Movimentos de 62 países se preparam para o IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática
O evento, que acontecerá em Belém (PA) entre os dias 6 e 12 de novembro, tem mobilizado pessoas dos cinco continentes que se preparam para trocar experiências, fortalecer redes de resistência e discutir alternativas ao extrativismo e à crise climática
Publicado 28/10/2025 - Actualizado 31/10/2025

Entre os dias 6 e 12 de novembro, a cidade de Belém, no Pará, irá receber representantes de 62 países para o IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática. O evento, articulado pelo Movimiento de Afectados por Represas (MAR) reunirá mais de 350 delegadas e delegados dos cinco continentes, com o objetivo de trocar experiências, fortalecer redes internacionais de resistência e debater alternativas energéticas populares diante da crise climática global.
Esta é a segunda vez que o Encontro acontece no Brasil. Em 1997, o evento reuniu pessoas em Curitiba, no Paraná. Em 2003, na Tailândia e em 2010, no México. Agora, em 2025, o país recebe a quarta edição do evento, com a expectativa de ampliar a luta das populações atingidas e consolidar pautas comuns na defesa da vida, dos territórios e da soberania energética.
Como os países tem se preparado para o IV Encontro Internacional
No Brasil, a preparação se concentrou em debates políticos e no fortalecimento da organização coletiva. Segundo Soniamara Maranho, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da coordenação do MAR, o país tem se mobilizado em diversas frentes para contribuir com a consolidação de um movimento internacional de base, com estratégia própria e articulação global.
“É neste IV Encontro que vamos consolidar a criação de um movimento internacional de atingidos por barragens e pela crise climática, que até hoje vinha se organizando de forma continental ou nacional. A partir de agora, teremos um movimento internacional de base, com estratégia nacional e articulação global. Isso dá aos atingidos uma referência concreta para unificar a luta nacional e internacional”, explica.
De acordo com Sônia, os atingidos no Brasil, como anfitriões deste encontro, realizaram debates sobre a conjuntura, acumularam experiências de formação e resistência nos territórios e estão preparando as condições logísticas para receber delegações de todo mundo.
“Serão dias de muito intercâmbio e de debates sobre que tipo de movimento queremos construir, que modelo energético defendemos e que sociedade alternativa ao sistema capitalista buscamos fortalecer”, afirma.
Já no continente africano, em Moçambique, a preparação envolveu a mobilização das comunidades atingidas pela barragem de Mphanda Nkuwa, na província de Tete. Segundo Érika Mendes, da organização Justiça Ambiental (JA!) e integrante da coordenação africana do Encontro, o país realizou reuniões e partilhas de informação com as populações locais. Também elaborou a Declaração de Chitima, lançada em março, reafirmando o direito das comunidades de rejeitar o projeto da barragem e participou da organização do Fórum Continental Africano sobre Mega-Barragens e Crise Climática, realizado em Kinshasa em junho deste ano.
“Temos expectativas de aprender com as lutas da América Latina; nos inspirarmos com os movimentos sociais das Américas, de quem temos tanto para aprender. Também queremos ajudar os companheiros de outros países a entender melhor o contexto da África, as dificuldades que enfrentamos em nossos países, em particular Moçambique, que é um dos países mais pobres do mundo e tão impactado pelos grandes projetos extrativistas e pelas mega-barragens. Queremos fortalecer a solidariedade entre povos do Sul Global e juntos vamos construir um mundo diferente, onde as pessoas e o planeta são mais importantes que o lucro”, declarou Érika.
Na Europa, as delegações têm se articulado nos últimos meses por meio de encontros presenciais e virtuais. Segundo Irene González Pijuan, da Aliança contra a Pobreza Energética na Espanha, em maio de 2025, 15 organizações se reuniram em La Morera, Barcelona, para compartilhar suas histórias de luta e iniciar a construção de um sujeito político de pessoas atingidas. Desde então, reuniões online ajudaram a formar a delegação que viajará a Belém e a planejar tarefas e grupos de trabalho necessários.
“A expectativa do evento é conseguir se articular de maneira internacional com outros movimentos de atingidos. Ouvir e aprender com organizações de outros continentes suas histórias de luta, visão da conjuntura e objetivos, para ir construindo um sujeito político comum, baseado na solidariedade internacionalista, capaz de enfrentar o capitalismo, os extrativismos e o saque que eles acarretam”, afirma.
Além disso, a articulação europeia busca superar a lógica imposta por governos e grandes empresas, colocando os próprios atingidos no centro do debate e fortalecendo a solidariedade internacionalista.
No continente asiático, Teresia Jari, da Indonésia, ressalta que a preparação envolveu a mobilização das comunidades locais, como o povo Punan, no rio Tubu Mentarang, para compartilhar experiências e fortalecer a resistência contra as explorações que ameaçam seus territórios. Segundo ela, o encontro será uma oportunidade de intercâmbio entre os vários continentes.
“Este é o momento para nós, cidadãos comuns, compartilharmos o que estamos enfrentando em nossas aldeias, aprender com as experiências de outros lugares e, o mais importante, buscar inspiração para continuar lutando e demonstrar solidariedade juntos”, ressalta Teresia.
Um encontro de articulação global
O IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática representa uma oportunidade de articulação global, visibilidade e pressão política. Para os participantes, estar juntos em Belém significa construir estratégias internacionais, trocar experiências e fortalecer a luta coletiva, mostrando que é possível priorizar a vida, os territórios e a solidariedade em lugar do lucro e da exploração. O evento reforça que a luta dos atingidos não conhece fronteiras e que a solidariedade internacional é essencial para enfrentar o capitalismo, o extrativismo e a crise climática de forma organizada e estratégica.
