Comunidades denunciam projeto como destrutivo para o território, os rios e os modos de vida. Mutirão do MAB percorreu mais de 10 comunidades no Baixo Tocantins, com atividades que fortaleceram organização popular e preparação rumo à COP30
Publicado 23/06/2025

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou, entre os dias 17 e 21 de junho, o Mutirão dos Atingidos do Baixo Tocantins contra a Hidrovia Tocantins-Araguaia, passando pelos municípios de Cametá, Baião e Mocajuba, com atividades também em Itupiranga e Marabá. Durante cinco dias, o mutirão percorreu comunidades quilombolas, ilhas e áreas rurais para denunciar os impactos do megaprojeto da hidrovia, esclarecer dúvidas sobre direitos garantidos pela Política Nacional dos Atingidos por Barragens (PNAB) e fortalecer a organização popular na luta em defesa do Rio Tocantins e dos territórios.
“Nós estamos aqui dialogando sobre esse projeto, que está desconfigurando tanto o nosso território quanto a nossa vida. O governo diz que isso é progresso, mas esse progresso não nos atinge. Pelo contrário, nos atinge com morte, destruição e desconfiguração do nosso modo de viver. Vão tirar nosso peixe, nossos lugares de produção. Por isso, temos que lutar, nos organizar para resistir e permanecer no nosso espaço”, denuncia Jonai Mendes Carvalho, moradora da comunidade Vila do Carmo, em Cametá.

A hidrovia é vista pelas comunidades como mais um projeto de exploração a serviço do agronegócio e da mineração, que ameaça profundamente os modos de vida ribeirinhos, quilombolas e de populações tradicionais do Baixo Tocantins. Ao longo do mutirão, foram realizadas reuniões, rodas de conversa e atividades formativas, mobilizando dezenas de famílias atingidas, além de articulações com igrejas e organizações da sociedade civil.
“Esse projeto pode até trazer benefício para as grandes empresas, para quem mexe com soja, milho e gado. Mas para nós, povo ribeirinho, benefício nenhum. Pelo contrário, só prejuízo. A gente é totalmente contra a escavação desse rio, porque os impactos serão para a vida toda”, alerta Messias Barruzo, morador da comunidade quilombola Aripijó e biólogo.

O projeto da Hidrovia Tocantins-Araguaia prevê a dragagem de mais de 200 quilômetros do leito do rio, além da explosão de cerca de 35 quilômetros do Pedral do Lourenço, considerado berço da biodiversidade aquática da região. As obras têm como objetivo viabilizar a passagem de grandes embarcações para o transporte de commodities, como soja, minérios e gado, do Centro-Oeste até o Porto de Vila do Conde, no Pará.
Em maio, o Ibama concedeu licença de instalação para a derrocagem do Pedral do Lourenço, ignorando uma decisão judicial e desrespeitando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante às comunidades tradicionais o direito à consulta livre, prévia e informada.
O MAB denuncia que, assim como aconteceu com a hidrelétrica de Tucuruí, os impactos desse projeto recairão sobre quem vive do rio, da pesca, da agricultura e da coleta – especialmente sobre as mulheres, que enfrentam diretamente a sobrecarga no cuidado, no trabalho e na luta pela garantia dos modos de vida.
“Deixem o Pedral no caminho! Essa luta não é só nossa, é uma luta pela terra, pela água e pelo futuro das próximas gerações”, reforçam os atingidos e atingidas. O mutirão também fez parte do processo de preparação das comunidades para a Cúpula dos Povos e para a COP30, que ocorrerá em Belém, em novembro desse ano. O objetivo é levar as denúncias sobre os megaprojetos que ameaçam a Amazônia e exigir que as vozes dos povos tradicionais sejam ouvidas nos espaços de decisão sobre clima e meio ambiente.
O rio é do povo! Não à hidrovia Tocantins-Araguaia!