4º Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática reunirá 62 países em novembro

Reunidos em Belém, no Pará, atingidos por barragens e crise climática buscarão unidade internacional e articulação de uma estratégia global para projetos energéticos populares, desafiando o modelo capitalista

Poucos dias antes do início da COP30, a Conferência do Clima da ONU, Belém, receberá o 4º Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática. De 6 a 12 de novembro, atingidos de cinco continentes – incluindo a Oceania -, somando ao menos 62 países e 350 delegadas e delegados, irão debater e articular a internacionalização da luta dos atingidos por barragens, da soberania energética popular e da construção de um projeto alternativo ao sistema capitalista. 

Segundo Soniamara Maranho, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens (MAB) e coordenação internacional do Movimiento de Afectados por Represas (MAR), no primeiro dia do encontro as delegações irão avaliar a conjuntura internacional, levando em conta as discussões postas à mesa pelos países sobre o enfrentamento à crise climática, e lançar a proposta de um movimento internacional de atingidos por barragens sólido, com organização própria e capilaridade. 

“Nosso grande objetivo em Belém será criar uma unidade internacionalista, que envolva 62 países dos cinco continentes. Queremos socializar a conjuntura global, trocar experiências centenárias e construir uma estratégia unificada para que os povos atingidos por barragens e pela crise climática debatam e construam projetos energéticos populares em seus países, enfrentando o fascismo e propondo alternativas ao sistema capitalista em todos os territórios.”

Os dias seguintes ao início do encontro serão dedicados à construção de um espaço de diálogo direto com governos, a fim de influenciar políticas públicas. Um dos focos será apresentar e promover o debate sobre legislações como a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), conquistada no Brasil em 2023. 

Nos dois dias finais, a plenária se concentrará na sistematização e na estratégia futura, visando a qualificação dos movimentos nacionais, o fortalecimento da articulação internacional, a garantia de uma direção unificada em todos os países e a definição de pautas de luta comuns para enfrentar a crise climática e as grandes obras.

Da década de 1990 até aqui

A construção de um movimento internacional de atingidos por barragens começou na década de 1990. O encontro surgiu da reflexão dos atingidos de que as empresas e multinacionais que promovem a construção de barragens estão organizadas e constituídas internacionalmente. 

O primeiro encontro ocorreu em Curitiba, em 1997, no Paraná, e contou com delegações de 20 países. Foi nesse encontro que saiu o lema “Águas para a vida, não para a morte”. O segundo encontro foi realizado em 2003, em Rasi Salai, na Tailândia. Nesse, atingidos por barragens de 62 países, mas também ativistas pelo uso sustentável e justo da água e da energia se juntaram, unificados na pauta do interesse à vida em terras inundadas.

Em 2010, Temacapulín, no México, abrigou o 3º Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens. O cenário escolhido foi um povo em perigo de ser destruído pela construção da represa El Zapotillo. Representantes de 52 países estiveram no México. 

No encontro, destacou-se com mais ênfase que a crise climática já havia demonstrado toda a sua fúria com chuvas excessivas e rios transbordados em represas perigosas, que já se encontravam em sua máxima capacidade. Os atingidos denunciaram a construção de represas como uma tecnologia obsoleta e um fermento para a crise climática. 

María de los Angeles, da secretaria do Movimento Afectados por Represas (MAR), ressalta que todo o caminho percorrido até aqui envolveu múltiplas articulações, encontros, eventos, discussões, fazendo com que hoje os atingidos por barragens estejam maduros organizacionalmente para lançar o MAR. 

“O objetivo central que o Movimento propõe é internacionalizar a luta contra as barragens, e as causas estruturais da atual crise climática para desmercantilizar a vida, lutar pela defesa dos direitos das comunidades afetadas e pela construção de um modelo energético popular que viabilize a soberania dos povos. É uma força anticapitalista, antipatriarcal e anti-extrativista que se nutre do acúmulo de saberes e experiências de lutas dos vários continentes onde o trabalho foi realizado: da Ásia, Europa, África e América, com avanços na Oceania, para defender a Mãe Terra e os direitos do as comunidades atingidas, propondo um projeto alternativo de sociedade da solidariedade e unidade dos povos ”, afirma a María. 

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