Lideranças indígenas e organizações protestam na COP29 para denunciar impactos da Ferrogrão

Manifestantes denunciaram os impactos da infraestrutura de escoamento da soja na Amazônia

Manifestantes se reuniram na Zona Azul da COP29, onde ocorrem as negociações oficiais, encontros de grupos de trabalho e sessões plenárias. Foto: Maria Paula Fernandes / Uma Gota no Oceano

Lideranças indígenas e organizações realizaram uma manifestação na COP29, em Baku, capital do Azerbaijão, para denunciar os impactos do projeto da Ferrogrão e de outras obras de infraestrutura na Amazônia. O protesto, realizado nesta quinta-feira (21), foi organizado na Zona Azul do evento, espaço onde ocorrem as negociações oficiais, reuniões de grupos de trabalho e sessões plenárias da conferência climática. Nessa área, representantes dos países se reúnem para discutir e negociar acordos e tomar decisões.

Ferrogrão, ferrovia de 933 quilômetros de extensão, destinada ao escoamento de soja e milho, está prevista para ser construída entre os municípios de Sinop (MT) e Itaituba (PA), passando por áreas protegidas, como o território dos indígenas Munduruku. A ferrovia integra um sistema de transporte dos grãos, formado pelos portos instalados nos municípios de Itaituba e Santarém e pela rodovia BR 163, onde há intenso fluxo de caminhões no trecho entre Mato Grosso e Pará.   

Na manifestação, que atenta para os riscos socioambientais desses empreendimentos, Alessandra Korap, liderança indígena do povo Munduruku, foi a voz principal do ato ao ler uma carta do rio Tapajós para o mundo – documento que marcou o encerramento do 7º Grito Ancestral do Povo Tupinambá, no Pará, no último final de semana. Na carta, o rio ganha voz para fazer uma denúncia sobre os impactos das obras de escoamento de soja na Amazônia.

“Na Praia do Mangue, uma das muitas aldeias Munduruku à minha margem, o pó de soja infesta o ar e suja minhas águas. Também me ameaçam com a construção de dezenas barragens e hidrelétricas, e ignoram os impactos dessa ação predatória sobre mim”, alerta um trecho do documento.

Na manifestação, Alessandra criticou a contradição entre o discurso climático do governo brasileiro na COP29 e as ações que promovem obras como a Ferrogrão. “Essas obras de logística não funcionam para a Amazônia e impactam negativamente a vida dos povos tradicionais”, alerta.  
  
O protesto ocorre em meio a ações de setores do governo brasileiro para acelerar projetos ferroviários, como a Ferrogrão. Nesta semana, o Ministério dos Transportes emitiu uma diretriz que transfere para a União o licenciamento ambiental dessas obras, buscando segurança jurídica para atrair investimentos. Organizações ambientais veem a medida como um retrocesso que ignora os impactos sociais e ambientais. 

Bruna Balbi, assessora jurídica da ONG Terra de Direitos, destacou o caráter excludente do planejamento dessas obras. “O problema dos grandes projetos de infraestrutura na Amazônia é que eles não são feitos para as pessoas e nem com a participação das comunidades que vivem lá. Demandamos que o governo brasileiro respeite e valorize as tradições e saberes dos povos que habitam esses territórios”, diz.  
  
Além das críticas à Ferrogrão, Balbi questionou a falta de inclusão das populações amazônicas nas decisões climáticas. “Essa é a grande questão hoje: é possível haver participação popular nas grandes tomadas de decisão sobre infraestrutura e metas climáticas? A justiça climática só será possível com a voz dos povos tradicionais”.

Participaram da manifestação as organizações Movimentos Atingidos por Barragens (MAB), Associação Pariri, representada por Alessandra Korap, Engajamundo e Terra de Direitos.  

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