MAB realiza pré-lançamento do livro de Flávia Amboss no marco dos 2 anos do atentado de Aracruz (ES)
Flavia era professora de sociologia e atuava pela reparação total dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Mariana na Bacia do Rio Doce
Publicado 27/11/2024 - Atualizado 27/11/2024
No última última segunda, 25, data em que se completaram dois anos do atentado neonazista ocorrido em duas escolas do município de Aracruz (ES), o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) realizou o pré-lançamento do livro “Imprensados na crise: A gestão das afetações no desastre da Samarco (Vale-BHP)”, fruto da tese de doutorado de Flávia Amboss, militante do MAB e uma das professoras vitimadas no ataque.
O livro faz parte da coleção “Água, Energia e Sociedade”, parceria do MAB com a Editora Expressão Popular, e discute os impactos socioambientais resultantes da gestão coorporativa das empresas ao lidarem com a reparação aos atingidos pelo crime na Bacia do Rio Doce com o rompimento da Barragem de Fundão em Mariana/MG, em 2015. O MAB espera chamar atenção tanto para a luta dos atingidos pela lama de rejeitos, como para os crimes de ódio fruto do crescimento da extrema-direita no país, além de homenagear a memória de Flávia.
“A publicação é um importante instrumento para seguir divulgando a luta dos atingidos e eterniza a contribuição de nossa companheira para a luta da qual ela virou semente. Seguimos na luta por justiça para os atingidos pelo crime no Rio Doce e também para a reparação de todos atingidos no massacre de Aracruz, reforçando nossa tarefa histórica de combater o fascismo na sociedade”, afirma Juliana Nicoli, integrante da coordenação do MAB.
Uma carta escrita por Flávia durante o bordado de uma Arpillera em 2020, durante a pandemia, faz parte do livro e foi disponibilizada ao público como parte do pré-lançamento. Na carta, Flávia conta como o processo de escrita da tese se revezava com o bordado da Arpillera e as angústias vividas no momento da pandemia do coronavírus. Reforçava também a união das mulheres atingidas:
“Revezei o tempo de bordado com o tempo da escrita. Entre parágrafos escritos e reescritos, bordei um pedaço dessa Arpillera, que você recebe agora. Ver outros bordados Brasil afora, por outras companheiras, a gente se percebe grande frente aos problemas individuais e coletivos. Por isso digo companheira, vamos juntas, porque juntas somos mais fortes!”
A atividade foi realizada em Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (ALES), em Vitória, com objetivo de denunciar a falta de reparação adequada às vítimas do atentado às escolas e exigir justiça para o caso. A Audiência foi realizada através da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, proposta pelas deputadas Estaduais Camila Valadão e Iriny Lopes.
Entre as demandas dos familiares, comunidade escolar e movimentos sociais estão a punição de todos os envolvidos no crime, a reparação justa à todas as vítimas fatais e não-fatais e à toda comunidade escolar que foi atingida e sofre consequências físicas e psíquicas até hoje. Além da construção de um memorial às vítimas dos crimes de ódio no local onde funciona hoje a escola municipal Primo Bitti, local onde ocorreu parte do ataque.
Relembre o caso
Em 25 de novembro de 2022, um adolescente de 16 anos invadiu as instituições Escola Estadual Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), localizadas no bairro Coqueiral de Aracruz, na cidade de Aracruz (ES). Com símbolos neonazistas e munido de duas armas, uma do Estado e uma pessoal, ambas pertencentes ao pai membro da Polícia Militar do Espírito Santo, o assassino disparou diversas vezes fazendo quatro vítimas fatais e deixando outras dezenas feridas, utilizando ainda o veículo do pai para cometer os crimes. As vítimas fatais foram as professoras Cybelle Passos Bezerra Lara (45 anos); Maria da Penha Pereira de Melo Banhos (48 anos); Flávia Amboss Merçon Leonardo (36 anos) e a estudante Selena Sagrillo Zucoloto (12 anos).