II Encontro Internacional: O rio que voltou a correr e a vitória histórica dos atingidos na Tailândia

A contagem regressiva marca apenas quatro dias para que atingidos de todo o mundo se encontrem em Belém, no IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática. Para intensificar nossa preparação, continuamos aprofundando a história dos encontros internacionais, chegando hoje na Tailândia

O II Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e seus Aliados aprofundou o tema "Rios para a Vida". Foto: Arquivo MAB
O II Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e seus Aliados aprofundou o tema “Rios para a Vida”. Foto: International Rivers

Se em 1997, o I Encontro Internacional de Atingidos por Barragens tinha marcado um passo fundamental rumo à internacionalização da luta das populações atingidas. Seis anos depois, a comunidade de Rasi Salai, no nordeste da Tailândia, reafirmou ao mundo o poder da organização coletiva e da resistência.

O II Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e seus Aliados reuniu mais de 300 pessoas de 62 países, entre 28 de novembro e 3 de dezembro de 2003. O encontro foi realizado na pequena Vila de Rasi Salai, onde o cenário impressionava: à beira do Rio Mun, um povoado de cabanas feitas de bambu e palha de arroz, construído inteiramente pelos atingidos por barragens da Tailândia para acolher quem chegaria do mundo todo para o encontro.

Apesar da paisagem peculiar, era a determinação e a conquista dos atingidos daquele lugar que tinha maior significado: à montante da barragem de Rasi Salai, o terreno esteve por mais de sete anos encoberto pelas águas. Após muita luta dos atingidos, as comportas foram abertas, permitindo que as águas do rio retornassem ao seu leito natural e a água deixasse aquele território. O Encontro Internacional ocorreu três anos depois da reabertura das comportas, quando os cultivos já estavam amadurecendo, os peixes começando a reaparecer e a vida comunitária voltando a ser tão vibrante quanto no passado.

Sodsai Sangsok é militante do movimento que organiza os atingidos por barragens na Tailândia e denuncia as violações sofridas ainda hoje. Foto: Letícia Oliveira / MAB
Sodsai Sangsok é militante do movimento que organiza os atingidos por barragens na Tailândia e denuncia as violações sofridas ainda hoje. Foto: Letícia Oliveira / MAB

A tailandesa Sodsai Sangsok integra o Grupo de Monitoramento de Ubon para Enchentes e Barragens do Rio Mekong. Ubon é a cidade mais próxima de Rasi Salai e o Rio Mun, com cerca de 750 km de extensão, é um dos principais afluentes do grande rio Mekong. Sodsai lembra que o encontro foi fundamental para a troca de experiências e o aprendizado coletivo, e que evidenciou a solidariedade internacional entre os atingidos:

“Para os moradores de Rasi Salai foi um momento de alegria e empoderamento receber visitantes que vieram para apoiá-los. O evento ajudou a reafirmar a identidade dos moradores e a fortalecer a imagem coletiva da comunidade. Isso os fez sentir orgulhosos e conectados, especialmente com os companheiros do exterior que compartilharam experiências e ideias que os ajudaram a crescer e a continuar melhorando sua luta”, conta Sodsai.

Duas décadas de resistência

A luta contra as barragens na Tailândia e em Rasi Salai continua, mesmo mais de 20 anos depois. Atualmente, as comportas da barragem são abertas e fechadas pelo governo periodicamente, em tempos não determinados, o que torna inviável a vida dos atingidos à margem do Rio Mun. “Continuamos a lutar dia após dia, mês após mês e ano após ano, por todos os caminhos possíveis. Embora não tenhamos alcançado a justiça plena, nunca vamos desistir. Adaptamos nosso movimento de acordo com as situações em mudança”, relata a tailandesa. 

Entre as principais pautas dos atingidos de Rasi Salai, está a compensação pela perda de renda dos meios de subsistência na área da floresta alagada de Paa Bung Paa Tam, destruída pela construção da barragem. O governo tailandês tem a obrigação de pagar indenizações desde a época da construção até agora, mas Sodsai relata que nenhum pagamento foi feito até agora. “Continuaremos nossa luta até que nossos problemas sejam finalmente resolvidos”, ressalta a atingida de Rasi Salai.

Sodsai não estará no Brasil, mas conta que outro atingindo de Rasi Salai e integrante do Grupo de Monitoramento de Ubon para Enchentes e Barragens do Rio Mekong participará do IV Encontro Internacional de Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática, que inicia na próxima sexta-feira (07) .

Em alguns dias, atingidos de todo o mundo se encontrarão em Belém, na Amazônia Brasileira, para o IV Encontro Internacional. Enquanto isso, você continua acompanhando em nosso site o caminho até o encontro de 2025. Amanhã você confere o relato do III Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens, no México.

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