Abertura do IV Encontro Internacional celebra a organização histórica dos atingidos
Com a presença da ministra das Mulheres, a mesa de abertura evidenciou a força do internacionalismo e da articulação coletiva das populações atingidas
Publicado 07/11/2025 - Actualizado 08/11/2025

A pluralidade da plenária apontava que não era apenas mais um encontro corriqueiro. É momento de marcar história e continuar o caminho semeado há décadas em inúmeros chãos, pelas mãos de tantos povos e em diferentes línguas e culturas. Os mais de 200 delegados – vindos dos cinco continentes – celebraram na tarde desta sexta-feira (07) a abertura do IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática, em Belém, no Pará.
De início, Soniamara Maranho, da coordenação do Movimento de Afectados por Represas (MAR), acolheu as delegações e saudou os aliados políticos e estratégicos presentes no ato, que “fortalecem a caminhada pela construção de uma sociedade justa, igualitária, socialista”.

Sonia continuou com o anúncio da construção do Movimento Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática, e explicou que o MAR é um movimento de base, feito especialmente por mulheres “que querem construir um projeto energético popular e uma alternativa ao sistema capitalista”.
“Nós acreditamos que a construção do sujeito atingido nos ajuda a fazer o enfrentamento ao grande capital e na disputa da geopolítica do mundo, onde tentam se apropriar de tudo pela lucratividade. Mas nossos territórios são de resistência!”, afirmou Soniamara.
“Vocês são muito importantes para o Brasil e para o mundo!”

A afirmação da ministra das Mulheres, Márcia Lopes, foi dirigida ao Movimento dos Atingidos por Barragens no Brasil (MAB) e ao MAR, que parabenizou “pela potência que são os dois movimentos”.
Na mesa de abertura do encontro, a ministra ressaltou especialmente a importância das mulheres na construção de soluções frente à crise climática, “porque elas sabem cuidar da natureza” e assumiu que tem uma grande responsabilidade: “Como ministra das Mulheres, tenho uma grande responsabilidade com 110 milhões mulheres brasileiras, das matas, campos e florestas. Mulheres quebradeiras de côco babaçu, mulheres catadoras, do hip-hop, quilombolas, indígenas. Mulheres que estão nas ruas, mulheres migrantes, mulheres LBTs. Enfim, todas as mulheres brasileiras”.
A ministra seguiu sua fala alertando para a dívida social com os atingidos, de “pelo menos 40 ou 50 anos”, e afirmou que “o MAB sempre foi um grande parceiro, estudando, dialogando e fazendo o possível para que se coloque os recursos públicos a serviço dos movimentos sociais no Brasil”.
Márcia finalizou destacando as Arpilleras do MAB como sinais de história, memória e marcas das lutas e das resistências das mulheres em seus territórios. “Também do sofrimento de todas as mulheres que estão sempre no centro do debate quando falamos em crise climática, da omissão do estado e dos desastres naturais”, pontuou.

Além de outros movimentos e instituições parceiras do MAB, também participou da mesa o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Toya Manchineri. Em nome dos povos indígenas da Amazônia, ele saudou os delegados dos 45 países participantes do encontro e lembrou a importância da articulação dos povos na luta pelos direitos, pelos territórios e pela soberania popular:
“Nossa luta é bastante parecida e é a mesma na defesa do nosso direito e do nosso território. Somos parceiros na luta e continuaremos juntos, porque a resposta somos nós. Se não fôssemos nós – indígenas, atingidos, quilombolas – tudo estaria destruído!”
Décadas de resistência dos atingidos
A tarde iniciou com a retomada histórica dos encontros internacionais, desde o primeiro, em Curitiba, passando pela Tailândia e pelo México. Até chegar a Belém, neste IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática.
O momento foi uma oportunidade para olhar à construção do internacionalismo e da solidariedade entre os atingidos de tantos países, além da confiança construída entre os movimentos e organizações. Esse caminho permite hoje celebrar nove anos do Movimiento de Afectados por Represas na América Latina e consolidar a construção do Movimento Internacional dos Atingidos por Barragens e Crise Climática.

Esse caminho foi ressaltado pelo secretário de Agricultura Familiar do Estado do Pará, Cássio Alves Pereira, que afirmou durante a mesa que “a busca pela mitigação dos impactos da mudança climática está no DNA do MAB e do MAR”. Ao olhar para a luta das populações atingidas em todo o mundo nas últimas décadas, ele pontuou que os atingidos são sujeitos históricos e exemplares “na luta pela adaptação no ponto de vista social, ambiental e mesmo nos modos de produção”.
Cássio concluiu agradecendo pela organização e resistência dos atingidos, destacando que este IV Encontro Internacional deverá apontar luzes à toda sociedade e aos governos: “A experiência de vocês deve produzir reflexões e caminhos possíveis para o enfrentamento da crise climática”, finalizou Pereira.
