Hidrovia Araguaia-Tocantins é suspensa após pressão popular, mas a luta continua!

Após vitória na justiça, comunidades ribeirinhas, quilombolas, pescadores e camponeses organizados no MAB seguem firmes na luta pela vida e pelos territórios.

A luta contra a hidrovia Araguaia Tocantins será realizada até a conquista da suspensão definitiva. Foto: Jordana Ayres / MAB

No dia 25 de junho de 2025, o povo do Baixo Tocantins conquistou uma importante vitória: o projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins foi suspenso pela Justiça Federal a pedido do Ministério Público Federal (MPF). A medida é resultado direto de anos de resistência, mobilização e denúncia popular protagonizados pelas populações atingidas da região, ao lado de defensores dos direitos humanos, organizações e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

A recente decisão do juiz federal substituto André Luís Cavalcanti Silva, da 9ª Vara Federal Ambiental e Agrária representa uma vitória significativa para os atingidos, assegurando que a obra da hidrovia Araguaia-Tocantins não comece até que uma avaliação judicial detalhada seja realizada. O juiz se comprometeu a visitar a região para compreender os impactos da obra e ouvir as comunidades que denunciam as consequências de sua implementação. Embora a licença para a obra permaneça ativa, esta determinação impede o início das atividades, configurando uma vitória parcial que permite que as vozes das comunidades sejam ouvidas antes de qualquer avanço.

“Essa decisão liminar de suspender a hidrovia é essencial para proteger a vida no Baixo Tocantins. Já sofremos com os impactos da barragem de Tucuruí, e esse novo projeto ameaça agravar ainda mais a destruição do rio, da floresta e das comunidades. Exigimos respeito, escuta e um modelo de desenvolvimento que não nos expulse do território. A suspensão é um respiro. É tempo de ouvir as comunidades, medir os impactos de verdade e não decidir tudo de cima para baixo, como sempre fazem. Não somos contra o desenvolvimento, mas contra esse tipo de progresso que mata o rio, destrói a floresta e expulsa o povo.” Afirma Darcilene, moradora da comunidade Paruru do Meio, Cametá (PA).

Um projeto para poucos, impactos para muitos

Desde o início, o projeto foi vendido como vetor de “desenvolvimento” para a região. Na prática, significava:

* Remoções forçadas de comunidades;

* Destruição de igarapés e áreas de pesca artesanal;

* Risco aos modos de vida ribeirinhos e tradicionais e;

* Expansão do agronegócio e da mineração sobre territórios coletivos. Um dos pontos mais graves da obra era o derrocamento (explosão) do Pedral do Lourenço, formação rochosa entre Marabá e Itupiranga. A intervenção colocaria em risco o ecossistema do Tocantins e a vida de milhares de moradores que dependem do rio para sobreviver

Hidrovia Araguaia Tocantins atende aos interesses do capital e ignora impactos ambientais e a vida das populações tradicionais que dependem do rio para a sua subsistência. Foto: Jordana Ayres / MAB
Hidrovia Araguaia-Tocantins atende aos interesses do capital e ignora impactos ambientais e a vida das populações tradicionais, que dependem do rio para a sua subsistência. Foto: Jordana Ayres / MAB

O povo falou, a Justiça ouviu

A suspensão da licença para início das explosões no Pedral do Lourenço é fruto direto da pressão popular: audiências públicas, mobilizações e denúncias feitas pelas comunidades atingidas. As principais irregularidades apontadas foram:

* Ausência de consulta livre, prévia e informada, como exige a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT);

* Fragilidade nos estudos de impacto ambiental e;

* Desrespeito à legislação socioambiental e aos direitos das populações locais.

Resistência que brota da terra e do rio

A decisão da Justiça Federal é uma vitória da organização popular, construída a muitas mãos, nas margens do Tocantins. Mas a luta continua.

O MAB reafirma seu compromisso com os povos atingidos e exige:

* Paralisação definitiva do projeto da hidrovia;

* Reparação dos danos causados pela barragem de Tucuruí e;

* Políticas públicas reais para os atingidos: acesso à energia, água, educação, saúde e terra para produzir e viver com dignidade.

Antônio Dias, liderança do MAB, da região do Baixo Tocantins (Cametá-PA). Foto: Jordana Ayres / MAB
Antônio Dias, liderança do MAB, da região do Baixo Tocantins (Cametá-PA). Foto: Jordana Ayres / MAB

“Aqui a gente planta, pesca, vive do rio e da floresta. É disso que vem o nosso sustento e a nossa história. Não vamos aceitar que tirem tudo isso pra beneficiar empresa de fora, que nem conhece nosso território e só quer explorar o que é nosso.”, defende Antônio Dias, liderança do MAB, comunidade Mapiraí (PA).

Por uma Amazônia com justiça e soberania

A luta contra a Hidrovia Araguaia-Tocantins é parte de um enfrentamento maior: contra um modelo destrutivo imposto pelo capital, baseado em barragens, mineração predatória, desmatamento e expulsão dos povos de seus territórios.

As comunidades atingidas seguem firmes e organizadas. O recado é claro:

Não sairemos do nosso território. Resistiremos com coragem, união e força coletiva.

Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular!

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 09/07/2025 por Movimento dos Atingidos por Barragens - Pará

Nota | Contra a Hidrovia da Morte, em defesa do Rio Tocantins e dos povos amazônidas

MAB denuncia graves retrocessos e violações de direitos, caso a Hidrovia Tocantins-Araguaia avance, ameaçando a vida e o território das comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas. O movimento exige a imediata suspensão das obras, o respeito às consultas prévias e informadas, e a garantia de justiça e reparação para os povos atingidos

| Publicado 26/03/2025 por Lanna Paula Ramos / Terra de Direitos

Especialistas apontam falhas em estudos da Ferrogrão e alertam para riscos e impactos a povos tradicionais

Parecer técnico critica avaliação de impactos socioambientais e a governança territorial do projeto que visa ligar Centro-Oeste à Amazônia

| Publicado 12/02/2025 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Liderança da luta pela terra é assassinada a tiros em Vitória do Xingu (PA)

Atingido por Belo Monte, Ednaldo foi morto por dois homens em uma moto. Seu enterro acontece no mesmo dia que completam 20 anos da morte de Dorothy Stang, que também lutava pela terra na região