanto símbolos territoriais apareciam em mochilas e camisas. Delegações da África, Ásia, América, Europa e Oceania compartilhavam seus relatos sobre conflitos, reorganizações comunitárias e batalhas por justiça ambiental. O clima geral era de aproximação e reconhecimento entre lutas distintas, mas atravessadas pela mesma lógica global de violação de direitos.
Para garantir uma maior integração entre os delegados, equipes de tradução, apoio e comunicação circularam entre os grupos, orientando participantes que chegam pela primeira vez ao encontro e registrando os primeiros momentos de integração.
Encerramento do dia e expectativas para o encontro

Com todas as delegações instaladas ao final da tarde, as equipes finalizaram os preparativos para a abertura oficial e a mística internacional. Entre conversas, revisões de agendas e trocas de materiais, os delegados reforçaram expectativas para o encontro, que seguirá até o dia 12 de novembro. Nos momentos finais do dia, Norberto Soares Ximenes, do Timor-Leste, trouxe uma reflexão sobre o sentido político e formativo desse encontro global. Ele conta sobre a sua realidade e as principais lutas dos atingidos no sudeste asiático.
“No Timor-Leste trabalhamos com educação popular e agroecologia para conscientizar as comunidades sobre a crise climática, que afeta diretamente o povo. Este encontro é uma oportunidade de fortalecer um movimento global que defende os direitos dos povos e dos agricultores. O sistema capitalista não cuida da natureza nem do povo, precisamos unir forças pela liberdade e pela soberania alimentar.”
O primeiro dia do IV Encontro Internacional deixou evidente o caráter estratégico do evento: reunir povos atingidos por barragens de todo o mundo para fortalecer alianças, produzir diagnósticos comuns e construir alternativas energéticas populares que respeitem territórios e direitos humanos. A abertura oficial ocorrerá na tarde desta sexta-feira (07), dando início a uma semana de debates, articulações e construções coletivas.
