MAB realiza pré-lançamento do livro de Flávia Amboss no marco dos 2 anos do atentado de Aracruz (ES)

Flavia era professora de sociologia e atuava pela reparação total dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Mariana na Bacia do Rio Doce


No última última segunda, 25, data em que se completaram dois anos do atentado neonazista ocorrido em duas escolas do município de Aracruz (ES), o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) realizou o pré-lançamento do livro “Imprensados na crise: A gestão das afetações no desastre da Samarco (Vale-BHP)”, fruto da tese de doutorado de Flávia Amboss, militante do MAB e uma das professoras vitimadas no ataque.

O livro faz parte da coleção “Água, Energia e Sociedade”, parceria do MAB com a Editora Expressão Popular, e discute os impactos socioambientais resultantes da gestão coorporativa das empresas ao lidarem com a reparação aos atingidos pelo crime na Bacia do Rio Doce com o rompimento da Barragem de Fundão em Mariana/MG, em 2015. O MAB espera chamar atenção tanto para a luta dos atingidos pela lama de rejeitos, como para os crimes de ódio fruto do crescimento da extrema-direita no país, além de homenagear a memória de Flávia.

“A publicação é um importante instrumento para seguir divulgando a luta dos atingidos e eterniza a contribuição de nossa companheira para a luta da qual ela virou semente. Seguimos na luta por justiça para os atingidos pelo crime no Rio Doce e também para a reparação de todos atingidos no massacre de Aracruz, reforçando nossa tarefa histórica de combater o fascismo na sociedade”, afirma Juliana Nicoli, integrante da coordenação do MAB.

Uma carta escrita por Flávia durante o bordado de uma Arpillera em 2020, durante a pandemia, faz parte do livro e foi disponibilizada ao público como parte do pré-lançamento. Na carta, Flávia conta como o processo de escrita da tese se revezava com o bordado da Arpillera e as angústias vividas no momento da pandemia do coronavírus. Reforçava também a união das mulheres atingidas:
“Revezei o tempo de bordado com o tempo da escrita. Entre parágrafos escritos e reescritos, bordei um pedaço dessa Arpillera, que você recebe agora. Ver outros bordados Brasil afora, por outras companheiras, a gente se percebe grande frente aos problemas individuais e coletivos. Por isso digo companheira, vamos juntas, porque juntas somos mais fortes!”

A atividade foi realizada em Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (ALES), em Vitória, com objetivo de denunciar a falta de reparação adequada às vítimas do atentado às escolas e exigir justiça para o caso. A Audiência foi realizada através da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, proposta pelas deputadas Estaduais Camila Valadão e Iriny Lopes.

Entre as demandas dos familiares, comunidade escolar e movimentos sociais estão a punição de todos os envolvidos no crime, a reparação justa à todas as vítimas fatais e não-fatais e à toda comunidade escolar que foi atingida e sofre consequências físicas e psíquicas até hoje. Além da construção de um memorial às vítimas dos crimes de ódio no local onde funciona hoje a escola municipal Primo Bitti, local onde ocorreu parte do ataque.

Relembre o caso

Em 25 de novembro de 2022, um adolescente de 16 anos invadiu as instituições Escola Estadual Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), localizadas no bairro Coqueiral de Aracruz, na cidade de Aracruz (ES). Com símbolos neonazistas e munido de duas armas, uma do Estado e uma pessoal, ambas pertencentes ao pai membro da Polícia Militar do Espírito Santo, o assassino disparou diversas vezes fazendo quatro vítimas fatais e deixando outras dezenas feridas, utilizando ainda o veículo do pai para cometer os crimes. As vítimas fatais foram as professoras Cybelle Passos Bezerra Lara (45 anos); Maria da Penha Pereira de Melo Banhos (48 anos); Flávia Amboss Merçon Leonardo (36 anos) e a estudante Selena Sagrillo Zucoloto (12 anos).

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