Em meio a desastres ambientais, organizações populares de MG debatem soluções para a crise climática

Na última segunda (20), movimentos sociais, sindicatos e mandatos realizaram a Conferência Livre do Meio Ambiente de Minas Gerais

Chega a 100 o número de cidades afetadas pelas chuvas em Minas Gerais. Foto: divulgação

Cerca de 100 pessoas de diferentes coletivos e organizações realizaram, no último dia 20, a Conferência Livre do Meio Ambiente de Minas Gerais. O encontro, que ocorreu de forma virtual, teve como objetivo debater e elaborar propostas para o enfrentamento à crise climática em curso no país. O evento é preparatório para a 5° Conferência Nacional do Meio Ambiente, a ser realizada em maio deste ano pelo governo federal, com o tema: “Emergência climática, o desafio da transformação ecológica”.

Berço dos dois maiores crimes socioambientais do país, Minas Gerais atualmente vive as consequências do modelo predatório de exploração praticado há séculos no estado. Os recentes desastres climáticos, como as enchentes em Ipatinga, no Vale do Aço, evidenciam a urgência de ações de reparação e prevenção de desastres. Leticia Oliveira, moradora de Mariana (MG) e integrante da coordenação nacional do MAB, destacou que tais episódios são frutos de decisões políticas e econômicas e não apenas de questões naturais.

“O que precisamos é justamente avançar nas políticas e projetos de gestão, para que estejamos preparados para enfrentar essas consequências. Um grande avanço que tivemos foram as políticas estadual e nacional das populações atingidas (PEAB e PNAB), mas ainda é pouco”, pontuou.

Além dos crimes de rompimento de barragens, outro exemplo dos danos causados no estado pelo modelo exploratório da natureza é a situação do Vale do Jequitinhonha. A região chegou a registrar uma das maiores temperaturas do mundo, com 44,8°, em Araçuaí. A cidade é epicentro do megaprojeto de mineração de lítio que, além do aquecimento, agrava o período de seca no território. A situação coloca em risco a subsistência de povos e comunidades tradicionais e ameaça o patrimônio natural da região.

O problema aponta para outra questão mais ampla relacionada à crise climáica: o racismo ambiental, que impacta todo o estado, como relatou Aleteia Flávia Machado, moradora da comunidade tradicional quilombola ribeirinha da Volta da Capela, localizada na Bacia do Rio Doce. “As empresas responsáveis pelo crime (do Rio Doce) retiraram o rejeito da praça da cidade de Barra Longa e depositaram no campo de futebol da nossa comunidade, único local que tínhamos para lazer”, exemplificou a atingida. 

Participaram da conferência representantes de movimentos sociais, sindicatos e de mandatos de parlamentares de Minas Gerais.

Na capital mineira, que enfrentou neste fim de mês uma onda de calor com tempestades de granizo – antecedida por volumosas e repentinas enchentes, o alerta para o racismo ambiental também está na pauta do dia. O levantamento “Vulnerabilidade a ondas de Calor 2030”, realizado em 2023 pela Prefeitura de Belo Horizonte, apontou que os locais de maior vulnerabilidade socioeconômica, como Venda Nova, estão mais suscetíveis às crises climáticas. “É fundamental discutirmos a situação da nossa cidade. No ano passado, enfrentamos uma estiagem histórica de mais de 150 dias. É urgente que os governos ouçam e apliquem as soluções pensadas pelo povo para enfrentar essa crise”, pontuou a vereadora da capital, Luiza Dulci (PT). 

Propostas e próximos passos

Ao fim da Conferência Livre de Meio Ambiente, foram elaboradas dez propostas para serem apresentadas no debate nacional. As sugestões estão incorporadas dentro de eixos temáticos, como justiça climática e superação das desigualdades, governança ambiental com participação e controle social, entre outros.

Uma das resoluções consensuadas em Minas Gerais é avaliar os impactos do desmatamento produzido pela mineração e pelas siderurgias na intensificação da crise climática. Também foi proposta a criação de um Fundo direcionado à  reparação de comunidades atingidas. Como sugestão para a transição energética e climática, foi apresentada a proposta de otimizar e garantir o múltiplo aproveitamento energético de bacias d’água em barragens através de usinas solares flutuantes, a partir do exemplo do Projeto Veredas Sol e Lares.

Usina Fotovoltaica Flutuante Veredas Sol e Lares, na PCH de Santa Marta em Grão Mogol, interior de Minas Gerais. Foto: Divulgação/Creral

Além disso, foi eleito um representante para apresentar no encontro nacional as ideias e propostas debatidas. Thiago Alves, integrante da coordenação nacional do MAB, será o encarregado da tarefa.

“Nosso objetivo é garantir avanços para que nós não sejamos mais mortos pelas consequências desses projetos de exploração. Temos soluções para enfrentar a crise climática e alternativas para garantir uma transição energética justa e popular”, pontuou. 

Além do MAB, a conferência também contou com a participação da Central de Movimentos Populares (CMP), a Central Única do Trabalhadores (CUT), a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Minas Gerais (FETRAF), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG),  a Educafro, o Movimento Camponês Popular (MCP), o Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação (SIND-Ute), o Sindicato dos Empregados no Comércio de Ipatinga (SECI) e os mandatos parlamentares das vereadoras Cida Lima (PT), Luiza Dulci (PT) e da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).

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