MAB e Fiocruz realizam oficina que capacita coletivos de saúde para fortalecer a vigilância popular na Bahia e Pernambuco
A atividade faz parte da cooperação técnica que busca ampliar os coletivos de saúde do Movimento e fortalecer instrumentos a favor dos direitos dos atingidos
Publicado 29/01/2025 - Atualizado 29/01/2025




Em parceria com a Fiocruz, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou, entre os dias 24 e 26 de janeiro, em Salvador (BA), a terceira oficina estadual para formação e fortalecimento dos coletivos de saúde do Movimento. O encontro, que reuniu atingidos da Bahia e de Pernambuco, profissionais e pesquisadores, teve como objetivo fortalecer a organização popular e garantir o acesso aos direitos à saúde.
A etapa faz parte do projeto “Saúde e Direitos Humanos: a formação do coletivo de saúde das populações atingidas por barragens na promoção do direito a territórios saudáveis e sustentáveis”, inserida na cooperação técnica entre a Fiocruz e o MAB, e abordou temas como o processo histórico de conquista do Sistema Único de Saúde (SUS); o Conceito da Determinação Social da Saúde; Vigilância em Saúde; e a Vigilância Popular em Saúde.
“Eu vejo essa cooperação técnica como um benefício mútuo, tanto pra Fiocruz quanto pro MAB, ela tem um caráter também individual e coletivo. A gente troca conhecimentos de acordo com a necessidade do povo, ao mesmo tempo que oxigenamos nossa prática enquanto pesquisadores. Essa é uma oportunidade pra gente se aproximar da realidade das pessoas e conhecer o Brasil de fato”, relata Rafaella Miranda, estudante de doutorado na Fiocruz Pernambuco e uma das facilitadoras da oficina.
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Para Carla Freitas, militante do MAB e bolsista do projeto, “O projeto busca compreender e dar visibilidade aos impactos dos grandes empreendimentos na saúde das populações atingidas. A iniciativa partiu da ideia de que quem vive nos territórios afetados têm um papel fundamental na construção do conhecimento e na defesa de seus direitos. Essa abordagem de vigilância popular em saúde fortalece a participação ativa das comunidades atingidas, garantindo que suas experiências e demandas sejam reconhecidas”, aponta.
Saúde dos atingidos em pauta





Em um estudo anterior, realizado através da parceria entre MAB e Fiocruz, ficou evidente o profundo impacto das barragens na saúde das comunidades atingidas. A pesquisa, detalhada no resumo executivo “A luta dos atingidos por barragens e a saúde em movimento”, demonstra que os processos de adoecimento dessas comunidades são complexos e multifacetados, iniciando-se ainda na fase de construção das barragens e persistindo ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento.
Aspectos como a desterritorialização, doenças físicas e mentais, violação de direitos e interrupção de meios de subsistência são apenas algumas das consequências enfrentadas por essas populações. Historicamente o MAB denuncia este modelo de desenvolvimento que prioriza o lucro, a exemplo da política energética brasileira, que privilegia os interesses das empresas e bancos, em detrimento da saúde e do bem-estar das comunidades.
Inaiara Rodrigues, técnica de Vigilância em Saúde Ambiental do Estado da Bahia, reforça o papel da iniciativa para a construção de um SUS mais democrático e participativo. “A oficina cumpre um papel tanto de fortalecer o movimento social, quanto o SUS, esse é inclusive um dos seus tripés, que a gente tenha participação popular, e hoje eu vejo que essa participação ainda é muito tímida. Esses espaços de discussão contribuem para que a gente caminhe junto e trabalhe como de fato deve ser”.
O fortalecimento dos coletivos de saúde do MAB é um passo fundamental para dar voz a essas populações, criando um espaço de capacitação de lideranças locais, fomentando a luta por políticas públicas mais justas, por um SUS mais participativo, e para que a saúde seja um direito de todos e todas em seus territórios.
“Mais do que dar visibilidade aos impactos, o projeto busca transformar a realidade das comunidades atingidas, promovendo articulações para que políticas públicas mais justas e eficazes sejam implementadas”, conclui Freitas.
