Movimentos sociais irão refletir sobre cidades vivas e justas durante a Cúpula dos Povos
Eixo V discutirá o direito à cidade, à superação do racismo ambiental e à construção de políticas urbanas populares
Publicado 04/11/2025

A Cúpula dos Povos é um espaço internacional de articulação dos movimentos populares, organizações sociais e ambientais que constroem, de forma autônoma, uma agenda comum em defesa da justiça climática e da soberania dos povos. Organizada em seis eixos temáticos, a Cúpula reúne propostas e denúncias que apontam caminhos concretos para enfrentar a crise climática e o modelo de desenvolvimento que concentra riquezas e destrói territórios. Entre esses eixos, o Eixo V – Cidades justas e Periferias Urbanas Vivas – coloca no centro do debate o direito à cidade, o combate ao racismo ambiental e a construção de políticas urbanas baseadas no bem viver e na participação popular.
As organizações que constroem este eixo denunciam que o atual modelo de urbanização, guiado pela especulação imobiliária e pelo lucro, empurra o povo para as áreas de risco, precariza o trabalho, aumenta o custo de vida e aprofunda o racismo ambiental. A crise climática se manifesta nas enchentes, nos deslizamentos e na falta de acesso à infraestrutura urbana, atingindo de forma mais direta os que menos tem.
Nas periferias brasileiras, e em tantas outras ao redor do mundo, a ausência de saneamento, transporte público digno e moradia adequada não é por acaso: é resultado de um projeto que nega o direito à cidade aos mais pobres. Por isso, o Eixo V propõe um novo modelo de planejamento urbano, que integre justiça social, respeito à natureza, igualdade de gênero, raça e etnia, e que tenha a vida e o cuidado como centro das decisões.

“A luta por cidades justas também passa por iniciativas concretas nos territórios. Temos atuado com projetos de energia solar limpa, viveiros de plantas e hortas urbanas comunitárias, além da instalação de mantas térmicas brancas em moradias de madeira nas ocupações, para amenizar o calor extremo. São ações simples, mas que melhoram a vida das famílias e mostram que é possível pensar a cidade a partir das necessidades do povo”, explica Sidnei Pita, da União Nacional por Moradia Popular.
Entre as principais diretrizes em debate estão a democratização do acesso à água, à energia e ao saneamento como direitos universais; a reciclagem de imóveis ociosos para moradia popular; o incentivo à agroecologia e às tecnologias sociais nas periferias urbanas; e a expansão da cobertura vegetal das cidades como forma de adaptação às mudanças climáticas. Além disso, o eixo propõe descentralizar a geração de energia, fortalecendo soluções locais e comunitárias que ampliem a soberania energética popular.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem intensificando os debates ligados às pautas deste eixo, e reafirma a necessidade urgente de políticas públicas estruturantes que enfrentem as desigualdades históricas das cidades brasileiras. O movimento defende moradia digna, saneamento, transporte público de qualidade e acesso à água e energia como direitos humanos, e não como mercadorias. O MAB também defende a reconstrução dos laços comunitários rompidos pela lógica individualista e excludente que marca o modelo urbano atual, valorizando as formas de solidariedade e organização popular que nascem e frutificam nas periferias.

A luta por cidades justas também é uma luta pela valorização do trabalho popular e pela superação da precarização, que atinge milhões de trabalhadoras e trabalhadores, catadoras e catadores, ambulantes, entregadores, domésticas, operárias, jovens e mães solo, que sustentam as cidades, mas raramente são incluídas e consultadas nas decisões sobre o futuro urbano. O MAB defende trabalho decente e renda digna, com políticas que reconheçam a diversidade e a importância social dessas categorias.
“Nós do MAB, entendemos que a construção de cidades justas e periferias vivas exige muita luta popular e decisão política de Estado. Isso significa articular políticas públicas, programas governamentais e ampla participação da sociedade civil para garantir o direito à cidade e à vida digna para o povo”, afirma Liciane Andrioli, da coordenação nacional do MAB.
Ao colocar o povo no centro do debate sobre o futuro das cidades, o movimento reforça que a justiça urbana é inseparável da justiça climática e da soberania popular. Garantir o direito à cidade é garantir também o direito à vida nas águas, nos campos e nas periferias. Cidades justas e vivas são parte de um mesmo projeto de transformação, que une as lutas do campo e da cidade, em defesa de um novo modelo de desenvolvimento: popular, solidário e orientado pela vida, não pelo lucro.
